26 Novembro 2024
O historiador e pesquisador argentino especializado na relação entre os Estados Unidos e a América Latina analisa a vitória eleitoral de Donald Trump e o impacto que terá em uma região que Washington continua considerando seu “quintal”.
A reportagem é de Santiago Mayor, publicada por El Salto, 24-11-2024.
Na terça-feira, 5 de setembro, Donald Trump venceu as eleições presidenciais nos Estados Unidos e voltará a ocupar a Casa Branca após quatro anos. Trata-se, sem dúvida, de uma vitória celebrada pelas extremas-direitas em todo o mundo, que voltam a ter um dos seus à frente do governo da principal potência militar do planeta.
Isso também implica uma mudança na orientação geopolítica dos Estados Unidos, marcada nos últimos anos pelo debate interno sobre como lidar com o ascenso econômico implacável da China. O pesquisador argentino Leandro Morgenfeld prevê que haverá um “recuo relativo” de Washington no âmbito global, mas que isso significará um fortalecimento de sua ingerência na América Latina. Um exemplo disso é a nomeação do senador da Flórida, Marco Rubio, que se tornou o primeiro hispano-americano — e especificamente cubano-americano — a liderar o Departamento de Estado.
Morgenfeld é doutor em História, professor da Universidade de Buenos Aires e co-coordenador do Grupo de Trabalho Estudos sobre os Estados Unidos do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO). Além disso, é autor de vários livros, entre eles Bem-vindo, Mr. President. De Roosevelt a Trump: as visitas de presidentes estadunidenses à Argentina (2021) e sua obra mais recente, Nossa América diante da Doutrina Monroe. 200 anos de disputas (2023).
Nesta entrevista, ele analisa as causas que levaram Trump a vencer as eleições, as transformações que ocorrerão na política diplomática, militar e econômica dos Estados Unidos, e como isso impactará o mundo, desde a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza, passando por Cuba e Venezuela, até a Argentina de Javier Milei, que depositou grandes esperanças na nova administração republicana.
Qual é a sua análise sobre a vitória de Donald Trump?
Trump terminou com aproximadamente 76 milhões de votos, enquanto Kamala Harris obteve 73 milhões. No voto popular, a diferença foi a favor do republicano. Ele havia conquistado 74 milhões de votos há quatro anos, ou seja, teve um leve aumento. A grande perda foi do Partido Democrata, que caiu dos 81 milhões de votos de Joe Biden em 2020.
Nesse sentido, a primeira coisa a destacar é que, há 20 anos, o Partido Republicano não ganhava o voto popular em eleições presidenciais. Além disso, venceu nos sete swing states [os estados decisivos que definem a eleição], controla ambas as câmaras do Congresso e terá uma Suprema Corte muito alinhada.
Quanto às causas, é importante evitar análises simplistas das eleições. Os Estados Unidos são uma sociedade muito diversa. Portanto, acredito que é muito reducionista explicar o voto por um único motivo: seja a economia, as políticas a favor ou contra o aborto, as questões étnico-raciais, etc.
O Partido Democrata fracassou novamente ao tentar centrar a campanha na acusação de que Trump é um neofascista ou um fascista direto, e no perigo que ele representa para a democracia. Por quê? Porque a democracia liberal está em crise em todo o Ocidente.
O fato de Trump ser um presidente condenado criminalmente; de ter tentado a invasão do Capitólio — ou seja, um golpe de Estado para não entregar o poder —; de não ter reconhecido as eleições interpela uma parte da sociedade. Mas para outra parcela significativa, especialmente os setores de menor renda, onde ele teve melhor desempenho, essa mensagem não chega.
Concordo com o que Bernie Sanders disse no dia seguinte às eleições: se o Partido Democrata abandonou a classe trabalhadora, não devemos nos surpreender que a classe trabalhadora abandone o Partido Democrata. Apesar de a grande maioria dos sindicatos terem apoiado a candidatura de Harris e do próprio Sanders ter feito campanha pelos democratas, isso não foi suficiente.
De qualquer forma, faço um apontamento: Trump obteve 76 milhões de votos, enquanto o eleitorado habilitado para votar era de 240 milhões. Ou seja, ele não chegou a um terço dos potenciais eleitores e, portanto, não conta com o apoio majoritário da população. Em 2016, ele já havia vencido com 27% do eleitorado total.
Se em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia — onde a diferença total entre os três estados foi de cerca de 250.000 votos — mais pessoas tivessem votado, principalmente aquelas que deixaram de apoiar o Partido Democrata, hoje estaríamos falando da presidente Kamala Harris. Então, não é que toda a sociedade estadunidense agora seja trumpista.
Acredito que há um mal-estar social, por diversas razões, que reflete a crise de hegemonia dos Estados Unidos, do sonho americano e da falta de perspectivas de ascensão social. É um país cada vez mais desigual, com 40 milhões de pobres, problemas de acesso à saúde e educação; e, acima de tudo, uma percepção de que já não são tão grandes quanto antes.
Apesar de fazer parte da elite, de ter Elon Musk — o homem mais rico dos Estados Unidos — em sua campanha, de ter reduzido impostos para os mais ricos em sua presidência anterior e piorado a distribuição de renda, Trump tem uma narrativa em favor do americano comum. Essa narrativa é muito eficaz ao criticar o Partido Democrata e ao se apresentar como parte desses setores menos favorecidos.
É talvez um dado curioso, mas o fato de que o historiador Allan Lichtman tenha errado suas previsões pela primeira vez desde 1984 (excetuando as peculiares eleições de 2000) parece indicar que as variáveis que permitiam prever um resultado eleitoral perderam eficácia. Isso representa uma mudança mais profunda na dinâmica política dos EUA, em que fatores antes determinantes já não o são?
Alan Lichtman vinha há 40 anos prevendo quem venceria as eleições, não por meio de pesquisas, mas com uma série de "chaves" — como ele as chama —, analisando diversas variáveis. Ele acertou todas, exceto as eleições de 2000, quando Al Gore venceu no voto popular por 500.000 votos, mas acabou perdendo para George Bush devido a uma decisão extremamente controversa da Suprema Corte na Flórida. Tirando essa ocasião, Lichtman previu que neste ano Kamala Harris venceria.
Por outro lado, Nate Silver, renomado estatístico, fundador e editor-chefe do portal FiveThirtyEight, apontou que esta seria uma eleição muito equilibrada, mas inclinou-se a favor de Trump, questionando as "chaves" de Lichtman por serem uma análise qualitativa.
Dito isso, acredito que tanto para os institutos de pesquisa quanto para os analistas, está cada vez mais difícil — no mundo todo — prever o comportamento eleitoral. É verdade que o sistema eleitoral dos Estados Unidos é peculiar, com voto voluntário e uma participação que, nas últimas décadas, oscilou em torno de 60%. Nas duas últimas eleições, houve um recorde de participação: 66% e 65%.
A dificuldade está, em parte, na leitura de uma nova subjetividade, interpelada pelas ultradireitas em geral e por Trump em particular. Elon Musk fez uma campanha muito intensa, direcionada sobretudo aos jovens, partindo de uma perspectiva hiperindividualista contra os veículos de comunicação, os partidos tradicionais e diversas organizações. Nessa narrativa, o Estado é apresentado como o elemento que atrapalha a vida das pessoas. Por isso, sua promessa é eliminar a burocracia estatal, desregular drasticamente a economia internamente em benefício dos mais ricos e regulá-la externamente para tentar recuperar a primazia que os Estados Unidos vêm perdendo há anos.
Há uma mudança muito profunda na sociedade e na subjetividade, relacionada a essa fase do capitalismo em que as empresas tecnológicas lideram o processo. Entre outras coisas, isso se reflete na dificuldade de prever os resultados eleitorais.
Em entrevistas e textos recentes, você destacou que uma das principais diferenças entre o Partido Democrata e o Partido Republicano está em sua política externa em relação ao principal competidor global: a China. Poderia explicar esse processo?
É importante dizer que, para toda a classe dominante dos EUA, o inimigo número um hoje é a China. O país asiático já supera os EUA em paridade de poder de compra, tem uma produção industrial muito superior, o dobro em exportações e mais patentes tecnológicas. Uma série de indicadores apontam para o ascenso chinês e o declínio econômico relativo dos EUA, o que leva a enfrentar essa nova circunstância com duas grandes estratégias distintas.
A estratégia globalista, implementada por Barack Obama com Hillary Clinton como secretária de Estado, promovia acordos de livre comércio (o Transatlântico e o Transpacífico) sem a participação da China, buscando isolá-la. A ideia era estabelecer regras para que Pequim aceitasse a ordem global imposta pelos EUA. Ou seja, integrá-los à economia capitalista global, mas sob o controle de Washington.
Esses acordos de livre comércio geraram muita resistência dentro dos EUA, tanto pela esquerda, liderada por Bernie Sanders, quanto pela direita, com o próprio Donald Trump. Quando ele venceu em 2016, esses acordos, embora assinados, não foram ratificados.
Então surge a estratégia da ala americanista e nacionalista, que rejeita essas políticas e parte para uma guerra comercial contra a China, tentando subjugar aliados por meio de coerção econômica e força político-diplomático-militar.
Houve elementos de continuidade nisso, pois quando Biden — vice-presidente de Obama — assumiu a presidência em 2021, ele não reverteu todas as tarifas impostas por Trump e continuou com a política de confronto.
Embora sejam estratégias distintas, nenhuma delas conseguiu reverter esse fenômeno.
Ao mesmo tempo, esse debate provocou mudanças dentro da classe dominante dos EUA, como se observa no apoio a Trump por grandes magnatas do Vale do Silício.
O que estamos vendo agora é uma guinada das elites do Vale do Silício, um setor tecno-feudal que busca avançar na desregulamentação da economia em benefício próprio e se apropriar de funções estatais. Com Elon Musk nomeado como funcionário da nova administração, podemos ver um salto para o controle direto do Estado.
Esses setores, que tradicionalmente apoiaram o Partido Democrata, agora em grande parte respaldam os republicanos, como é o caso do próprio Musk, Peter Thiel ou Jeff Bezos, dono da Amazon e do Washington Post. Bezos protagonizou uma polêmica dias antes das eleições, ao bloquear o pronunciamento do conselho editorial do jornal em apoio a Kamala Harris. Depois de muitas décadas, o tradicional jornal da capital dos EUA declarou-se neutro, gerando controvérsia.
Isso se alinha ao desejo desses magnatas de controlar o Estado e moldar a economia em função de seus interesses. Essa será uma das grandes batalhas dos próximos anos.
Todas essas tensões explicam os movimentos da classe dominante dos EUA.
Os últimos governos democratas se caracterizaram por um forte intervencionismo em nível mundial. Nesse sentido, o discurso de Trump, mais isolacionista e protecionista, poderia significar uma etapa de menor ingerência no exterior. Isso procede?
De fato, a facção globalista apoia o “multilateralismo unipolar”. Ou seja, para sustentar o poder e a hegemonia dos Estados Unidos em nível global, promovem instituições multilaterais e, no plano militar, incentivam a expansão da OTAN como braço armado do império.
O problema é que Washington iniciou guerras no século XXI que não consegue vencer, o que gerou resistências internas. Uma boa parte da população estadunidense não quer continuar enviando bilhões de dólares para sustentar Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, na guerra contra a Rússia, ou para apoiar o governo israelense de Benjamin Netanyahu.
Nesse cenário, entram não apenas eleitores de Trump, mas também a ala mais progressista do Partido Democrata, além da população árabe-norte-americana e, sobretudo, os jovens que protagonizaram ocupações em campi universitários e ações de protesto contra o apoio ao governo de Netanyahu — especialmente em alguns estados-chave —, afetando a votação em Kamala Harris. Vale lembrar que, como mencionamos anteriormente, perderam oito milhões de votos.
No caso de Trump, acredito que está sendo proposto um recuo relativo. Relativo porque o apoio a Israel será muito mais forte e direto. Mas também há uma tentativa de retomar negociações com o governo da Rússia para, por um lado, evitar uma guerra que não está sendo possível vencer na Ucrânia e, por outro, tentar enfraquecer a relação crescente entre Moscou e China.
Essa estratégia visa conter essa aliança que, junto com os BRICS, está enfraquecendo os Estados Unidos.
O problema é que isso vem acompanhado de um fortalecimento do domínio na América Latina. Isso se reflete na confirmação de Marco Rubio como secretário de Estado, o primeiro estadunidense de origem hispânica a ocupar o cargo. Ele é senador pela Flórida, cubano-americano, e tem posições extremas contra a Revolução Cubana, a Venezuela e todos os governos não alinhados.
Isso reforça a ideia do recuo relativo, pois envolve o aumento do orçamento militar — Rubio afirmou que manterão a paz pela força — para negociar com aliados e rivais em todo o mundo, mas reforçando a Doutrina Monroe e o controle absoluto sobre o que ainda enxergam como seu quintal.
Pode haver negociações para tentar retirar China, Rússia, Índia e outros atores extra-hemisféricos da área que consideram sua zona de influência exclusiva.
Sobre isso que você mencionou, durante o mandato anterior de Trump houve um recrudescimento da ingerência dos EUA na região. Podemos esperar uma intensificação desse tipo de políticas do Departamento de Estado em relação à América Latina?
De fato, no primeiro mandato de Trump, reverteu-se a política de distensão com Cuba iniciada por Obama; aumentaram-se as sanções contra a Venezuela, inclusive reconhecendo o “governo” de Juan Guaidó e tentando, em 2019, sob a liderança do conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, uma intervenção militar que foi resistida por outros países da região.
Além disso, ocorreu o golpe de Estado contra Evo Morales na Bolívia, e houve o reconhecimento do governo ilegítimo de Jeanine Áñez.
Houve também a proscrição de Lula no Brasil e o apoio do FMI à reeleição de Mauricio Macri, concedendo um crédito extraordinário, o maior da história do organismo, de mais de 50 bilhões de dólares em 2018. Apesar de não cumprir o acordado, o crédito foi prorrogado nos meses seguintes, sob influência de Mauricio Claver-Carone, conselheiro de Trump para a América Latina, com o objetivo de evitar o retorno do peronismo ao poder na Argentina.
Essa militarização da política dos Estados Unidos na América Latina, uma reivindicação explícita da Doutrina Monroe — declarada anacrônica pelo governo Obama —, sugere que voltarão com essa intenção. Como mencionado, a nomeação de Marco Rubio é uma tragédia para a América Latina.
Eles tentarão impor mais sanções contra a Venezuela — que haviam sido aliviadas pela administração democrata devido às necessidades de petróleo dos Estados Unidos —, tentando interromper a recuperação econômica venezuelana. Endurecerão ainda mais o bloqueio econômico contra Cuba.
Adotarão uma política de forte confronto com todos os governos não alinhados da região, buscando fortalecer as ultradireitas, começando por Javier Milei na Argentina e Nayib Bukele em El Salvador, além de fomentar o crescimento dessas forças no Brasil, Chile e outros países onde já demonstraram força eleitoral.
Implementarão uma política muito rígida em relação à migração, o que gerará uma bomba demográfica, especialmente na América Central e no Caribe.
E em termos econômicos? Como as medidas da administração Trump diretamente relacionadas à disputa com a China podem afetar os países latino-americanos?
Vejo uma política muito mais de bastão do que de cenoura, porque o que vimos nas últimas duas administrações — tanto de Trump quanto de Biden — é que os Estados Unidos têm cada vez menos a oferecer nesse sentido. A China é o primeiro ou segundo maior parceiro comercial de todos os países da América Latina. É um investidor e credor cada vez mais relevante.
Enquanto isso, Washington exerce mais pressão diplomática, militar, de inteligência e ideológica-cultural do que oferece incentivos econômicos para a região. Além disso, a política protecionista anunciada por Trump, que será muito mais rígida do que em seu primeiro mandato, afetará muitos países latino-americanos.
A política de aumento das taxas de juros dos Estados Unidos atrairá investimentos e capitais, mas criará um contexto econômico muito mais complexo e politicamente mais difícil.
Pode haver algumas contradições. Por exemplo, se Trump cumprir a promessa de impor tarifas de 60% sobre importações da China e de 20% para outros países, alguns acreditam que Pequim pode investir mais no México para exportar aos Estados Unidos através dessa rota.
Mas isso é algo muito específico, e Trump também pretende renegociar o Tratado de Livre Comércio entre México, Estados Unidos e Canadá (T-MEC), impondo mais condições e evitando essa triangulação que alguns esperam que beneficie a região.
De qualquer forma, insisto: o protecionismo comercial anunciado afetará as exportações de todos os países para os Estados Unidos; o aumento das taxas de juros, que visa atrair capitais e fortalecer o dólar, encarecerá o pagamento das dívidas dos países latino-americanos e levará à retirada de investimentos.
Além disso, a guerra comercial com a China, que pode causar uma queda nos preços das commodities, também prejudicará a América Latina.
Além das ações concretas de Washington, qual pode ser o impacto do resultado eleitoral nos Estados Unidos em termos ideológicos e no fortalecimento das expressões de direita e extrema direita na América Latina?
Acredito que isso é o mais grave. Em um processo de disputa global, surge uma revanche das ultradireitas, um avanço que reflete uma crise das democracias liberais.
Sem negar essa realidade, é necessário matizá-la em vários aspectos. Primeiro porque expoentes da ultradireita que chegaram ao poder, como Boris Johnson, Trump e Bolsonaro, depois perderam. Na França, a ultradireita teve um bom desempenho nas eleições europeias, mas uma frente antifascista conseguiu vencer as últimas eleições. No México, a democracia mais importante e populosa da Ibero-América, o partido Morena manteve o poder com Claudia Sheinbaum.
Portanto, é preciso relativizar a visão dos analistas que veem uma vitória eleitoral retumbante como uma tendência irreversível. No entanto, a vitória de Trump, apoiada em ataques contundentes contra conquistas de movimentos feministas, minorias sexuais, povos racializados e organizações que lutam contra as mudanças climáticas, além de uma agenda neoliberal, certamente empoderará figuras como Bukele e Milei. O próprio presidente argentino afirmou que há uma afinidade política clara.
Isso, obviamente, implicará uma ofensiva muito forte — que já está ocorrendo na Argentina — contra conquistas sociais históricas. O governo está atacando organizações populares, sindicatos e qualquer regulação econômica. A ideia é que o Estado só deve intervir para atender aos interesses dos mais ricos.
Outra novidade que vemos na Argentina, e também nos Estados Unidos com Elon Musk, é o Estado sendo administrado diretamente por seus próprios donos, sem qualquer mediação. Não seria surpreendente se Marcos Galperin, dono do Mercado Livre e um dos empresários argentinos mais poderosos, decidisse entrar diretamente na política, dada sua campanha fervorosa em favor de Milei.
Falando nisso, um dos mais explícitos ao celebrar a vitória de Trump foi o presidente argentino Javier Milei, que considera o magnata norte-americano o líder mais importante do mundo. Ele também espera que Trump o ajude a obter os dólares que a economia argentina precisa. Podemos esperar um apoio direto da Casa Branca ao experimento ultraliberal na Argentina? Qual será o papel do país do Cone Sul na agenda geopolítica dos EUA nos próximos quatro anos?
Certamente haverá um apoio político e possivelmente um apoio na renegociação com o FMI no próximo ano. Na verdade, o governo argentino espera até mesmo que cheguem novos fundos, permitindo manter o dólar controlado e reduzir significativamente a inflação até as eleições de meio de mandato em 2025.
Regionalmente, no entanto, Milei está relativamente isolado. Com a expectativa de vitória do Frente Amplio no Uruguai e considerando países como Colômbia, Brasil, México, Bolívia, Chile, Honduras, Guatemala, Vene zuela, Cuba e Nicarágua — nenhum deles se identifica como de direita.
Nesse sentido, Milei tenta afirmar que há muitos governos "vermelhos" na região e que ele é o único que resiste em um país importante, buscando apoio econômico.
No entanto, sua estratégia de negociação é muito fraca. Ele se subordinou completamente, e Trump é um negociador experiente. Se Milei busca ajuda já tendo cedido tudo, será difícil obter algo significativo. Como mencionado antes, a política econômica e comercial do novo presidente dos EUA impactará fortemente a Argentina, assim como em 2018, afetando exportações de aço, alumínio e biodiesel. Há uma grande ingenuidade política nesse aspecto.
Além disso, a submissão exagerada de Milei enfraqueceu o realismo que havia demonstrado recentemente ao se aproximar da China. Ele cancelou a viagem de sua irmã e chefe de gabinete, Karina Milei, ao país asiático, e o encontro com Xi Jinping — acordado durante a renovação do swap no meio do ano — está em dúvida.
O ressurgimento de Trump e a necessidade de enfatizar um alinhamento total com os EUA e nenhum com a China colocam Milei em uma posição de fraqueza. Ele não apenas entra em confronto com Pequim, mas também com o Brasil, os dois principais parceiros comerciais da Argentina.
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Leandro Morgenfeld: “A vitória de Trump vai empoderar os Milei e os Bukele” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU