‘Jogos de guerra’ e negócios de morte

Foto: Reprodução | Facebook | Volodimyr Zelensky

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04 Dezembro 2024

  • Se as guerras são consideradas, a nível mental, como uma espécie de “jogo”, seja político ou militar, é sinal de que se perdeu a vontade de chegar à raiz dos conflitos.

  • As palavras de Francisco e o relatório Sipri sobre o aumento do faturamento da indústria de armamento

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada em Religión Digital, 12-03-2024.

Eis o artigo.

Quero mostrar a hipocrisia de falar de paz e brincar de guerra. Em alguns países onde se fala muito em paz, os investimentos mais lucrativos são os das fábricas de armas. Essa hipocrisia sempre nos leva ao fracasso: ao fracasso da fraternidade, ao fracasso da paz. As palavras proferidas pelo Papa Francisco em 25 de novembro, para comemorar o 40º aniversário do tratado de paz entre Argentina e Chile que encerrou a disputa pelo Canal de Beagle, encontram uma nova confirmação trágica nos dados divulgados recentemente pelo SIPRI (Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo): a indústria de armamentos continua a crescer. As receitas aumentaram 4,2% no ano passado, chegando a 632 bilhões de dólares (+19% desde 2015). Infelizmente, sabemos bem a que outros números esse crescimento está associado: o número de mortos e feridos, tanto militares quanto civis, as cidades destruídas, os deslocados, o futuro roubado de gerações de jovens e a devastação ambiental.

Nas palavras do Bispo de Roma, esta referência é marcante: “brincar de guerra”. Se as guerras são consideradas, em termos mentais, uma espécie de “jogo”, seja político ou militar, é sinal de que se perdeu a vontade de ir à raiz dos conflitos. Perdeu-se o desejo de compreender suas causas para tentar solucioná-las. É um indício de que o valor da paz, a importância do diálogo e da negociação para resolver disputas foram esquecidos. Além disso, o jogo geralmente envolve competição, com um vencedor e um perdedor, o que é aceitável em um jogo de tênis ou xadrez. Mas quando os que “brincam de guerra” são os Estados, o que se contradiz é a própria ideia de fraternidade humana e o direito internacional.

Expondo a hipocrisia de quem lucra com a guerra sem considerar suas consequências catastróficas, o Papa Francisco faz um apelo urgente à consciência dos líderes políticos e de todos nós. Ele pede que deixem de fazer negócios à custa dos outros, da paz, e, portanto, dos mais fracos e de toda a humanidade.

É um apelo profundamente espiritual, que requer a oração intensa de toda a Igreja, especialmente neste tempo de Advento, para pedir ao “Príncipe da Paz” que inspire pensamentos, palavras e, sobretudo, ações que permitam viver com seriedade a vida política internacional. Precisamos olhar além, pensar no futuro, nas novas gerações. É necessário reconhecer que nosso mundo precisa urgentemente de “compromissos honrosos” – como o assinado entre Argentina e Chile, com a mediação do Vaticano há quatro décadas – e não de “jogos de guerra” motivados pela arrogância. Como afirmou o Papa Francisco: “Se Deus quiser que a Comunidade Internacional prevaleça pela força do direito através do diálogo, porque o diálogo deve ser a alma da comunidade internacional.”

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