13 Novembro 2024
Enquanto Donald Trump prepara desmonte de políticas climáticas, o chefe de uma das maiores empresas de petróleo dos EUA pede “bom senso” sobre compromissos internacionais.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 13-11-2024.
A manutenção dos EUA no Acordo de Paris ganhou um aliado improvável – mais ou menos – nesta 3ª feira (12/11). O presidente-executivo da ExxonMobil, Darren Woods, criticou a possibilidade de uma nova saída do país do regime climático e pediu “bom senso” ao presidente reeleito Donald Trump para permanecer nas negociações internacionais.
“A maneira de influenciar as coisas é participando [do Acordo de Paris] e não abandonando[-o]”, disse Woods em entrevista ao Wall Street Journal na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas de Baku (COP29), no Azerbaijão. O chefe da ExxonMobil sugeriu a Trump que, da mesma forma que no contexto doméstico, ele atue no cenário internacional em favor de uma abordagem mais cautelosa de transição energética.
Outro argumento de Woods é que o vai-e-vem dos EUA no Acordo de Paris cria incerteza e poderá atrapalhar as estratégias do Big Oil para aproveitar oportunidades da transição verde, como captura e armazenamento de carbono, hidrogênio verde e lítio. “Não acho que paradas e partidas sejam a coisa certa para as empresas. É extremamente ineficiente. Cria muita incerteza”, disse.
A fala de Woods representa a sinalização mais forte do setor de combustíveis fósseis sobre o futuro dos EUA no regime climático internacional. O setor foi um dos principais entusiastas da campanha de Trump e se prepara para aproveitar novas oportunidades de exploração de petróleo e gás com a derrubada das políticas e restrições implementadas pela gestão do presidente Joe Biden desde 2021.
Além de desmontar as políticas climáticas de Biden, Trump também prometeu retirar novamente os EUA do Acordo de Paris, medida tomada em seu primeiro governo, em 2017. Dessa vez, interlocutores do presidente reeleito também sinalizaram a possibilidade dos EUA deixarem não apenas o Acordo de Paris, mas também a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o que retiraria a diplomacia norte-americana das negociações sobre clima.
A incerteza em torno do futuro dos EUA nas negociações climáticas atrapalha as discussões em Baku. O NY Times destacou como os diplomatas norte-americanos estão atuando para minimizar as dúvidas e garantir, dentro do que é possível, que a ação climática seguirá ocorrendo no país independente da posição de Trump sobre o assunto.
Já a Bloomberg trouxe uma conversa com o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, sobre os efeitos potenciais do próximo governo norte-americano nos esforços da instituição para ampliar seu volume de financiamento para o clima. Segundo Banga, o Banco Mundial buscará o diálogo com a Casa Branca, mas não recuará de seus compromissos de financiamento climático.
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