23 Outubro 2024
"O significado positivo do acordo é manter um espaço, ainda que mínimo, para um diálogo institucional, para evitar a formação de um cisma chinês", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 22-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
"A Santa Sé e a República Popular da China, dado o consenso alcançado para uma aplicação frutuosa do Acordo Provisório sobre a Nomeação de Bispos, após consultas e avaliações apropriadas, concordaram em prorrogar a sua validade por mais quatro anos a partir de hoje. O Vaticano continua empenhado em continuar o diálogo respeitoso e construtivo com a China, para o desenvolvimento das relações bilaterais com vista ao bem da Igreja Católica no país e de todo o povo chinês”.
Este é o comunicado de imprensa que no dia 22 de outubro anunciou a renovação do acordo Sino-Vaticano sobre a nomeação de bispos. Uma confirmação não mais apenas por dois anos, como tem acontecido até agora, mas por quatro. Expirará em 2028. Um sinal de confiança crescente entre os dois interlocutores, embora com expectativas diferentes.
O governo chinês esperava tornar o acordo permanente num momento de crescente tensão com o Ocidente (principalmente os EUA) e os seus aliados na Ásia. A Santa Sé aguarda novas verificações. Em particular, a abertura de um escritório de representação em Pequim, o reconhecimento de todos os bispos “ilegais”, a definição do número de dioceses e a plena funcionalidade das relações.
A lentidão das propostas de nomes para o episcopado nos últimos anos e os movimentos desorganizados (o auxiliar de Jangxi e o bispo Shen Bin em Xangai) ameaçaram a implosão do acordo. Havia um clima de desconfiança. "Estamos a trabalhar há muito tempo – disse um dos protagonistas do Acordo – e esperamos alguns resultados em 30 ou 40 anos". Supõe-se que a resistência chinesa seja atribuível à Frente Unida (que gere os assuntos religiosos desde 2018 e está nas mãos do partido) e à Associação Patriótica Católica, e não ao Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao Governo.
O vento mudou em 2024 com três nomeações nos primeiros meses do ano (agora são 9 desde a renovação do Acordo em 2022), o reconhecimento legal do bispo "clandestino" Melchiorre Shi Houghzen (os reconhecidos são 8), a viagem de jornalistas e acadêmicos à China, quatro conferências dedicadas à Igreja no país (Milão, Roma, Macau), o lançamento de uma universidade católica em Hong Kong, a designação de dois bispos para a universalidade sínodo e, no fim de setembro, a visita a Xangai da delegação do Vaticano.
Os oito representantes do Vaticano e os oito chineses trabalharam durante três dias inteiros com base em uma agenda acordada.
Além dos diálogos e do encontro com o bispo local, D. Shen Bin, e com os líderes diocesanos, os representantes do Vaticano puderam encontrar-se com o clero e com D. Taddeo Ma Daqin que, após a sua nomeação em 2012, foi afastado do governo diocesano por suas críticas à Associação Patriótica e esteve por muito tempo em "prisão domiciliar" no seminário. Dom Claudio Celli abraçou-o diante de todos e presenteou-o com uma cruz peitoral do Papa. Todos entenderam a mensagem.
A delegação também pôde celebrar no santuário mariano nacional de Sheshan, com cerca de uma centena de pessoas presentes. Já houve algumas celebrações antes, mas não com o povo. O grupo também se reuniu com o bispo auxiliar de Pequim e com o próximo auxiliar de Xangai.
O ambiente descontraído permitiu que um membro da delegação dissesse que o resultado “foi melhor do que o esperado”. O otimismo, também manifestado pelo Papa na sua viagem de regresso da Ásia no passado dia 13 de setembro ("Estou feliz com os diálogos com a China, o resultado é bom também para a nomeação dos bispos").
O acordo é visto com desconfiança pelas chancelarias mais envolvidas na luta contra a China, a começar pelos Estados Unidos e Taiwan. Apoiado por aqueles que acusam a Santa Sé de silêncio pelas violações dos direitos humanos que ocorrem na China, como a repressão do budismo tibetano, dos uigures muçulmanos e de Hong Kong.
O significado positivo do acordo é manter um espaço, ainda que mínimo, para um diálogo institucional, para evitar a formação de um cisma chinês.
As palavras pronunciadas no Sínodo pelos dois bispos chineses presentes são indicativas. O bispo de Funing-Mindong, D. Vincenzo Zhan Silu, reivindicou a identidade da Igreja chinesa e os desafios pastorais. O bispo de Hangzhou, D. Joseph Yang Yongqiang, abordou o tema da “sinicização” do catolicismo.
As questões maiores giram em torno do pequeno elemento constituído pelo acordo Sino-Vaticano sobre a nomeação de bispos.
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Acordo China-Santa Sé: confirmação e relançamento. Artigo de Lorenzo Prezzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU