19 Novembro 2024
"'O dinheiro existe. A questão é que nós o gastamos muito e muito mal'. Essas são as palavras de Mariana Mazzucato, uma das economistas de maior autoridade no cenário internacional por seus estudos sobre como reformar o capitalismo para garantir um crescimento justo e sustentável. Professora da University College de Londres, ela foi nomeada pelo Papa Francisco como um dos membros da Pontifícia Academia da Vida (Pav), onde realizou um encontro sobre a teoria e a prática do bem comum nos últimos dias", escreve Lucia Capuzzi, jornalista italiana, em artigo publicado por Avvenire, 17-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O economista propõe um “roteiro” para a transição: “Os grandes são responsáveis por 80% das emissões: devem se encarregar das soluções. Os países de baixa renda não devem continuar a se endividar para combater o aquecimento global”.
“O mundo está observando vocês e esperando por sinais claros de que a ação climática seja uma questão central para as maiores economias do planeta”. Baku, por meio do responsável pelo clima da ONU, Simon Stiell, chama o Rio, onde os líderes dos Vinte Grandes se reunirão nos próximos dias. De suas indicações dependerá, em grande parte, o desvendamento do nó central da 29ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas: o montante de ajudas - ou Nova Meta Quantificada Coletiva (Ncqg) - a ser alocado aos países pobres para combater as emissões e se adaptar ao aumento global das temperaturas. Não são mais necessários bilhões de dólares, mas trilhões. O Sul Global está pedindo 1.300 por ano. Um valor estonteante no papel. No entanto, é menos do que - 1,4 trilhão - as economias do G20 destinadas como subsídios aos produtores de combustíveis fósseis em 2022. Para as nações vulneráveis, no entanto, os Grandes não estão inclinados a abrir os cordões da bolsa. Isso é demonstrado pelas difíceis negociações sobre a Ncqg: em uma semana, a minuta passou das 35 páginas iniciais para as atuais 25. O caminho para uma síntese compartilhada até sexta-feira é complicado.
“O dinheiro existe. A questão é que nós o gastamos muito e muito mal”. Essas são as palavras de Mariana Mazzucato, uma das economistas de maior autoridade no cenário internacional por seus estudos sobre como reformar o capitalismo para garantir um crescimento justo e sustentável. Professora da University College de Londres, ela foi nomeada pelo Papa Francisco como um dos membros da Pontifícia Academia da Vida (Pav), onde realizou um encontro sobre a teoria e a prática do bem comum nos últimos dias. Foi justamente a força-tarefa sobre as mudanças climáticas criada pela presidência brasileira do G20 que lhe pediu um roteiro para a transição ecológica, juntamente com Vera Songwe. “Os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões. Eles devem, portanto, assumir a responsabilidade por 80% das soluções. E eles têm perfeitamente condições de fazer isso. É uma questão de considerar o aquecimento global como uma questão de segurança nacional. Vamos pensar nas guerras: sempre é possível encontrar dinheiro para elas. A Alemanha, que não conseguia financiar a transição verde, gastou 190 bilhões em suprimentos de armas para a Ucrânia”, explica Mariana Mazzucato, que aponta algumas medidas muito concretas para avançar nessa direção.
Em primeiro lugar, uma reforma do sistema dos subsídios com a realocação daqueles destinados aos produtores de petróleo e gás. “O apoio público à indústria de uso intensivo de combustíveis fósseis deveria ser condicionado à descarbonização. Em geral, em vez de subsidiar setores específicos sem impor vínculos rigorosos a eles, os governos deveriam abrir novas oportunidades de mercado para todas as empresas, exigindo delas, porém, altos padrões para o meio ambiente, direitos dos trabalhadores e remuneração por meio de mudanças econômicas estruturais e reinvestimento dos lucros em pesquisa e desenvolvimento”. Em segundo lugar, a política climática deve se tornar o “negócio principal” do governo como um todo e não a reserva de um único ministério. “Isso significa, entretanto, que os governos precisam de espaço fiscal para os investimentos verdes. O aumento das receitas, o fechamento de brechas fiscais internacionais e a introdução de novas taxas globais são ferramentas que devem ser usadas de forma independente e coletiva”.
Fundamental, a colaboração entre países para atingir uma meta global, “também na forma de acordos para a transferência de tecnologias verdes e de apoio à criação de sistemas de produção ecológicos em nações de baixa e média renda”.
Essas últimas são vítimas do chamado “duplo risco”, a dupla disfuncionalidade do sistema. Ou seja, para aqueles que têm menos responsabilidade, o aumento das temperaturas causa as consequências mais extremas que, por sua vez, aumentam o risco e, portanto, o custo de empréstimos e investimentos.
“Para os países de baixa e média renda, serão necessários financiamentos facilitados adicionais de longo prazo e subsídios”. Na abertura da COP, o Papa pediu o cancelamento da dívida. “As nações pobres não deveriam ser obrigadas a aumentar sua carga de dívidas para reduzir as emissões.
A eliminação dos passivos poderia ser condicionada ao compromisso dos respectivos governos de fazer sua parte em termos de gastos com serviços essenciais e a transição”, conclui ele. “Seria bom para todos: a inércia nos levaria a um aumento de 3 graus até o final do século, cujos impactos queimariam 18% do PIB mundial em 2050”.
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Baku chama o Rio, apelo da COP ao G20. Mazzucato: “O dinheiro para o clima existe”. Artigo de Lucia Capuzzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU