12 Dezembro 2024
Três meses após o assassinato de Juan López, um trabalhador da igreja hondurenha e ativista ambiental cuja morte foi publicamente lamentada pelo Papa Francisco, os bispos da América Latina estão chamando a atenção para os ataques contra aqueles que lutam por justiça social no continente.
A reportagem é de Justin McLellan, publicada por National Catholic Reporter, 12-12-2024.
Três cardeais latino-americanos recém-criados juntaram-se ao cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, e a Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, no Vaticano, em 9 de dezembro, para lançar uma campanha intitulada "A Vida Pende por um Fio" ("La vida pende de un hilo"), que visa apoiar e promover os defensores dos direitos humanos.
A campanha, apoiada pela comissão pontifícia e pelo conselho de bispos latino-americanos, ampliará as histórias de defensores dos direitos humanos que foram ameaçados ou mortos; estabelecerá encontros de diálogo social entre líderes empresariais, sindicatos e representantes da igreja; organizará sessões de treinamento para ensinar habilidades de comunicação e negociação para ativistas; e fornecerá apoio concreto para iniciativas locais da igreja voltadas para a justiça social.
De 2013 a 2024, 38 líderes indígenas foram assassinados na Amazônia peruana, e mais de 500 casos de abuso contra crianças indígenas foram documentados, principalmente ligados a máfias que infiltram operações de mineração ilegal na região, disse o cardeal Carlos Castillo Mattasoglio, de Lima, Peru.
"A igreja não pode deixar de incentivar, inspirar e acompanhar iniciativas locais no mundo", afirmou ele. "Há tantas respostas, o povo não está calado, está se organizando, mas é desanimador fazer isso sozinho."
O cardeal Jaime Spengler, de Porto Alegre, Brasil, presidente do conselho de bispos latino-americanos, conhecido pela sigla CELAM, afirmou que no continente "há muitos líderes sociais e atores civis em risco".
"O sangue de centenas de líderes assassinados na América Latina e no Caribe clama por justiça, e não podemos permanecer indiferentes", disse ele. "Para honrar sua memória, temos o dever de tornar conhecidos seus esforços para denunciar a cultura da morte que se desenvolve a partir de um modelo econômico capitalista e extrativista e dos crimes transnacionais relacionados ao narcotráfico."
Czerny disse que o papel do Vaticano é apoiar a igreja na América Latina no enfrentamento dos problemas e encorajar a igreja em cada país a levantar sua voz contra a violência.
"É aí que os governos realmente ouvem", afirmou ele. "Nosso encorajamento é para as conferências episcopais, para os bispos, para aqueles que trabalham com eles, para levar esses casos, essas tragédias, essas atrocidades, à opinião pública e aos governos."
Por essa razão, as histórias dos defensores dos direitos humanos serão compartilhadas por meio da Plataforma para a Paz, Democracia e Direitos Humanos, organizada pelos bispos latino-americanos, que reúne organizações da igreja em toda a região para promover a paz e defender os direitos humanos.
Após debates amplos na década de 1970, a igreja declarou que "o desafio do Evangelho inclui a pregação da justiça social", disse Cuda. "A justiça social é o caminho real e efetivo de colocar (o Evangelho) em prática, com palavras e gestos."
Na América Latina, portanto, "esses mártires, que morrem pelo Evangelho, pelos documentos que o Santo Padre promulga e que vêm da Cúria Romana, como Laudato Si' e Fratelli Tutti: essas pessoas são os 'santos ao nosso lado', e devemos reconhecer, como o Santo Padre nos convida a fazer, a santidade também dessas pessoas, e não apenas daqueles que levam vidas ascéticas", afirmou ela.
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Bispos latino-americanos lançam campanha para proteger defensores dos direitos humanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU