12 Novembro 2024
Impasses entre países ricos e pobres ameaçam as negociações em torno do financiamento climático pós-2025, principal item da agenda da COP29 de Baku, no Azerbaijão.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 11-11-2024.
A Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP29) abriu nesta 2a feira (11/11) em Baku, no Azerbaijão, sob imensa pressão de países em desenvolvimento, ativistas climáticos e especialistas. Diplomatas de quase 200 países terão as próximas duas semanas para destravar algo que não conseguiram ao longo dos últimos 11 meses: definir o futuro do financiamento internacional para ação climática.
A pressão foi ressaltada logo na plenária de abertura da COP29 pelo secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), Simon Stiell. “Vamos acabar com a ideia de que o financiamento climático é caridade. Uma nova meta ambiciosa de financiamento é inteiramente do interesse próprio de cada nação, incluindo as maiores e mais ricas”, afirmou.
A urgência também foi destacada pelo presidente da COP29, o ministro azeri Mukhtar Babayev. “Estamos a caminho da ruína. E não se trata de problemas futuros. A mudança climática já está aqui. Precisamos muito mais de todos vocês. A COP29 é um momento da verdade para o Acordo de Paris”, disse. “Estamos na rota da ruína. [As mudanças climáticas] não são problemas do futuro”.
Em artigo no Guardian, Babayev defendeu uma mobilização internacional similar àquela observada em vários países durante a pandemia de COVID-19, quando cerca de US$ 8 trilhões foram destinados para apoiar cidadãos e empresas entre 2020 e 2021. Para ele, a urgência da crise climática justifica a medida.
“Para evitar danos humanos, ecológicos e econômicos mais graves, é crucial cortar as emissões antes que seja tarde demais. Sem investir em medidas de adaptação que fortaleçam as nações contra os impactos de eventos extremos, danos generalizados se tornam inevitáveis. Quanto maior o dano, mais custará aos países reconstruir. A prevenção é preferível à cura, mas nosso planeta já está doente. A ação imediata é crucial para deter um declínio maior”, escreveu o presidente da COP29.
As perspectivas de sucesso da COP29 na questão financeira ficaram ainda mais desafiadoras depois da vitória do ex-presidente Donald Trump nas eleições da semana passada nos EUA. Com a possibilidade diminuta de apoio norte-americano, os países desenvolvidos seguem reticentes a se comprometer com novas metas específicas de financiamento, o que é uma reivindicação dos países em desenvolvimento na COP29.
Eventual fracasso da COP29 em entregar um resultado positivo na questão financeira pode se tornar uma “casca-de-banana” para o Brasil, que sediará a próxima COP30 em Belém (PA) no ano que vem. Isso porque a revisão das metas climáticas nacionais, principal item na agenda em 2025, depende da oferta de recursos financeiros mais significativos, especialmente para os países mais pobres e vulneráveis.
“Não ter uma decisão sobre a nota meta quantificada coletiva de financiamento (NCQD, sigla em Inglês) agora põe o regime inteiro em situação de estresse e o Acordo de Paris na UTI. Se a COP29 não entregar isso, restaria só um ano para juntar as peças e chegar a Belém com alguma coisa sólida”, observou Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, ao jornal O Globo.
A abertura da COP29 de Baku teve grande repercussão na imprensa nacional e internacional, com matérias na Agência Brasil, Agência Pública, Capital Reset, Estadão, Exame, g1, ((o)) eco, Valor e VEJA, além de destaques na Associated Press, Bloomberg, Climate Home, NY Times e Washington Post.
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COP29 de Baku: financiamento climático “não é caridade”, defende chefe da UNFCCC - Instituto Humanitas Unisinos - IHU