21 Novembro 2024
Os organismos religiosos se reunirão novamente nesta terça-feira para denunciar que a cultura está em perigo, que “as forças do pecado, da ambição e da perversidade estão atuando” e para continuar exigindo que o governo cumpra com os direitos sociais e cesse as demissões dos trabalhadores do Estado. Teresa Parodi participará.
A reportagem é de Washington Uranga, publicada por Página|12, 19-11-2024.
A “Mesa ecumênica”, que vem se reunindo todas as terças-feiras em frente ao antigo Ministério do Desenvolvimento Social, em Lima e Moreno (CABA), fará isso nesta semana sob o lema “o pão da cultura”. O sacerdote católico Ignacio Blanco (Padres na opção pelos pobres, diocese de Quilmes) afirmou que “somos crentes e não crentes unidos na luta pela dignidade humana que o governo de Milei decidiu pisotear” e, por isso, “na terça-feira, às 15h30, vamos destacar o ‘pão da cultura’ que querem nos tirar, porque a cultura está em perigo com essas políticas de ajuste predatório”. Em diálogo com o Página|12, o padre confirmou que “Teresa Parodi estará conosco, e sua voz e sua luta por um país e um mundo mais justo se somarão à nossa oração semanal”.
Lili Isaguirre expressou que "como trabalhadora da cultura, professora e cantora do coletivo GLT (Grupo La Tranquera), acredito que estamos diante de uma realidade dolorosa que necessariamente nos interpela a ser visibilizada, marcando nossa posição diante dela”. E enfatizou que “essa realidade de nosso país é uma réplica de outras situações vividas em nossa América Latina”, motivo pelo qual “precisamos continuar acompanhando a dor daqueles que estão ficando desamparados, sem políticas de contenção alguma”. Ela lembrou que “toda terça-feira se constrói um momento de oração, música, emoção, abraços e, claro, de esperanças”.
O pastor Gerardo Oberman, da Pastoral Social Evangélica (PSE), denunciou ao Página|12 que “o avanço da grande aliança fundamentalista no mundo, que reúne os setores mais extremos da direita política com expressões religiosas ultraconservadoras afins e com uma teologia meritocrática desprovida de toda graça, fez ninho em nosso país”.
Acrescentou que “desde dezembro passado, as decisões tomadas a partir desse ninho apenas feriram e atingiram os setores mais frágeis de nossa sociedade, tirando até mesmo o pão de quem mais precisa”. Por esse motivo, destacou o pastor, “de diversos espaços de fé nos negamos a ser ‘as igrejas que calam’, como bem apontou León Gieco em sua canção ‘La memoria’". E, em resposta direta a uma afirmação do ministro Federico Sturzenegger, sustentou que “onde há necessidade não deve haver um mercado, mas amor, misericórdia, cuidado e acolhimento”.
Na terça-feira anterior, Evangelina Martínez, secretária adjunta da Junta Interna da ATE SENAF, denunciou diante dos participantes da Mesa “a angustiante situação que não apenas vivemos nós, trabalhadores e trabalhadoras do Estado, perseguidos, violentados e demitidos, mas também a situação dos setores sociais mais vulneráveis diante do desmonte das políticas públicas pela administração de Milei, que os condena à irreparável perda de direitos, aprofundando ainda mais as desigualdades sociais”. E, frente ao discurso que defende a extinção do Estado, afirmou que “pelo contrário, precisamos de mais e melhor Estado, mais e melhores intervenções no território, mais controle para frear o saque de toda a Pátria”. Para isso, declarou a dirigente, “devemos transformar o medo em organização, a angústia em luta e a indignação em vitória”.
A “Mesa ecumênica” é composta pela Federação Argentina de Igrejas Evangélicas (FAIE), Serviço Paz e Justiça (SERPAJ), Comissão Argentina para Refugiados e Migrantes (CAREF), Pastoral Social Evangélica (PSE), Movimento Ecumênico pelos Direitos Humanos (MEDH), Padres de Favelas, Padres na Opção pelos Pobres (COPP), Fundação Hora de Obrar e a Rede Nacional de Mulheres Argentinas Construindo Comunidade.
O pastor Leonardo Schindler, presidente da FAIE, que tem sido um animador permanente de cada um dos encontros da Mesa, denunciou que “hoje, em nosso país, o mundo do trabalho está abalado e maltratado pela realidade do pecado”. Porque “quando se obriga as pessoas a trabalhar em condições de absoluta precariedade, deixando-se explorar ou explorando a si mesmas; quando os direitos trabalhistas são apresentados como privilégios e quem luta por eles como privilegiados e privilegiadas; quando trabalhadores e trabalhadoras são demitidos sob o pretexto de economizar recursos que depois são desperdiçados no pagamento de juros de uma dívida externa ilegítima, contraída para a fuga de capitais; quando programas sociais são encerrados e seus trabalhadores e trabalhadoras são demitidos; quando tudo isso ocorre, é porque as forças do pecado, da ambição e da perversidade estão atuando. Não tenhamos dúvidas disso”, enfatizou.
E continuou dizendo que “eliminam postos de trabalho porque querem eliminar a justiça social, querem eliminar os direitos sociais porque isso não afeta os verdadeiros privilegiados, que são a casta que eles defendem”. “O pecado os domina e, por isso, maltratam quem trabalha”, concluiu Schindler antes de convocar novamente, da “Mesa ecumênica”, a insistir para que se “anteponham a justiça e o direito sobre o pecado e a maldade, para que o trabalho seja uma fonte de sustento, dignidade e direitos”.
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Argentina. Pelo “pão da cultura” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU