07 Dezembro 2023
"Em síntese: a pegada ecológica não pode superar a biocapacidade e a humanidade não pode ultrapassar as fronteiras planetárias. O mundo precisa não apenas investir na diminuição das desigualdades e em um modelo de produção sustentável para resolver os problemas ecossociais, mas também necessita planejar, no longo prazo, o decrescimento demoeconômico global e uma transição energética rápida, com o abandono gradual dos combustíveis fósseis", escreve José Eustáquio Diniz Alves, Doutor em demografia, em artigo publicado por EcoDebate, 06-12-2023.
“Crescimento pelo crescimento é a ideologia da célula cancerosa” – Edward Abbey (1927-1989)
Os 10 países mais populosos do mundo tinham 57% da população global e respondiam por 62% das emissões de carbono em 2021.
Apenas 1 tinha renda per capita alta (acima de US$ 30 mil), 5 países tinham renda per capita média (entre US$ 10 mil e US$ 30 mil) e 4 países possuíam renda per capita baixa (menos do que US$ 10 mil) em 2022. Em geral, os países menos populosos possuem renda per capita mais elevada, emissões per capitas mais elevadas, mas emissões totais de carbono em menor montante.
O gráfico abaixo, com dados da projeção média da Divisão de População da ONU (revisão 2022), mostra a população dos 10 países mais populosos entre 1950 e 2100. Até 2022, a China era o país mais populoso, mas foi ultrapassado pela Índia em 2023. Os Estados Unidos da América (EUA) são o terceiro país mais populoso atualmente, mas serão ultrapassados pelo Paquistão e pela Nigéria. A Indonésia está em 4º lugar, mas cairá para o 6º lugar. A Rússia ocupava o 4º lugar e vai cair para o 10º lugar, sendo superada por Bangladesh e pelo México.
Mas além destes 10 países que são os mais populosos em 2022, no final do século XXI haverá outros 4 países que vão alterar a lista dos mais populosos em 2100. Entrarão no ranking: a República Democrática do Congo, a Etiópia, a Tanzânia e o Egito. Sairão da lista o Brasil, Bangladesh, Rússia e México.
O gráfico abaixo, com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), mostra a renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra, para os 10 países mais populosos em 2022. Nota-se que apenas os EUA tinham renda elevada, vindo a Rússia em seguida com menos da metade do valor da renda dos EUA. Ainda com renda média aparecem México, China, Brasil e Indonésia. Os demais países aparece com renda per capita abaixo de US$ 10 mil.
O gráfico abaixo, com dados do The Global Carbon Project, mostra as emissões de carbono dos 10 países mais populosos, entre 1950 e 2022. Nota-se que os EUA eram responsáveis pela maior parte das emissões durante todo o século XX, mas foi ultrapassado pela China no século XXI. A Índia ultrapassou a Rússia e já ocupa o 3º lugar, caminhando para ultrapassar os EUA até o final da década de 2030.
A tabela abaixo resume os números para 2022, apresentando os dados da população, da renda per capita e da emissão de carbono (para 2021). A China, que ainda era o país número 1 em termos demográficos, conseguiu aumentar a renda per capita e, consequentemente, passou a liderar com larga margem as emissões de carbono. A China sozinha emite mais do que os outros 9 países em conjunto.
Os EUA continuam no 2º lugar nas emissões, mas com tendência de queda, enquanto a Índia já está no 3º lugar com tendência de alta. Contabilizando as emissões por área geográfica a Índia já passou os EUA, pois as emissões indianas por km2 são maiores do que as americanas. Os países que menos emitem são aqueles de baixa renda e alta proporção da população em situação de pobreza. Para os grandes países de renda baixa, o grande desafio é vencer a pobreza sem disparar as emissões de gases de efeito estufa.
O gráfico abaixo, do site Our World in Data, mostra que a extrema pobreza diminuiu bastante nas últimas décadas, com especial conquista da China que tinha mais de 80% da população abaixo da linha da pobreza extrema no início da década de 1980 e, praticamente, reduziu para um índice próximo de zero. O lado problemático é que a China diminuiu a pobreza com um avanço enorme nas emissões, ou seja, a China não conseguiu um modelo de desenvolvimento sustentável e se tornou o principal poluidor do Planeta.
A Índia conseguiu reduzir a pobreza extrema de 60% para 10%. O Paquistão apresentou uma queda ainda maior. Mas a Nigéria apresentou uma pequena redução da pobreza, passando de 48% em 1985, para 58% em 1996 e para 31% em 2018. Ou seja, os países populosos de baixa renda emitem em menor quantidade, mas convivem com níveis de pobreza mais elevados.
Os gráficos abaixo mostram a correlação entre a população e a emissão de carbono e a população e a renda per capita, em 2022. Nota-se que as emissões crescem com o tamanho da população, indicando que o tamanho demográfico do país afeta o montante das emissões (painel da esquerda). Mais de 50% das emissões de carbono estão correlacionadas com o tamanho da população. Já a renda per capita tende a apresentar um leve declínio com o tamanho da população (painel da direita), ou seja, é mais fácil reduzir ou eliminar a pobreza em países com menor volume demográfico.
Estes números mostram que não é fácil resolver os problemas sociais e ambientais de maneira conjunta. Em geral, quando os países vão subindo a escada do nível de renda, conseguem reduzir a pobreza extrema, mas aumentam as emissões de carbono.
Um desenvolvimento com justiça social e sustentabilidade ambiental parece ser uma impossibilidade no modelo de produção atual de bens e serviços. O tripé da sustentabilidade (social, econômico e ambiental) virou um trilema e o desenvolvimento sustentável virou um oximoro. Como disse Jean-Jacques Rousseau (1712-1778): “A civilização é uma corrida desesperada para descobrir remédios para os males que ela mesma produziu”.
Em síntese: a pegada ecológica não pode superar a biocapacidade e a humanidade não pode ultrapassar as fronteiras planetárias. O mundo precisa não apenas investir na diminuição das desigualdades e em um modelo de produção sustentável para resolver os problemas ecossociais, mas também necessita planejar, no longo prazo, o decrescimento demoeconômico global e uma transição energética rápida, com o abandono gradual dos combustíveis fósseis. Mas a COP28, em Dubai, não ficou à altura das necessidades do momento que a crise climática e ambiental impõe.
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, maio 2022. Disponível aqui.
ALVES, JED. Decrescimento demoeconômico com elevação da prosperidade social e ambiental, Ecodebate, 20/01/2023. Disponível aqui.
MARTINE, G. ALVES, JED. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou trilema da sustentabilidade? R. bras. Est. Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro, 2015 (em português e em inglês). Disponível aqui.
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Pobreza e emissões de carbono nos 10 países mais populosos do mundo. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU