Por: Patricia Fachin | 05 Dezembro 2024
“A saúde mental diminuiu em todo o mundo, especialmente entre as adolescentes”, disse o psicólogo americano Jonathan Haidt, ao comentar os principais pontos de seu livro A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais (Companhia das Letras, 2024), em entrevista ao jornal la Repubblica, reproduzida na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos – IHU. O diagnóstico do pesquisador é o mesmo do Ministério da Saúde da Suécia e de diversas escolas do país que baniram os smartphones das salas de aula e desistiram da educação 100% digital, investindo milhares de euros para retornar ao uso dos livros impressos.
O fenômeno não é novo. Nas últimas décadas, há um consenso entre os professores acerca dos efeitos nocivos do uso de celulares não só no aprendizado escolar, mas também nas relações interpessoais entre os estudantes, que estão mais ansiosos, solitários e depressivos. “As crianças não precisam destas ferramentas como os adultos. Você não precisa de internet no bolso 24 horas por dia, e não faz sentido protegê-los de jogos perigosos e depois colocá-los em contato não supervisionado com adultos desconhecidos que desejam abusar sexualmente deles”, defende Haidt. Na avaliação dele, antes dos 14 anos, crianças e adolescentes não necessitam de smartphones e, antes dos 16, deveriam ficar longe das redes sociais. A proposta, assegura, é “razoável e viável”.
Segundo o psicólogo e psicanalista Jorge Miklos, professor da Universidade Paulista (UNIP), os próprios jovens reconhecem as patologias que enfrentam e as associam ao uso excessivo das redes sociais. “31% dos jovens diagnosticados com ansiedade e 18% com depressão afirmam que o consumo de redes sociais digitais teve impacto direto em seu transtorno. Tais dados evidenciam que, entre jovens e adolescentes, tais meios de comunicação exercem uma forte influência na percepção e ação que possuem sobre a realidade prática de suas vidas”, disse na videoconferência “Sou visto, logo existo? A relação entre redes sociais e saúde mental em jovens e adolescentes”, promovida pelo Centro de Promoção de Agentes de Transformação – CEPAT em 2022.
De acordo com Haidt, as crianças estão sendo prejudicadas de diferentes maneiras por causa do contato constante e contínuo com as telas. “Alguns são vítimas de extorsão de adultos desconhecidos que desejam imagens sexuais, outros de desafios no TikTok para se distraírem, da perda de sono, de centenas de conexões virtuais que tiram tempo das reais, da comparação com outras, do enfraquecimento dos laços familiares, da falta de luz solar. As crianças precisam estar ao ar livre e brincar, mas em vez disso passam a maior parte do tempo a olhar para os seus telefones”, exemplifica.
As implicações da hiperconectividade na vida de jovens, adolescentes e crianças é o tema do debate promovido pelo IHU nesta quinta-feira, 05-12-2024. No evento, intitulado “Da hiperconectividade à anulação da infância. A saúde mental das crianças e jovens”, Guilherme Tenher Rodrigues, mestre em Geografia, apresentará a obra A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais.
“O livro escancara não só a correlação entre uma epidemia de ansiedade, depressão, solidão e automutilação na população mais jovem e o uso desenfreado dos celulares, como também demonstra como os smartphones, tablets e as demais telas do cotidiano agem na neuroplasticidade das crianças e adolescentes, reconfigurando suas habilidades cognitivas em momentos cruciais na formação de indivíduos capazes de sociabilizar, enfrentar desafios e, principalmente, solucionar problemas coletivamente, em outras palavras, algumas das características essenciais para uma sociedade democraticamente saudável”, resume Rodrigues.
Na sequência, Rejane Bastos, mãe de um menino, graduada em Administração de Empresas com ênfase em Recursos Humanos e secretária do IHU, e Lucas Luz, pai de um menino, professor da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e diretor adjunto do IHU, comentarão a obra à luz de suas experiências pessoais e profissionais com crianças, adolescentes e jovens. O evento será transmitido na página eletrônica do IHU, no YouTube e nas redes sociais às 17h30min.
O livro está disponível em PDF aqui.