27 Novembro 2024
O silêncio que acompanha a resistência de mulheres e homens no Irã tornou-se insuportável e encontra eco no resto do mundo. É nossa tarefa fazer ecoar o canto de liberdade e democracia no Irã.
O artigo é de Shady M. Alizadeh, advogada e ativista Mulher, Vida, Liberdade, publicada por Domani, 25-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em realidades como a da República Islâmica, mas também em muitas outras partes do mundo, as mulheres livres são consideradas um perigo. É por isso que somos chamadas de “loucas”. As mulheres iranianas, na realidade, são heroínas para todas nós, porque conseguem erguer a cabeça contra um regime belicista. Mulher, Vida, Liberdade não é apenas um lema, mas representa uma visão clara da sociedade e do mundo que assusta porque redesenha os limites do poder e dos poderosos e se contrapõe ao poder patriarcal e violento que só quer abusar e possuir nós, mulheres.
Nós, mulheres, relegadas às margens, encarnamos a hipótese obstinada e não mais clandestina de que uma sociedade alternativa sem violências, ódio, abusos e guerras é possível. O que o movimento representa uma clara convicção de que um mundo diferente é possível, um mundo que não nos odeie, e que acabe com essa guerra secular contra nós.
Há 45 anos, o povo iraniano está empenhado em uma resistência, também feminista, para a obtenção da liberdade, por um Estado iraniano democrático contra um regime que odeia suas próprias cidadãs e seus próprios cidadãos. Dois anos após o assassinato de Mahsa Jina Amini, testemunhamos violências contínuas, detenções, estupros, torturas, assassinatos e prisões contra aqueles que se manifestam em solidariedade às mulheres.
No mês de julho, o regime islâmico condenou à morte Sharifeh Mohammadi, sindicalista, e Pakhshan Azizi, ativista curda iraniana. A culpa deles é a de violar a segurança do Estado.
Desde 30 de julho, e todas as terças-feiras da semana, as mulheres no Irã fazem greve de fome promovida por Narghes Mohammadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2023, e outras ativistas presas na prisão de Evin para exigir o fim das execuções.
Ao longo dos anos, a teocracia tem reconhecido como inimigos da moralidade e do Estado estudantes, políticos, professores e advogados, mas, acima de tudo, vê na mulher seu principal inimigo.
O caso de Ahou DAaryaei é emblemático, pois seu nome significa “corça”. Ela foi detida e assediada pela polícia no campus da universidade em Teerã por causa de suas roupas. Algumas fontes dizem que ela foi empurrada, espancada e que suas roupas se rasgaram por causa disso. Em um ato de desobediência civil, Ahou decidiu tirar aquelas roupas, ficando inerme, em roupas íntimas, na frente dos guardas do regime islâmico. Foi descrita como mentalmente instável, louca e, portanto, levada à força para um hospital psiquiátrico. Lá, ficou trancada por dias.
“Louca”, essa foi a tese divulgada por jornais e emissoras de televisão ligados ao regime islâmico no Irã, mas também a tese divulgada por jornalistas na Europa e na Itália. A desobediência de Ahou foi considerada como o ato de uma louca e não como um gesto político.
Na realidade, no Irã, como em muitas partes do mundo, as mulheres livres são consideradas um perigo e, portanto, são chamadas de loucas. As mulheres iranianas são, na realidade, heroínas, para todas nós, porque conseguem erguer a cabeça contra um regime belicista.
Continuamos a ser julgadas simplesmente mulheres “diferentes” e, portanto, algo inferior. Isso também acontece em nossa cultura ocidental, onde o valor econômico de nosso trabalho e presença são desvalorizados e os nossos direitos sociais como cidadãs são reduzidos.
Estamos assistindo a um verdadeiro apartheid de gênero, como denuncia Narghes Mohammadi, em que nossos direitos são sistematicamente eliminados e nos tornamos cada vez mais marginais e marginalizadas.
É uma caça às bruxas contra a mulher livre, emancipada, que luta pelos últimos, pela justiça social e pela paz. A resistência não violenta das mulheres está criando problema para o regime islâmico do Irã, mas muitas vezes resulta estranha à política e à cultura do Ocidente.
Essa propaganda política continuou a perpetuar abusos e violências não apenas contra as mulheres, mas contra todos aqueles que questionaram a cultura do patriarcado ao longo das décadas.
Cultura, ou deveríamos chamá-la de costume que vai além de qualquer fronteira? Há 45 anos, as mulheres da República Islâmica do Irã são relegadas às margens da sociedade, em uma condição de subalternidade também marcada pela indiferença e pelo silêncio da comunidade internacional.
Esta, a nossa voz mulher, vida, liberdade, não encontra lugar na arena da política internacional.
O lema mulher, vida, liberdade ecoou nas ruas de todo o mundo e mostrou que queremos dar nossa contribuição porque é nosso direito contar!
O silêncio que acompanha a resistência de mulheres e homens no Irã tornou-se insuportável e encontra eco no resto do mundo. É nossa tarefa fazer ecoar o canto de liberdade e democracia no Irã.
Mulher, vida, liberdade sempre e em todo lugar!
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As mulheres livres são um perigo. No Irã e não só. Artigo de Shady M. Alizadeh - Instituto Humanitas Unisinos - IHU