13 Março 2024
"Justamente no contexto atual, em que o povo da paz parece cada vez mais silencioso, desamparado e desanimado, paradoxalmente a 'bolha de silêncio' pode tornar-se um instrumento precioso para dar voz e visibilidade ao nosso testemunho como discípulos do Príncipe da Paz", escreve o pastor batista Luca Maria Negro, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI), em artigo publicado por Riforma, 15-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Por ocasião do dia 24 de fevereiro, segundo aniversário da eclosão da guerra na Ucrânia, muitas igrejas cristãs e organismos ecumênicos, ao expressarem solidariedade com o povo ucraniano agredido pela Rússia de Putin, reiteraram a urgência de suspender imediatamente as hostilidades e finalmente iniciar um processo de paz sério, tanto naquela como em outras regiões do mundo. Em nome de todos, citamos o Conselho Mundial de Igrejas, do qual são membros 352 igrejas protestantes, anglicanas e ortodoxas de todo o mundo. Numa declaração datada de 23 de fevereiro assinada pelo secretário-geral, o pastor sul-africano reformado Jerry Pillay, o Conselho Ecumênico reitera a sua crença de que "a guerra é incompatível com a própria natureza de Deus e é contra os nossos princípios cristãos e ecumênicos fundamentais" e pediu uma cessação imediata do conflito. “No movimento ecumênico – concluiu o Pastor Pillay – rezamos por um empenho renovado das igrejas com a sua vocação de serem testemunhas contra a lógica prevalecente no mundo – a lógica da guerra e do poder imposto – e para aquela paz e plenitude de vida que Deus deseja para todo o povo de Deus”.
Mas como dar concretude a esse anseio de paz, que estou certo é partilhado não só pela maioria dos cristãos, mas por todos os homens e mulheres de boa vontade? Do global - o Conselho Ecumênico de Igrejas - permitam-me passar ao local, para ilustrar uma pequena, mas significativa iniciativa, levada a cabo em algumas cidades italianas por ocasião do aniversário da guerra na Ucrânia, tendo também em mente outros conflitos, sobretudo em Israel/Palestina. São as “bolhas de silêncio”, uma prática não violenta proposta pelo grupo “Embaixadores e Embaixadoras da Paz” da União Cristã Evangélica Batista da Itália, grupo iniciado no final do ano passado com um apelo por um 2024 de paz, ao qual aderiram cerca de cem pessoas, grupos e igrejas, não apenas batistas evangélicas, mas de todas as denominações cristãs.
O que é uma bolha de silêncio? É uma manifestação silenciosa que pretende “dar espaço ao desejo de paz que ali vive" para que possa existir "fora dos muros das casas e das igrejas e encontrar espaço nas ruas da cidade". A bolha do silêncio, explicam os promotores, “significa declarar o absurdo da guerra e da violência, do seu caráter machista e patriarcal, para alcançar todos aqueles que pretendem deixar-se envolver numa prática que respeite todos os seres vivos e o meio ambiente”. Concretamente, um grupo de pessoas reúne-se em semicírculo, num local público e de passagem, cada um portando uma placa com frases pela paz, e após um momento inicial de recolhimento permanece em silêncio, para depois concluir com um canto de paz.
Uma manifestação muito simples: alguns poderiam objetar que é demasiado simples, que é realmente pouco. Mas, justamente no contexto atual, em que o povo da paz parece cada vez mais silencioso, desamparado e desanimado, paradoxalmente a “bolha de silêncio” pode tornar-se um instrumento precioso para dar voz e visibilidade ao nosso testemunho como discípulos do Príncipe da Paz.
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Um silêncio que fala de paz. Artigo de Luca Maria Negro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU