09 Outubro 2024
“O mundo segue olhando de lado. As armas nucleares são as armas mais perigosas. Podem destruir cidades inteiras, matando milhões de pessoas, colocando em perigo a vida das gerações futuras com os seus efeitos catastróficos a longo prazo. Na situação atual, isso pode acontecer. Que alguém pare a escalada!”, escreve Víctor Arrogante, analista político, em artigo publicado por Rebelión, 03-10-2024. A tradução é do Cepat.
O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o seu país estaria disposto a atacar um Estado não nuclear, como é o caso da Ucrânia, caso fosse apoiado por outro com armas nucleares, como os Estados Unidos. Propõe que a agressão contra a Rússia por qualquer Estado não nuclear, mas com a participação ou o apoio de um Estado nuclear, seja considerada um ataque conjunto contra a Federação Russa. Não é a primeira vez que o líder russo ameaça com o uso de armas nucleares, algo que a Ucrânia tachou como ruído de sabres nucleares.
Não se pode esquecer que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, afirmou perante a Assembleia Geral da ONU que o mundo inteiro é responsável pelo que está acontecendo em Gaza e na Cisjordânia por causa da venda de armas a Israel. “Parem o genocídio! Parem de vender armas para Israel! Esta loucura não pode continuar”, quando se completa quase um ano da guerra em Gaza, que deixou mais de 41.000 mortos, a maioria civis, mulheres e crianças.
Sou contra as armas, seja qual for a sua categoria, e considero que o que está acontecendo no mundo, com armas convencionais ou não, é uma das tragédias da humanidade. Alguém tem que parar a escalada, mas os que podem, não querem. A essa altura, apenas a Europa e os Estados Unidos poderiam deter as guerras de Israel e na Ucrânia. A União Europeia, os Estados Unidos e a OTAN em geral são os aliados centrais de Israel, uma vez que o estado sionista garante o poder do bloco na região. Israel precisa destes três atores e estes três atores precisam de Israel.
O mundo está novamente ameaçado pela guerra nuclear. A Coreia do Norte acaba de testar com sucesso um míssil balístico intercontinental que pode potencialmente transportar ogivas nucleares. Os Estados Unidos levantam a necessidade de responder a Kim Jong-un, mas todas as estratégias possíveis acarretam riscos imensos. Os Estados Unidos estão em pleno processo de modernização do seu arsenal. A iniciativa da ONU reflete a preocupação da comunidade internacional com as consequências humanitárias catastróficas que o emprego de armas nucleares acarretaria e, portanto, reconhece a necessidade de eliminá-las.
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, os países com armas nucleares implementaram uma estratégia de dissuasão, fundamentada no pensamento de que se as nações em conflito realizassem ataques nucleares em massa, resultaria em uma destruição mútua garantida. No entanto, existem armas nucleares táticas, que são ogivas menores projetadas para eliminar alvos específicos sem causar uma extensa contaminação radioativa.
A ameaça do presidente russo, Vladimir Putin, é categórica. A Rússia poderá a partir de agora responder com armas nucleares a um ataque convencional contra o seu território. É uma mensagem direta ao Ocidente, mas sobretudo aos Estados Unidos, a poucos meses de suas eleições presidenciais. Uma mensagem que, juntamente com a evolução negativa da guerra para Kiev, pode levar Washington a reconsiderar o seu envolvimento na guerra. Putin antecipa, assim, a possível decisão da Casa Branca em permitir que a Ucrânia utilize os seus mísseis de longo alcance contra o território russo, o último trunfo que Kiev tem para equilibrar de alguma forma uma guerra que já é muito difícil de vencer.
Os bombardeios atômicos sobre Hiroshima e Nagasaki foram ataques ordenados pelo presidente Harry S. Truman contra o Império do Japão, o que forçou a sua rendição e marcou o fim da Segunda Guerra Mundial. Morreram 105.000 e 120.000 pessoas e 130.000 ficaram feridas. O Japão, em 1967, e em honra às ações tomadas por TimHon Shung, adotou o que se conhece como os Três Princípios Antinucleares: princípio da não produção de armas nucleares; da não posse de armas nucleares; e da não autorização de armas nucleares em seu território.
A bomba atômica, ou bomba de fissão nuclear, se baseia na divisão de um núcleo atômico em dois ou mais núcleos pequenos, gerando uma reação em cadeia e a liberação de enormes quantidades de energia na forma de radiações gama e energia cinética. A bomba de hidrogênio (a bomba H) é uma bomba térmica de fissão/fusão/fissão ou bomba termonuclear, que se baseia na obtenção da energia desprendida quando dois núcleos atômicos se fundem, em vez da sua fissão. Para que a reação ocorra é necessário um aporte considerável de energia, que só pode ser proporcionado pela detonação inicial de uma bomba de fissão que funcione como um gatilho. O que faz da bomba H uma bomba atômica dupla.
Hiroshima foi escolhida porque não tinha sido bombardeada da forma tradicional pelos norte-americanos e porque desejavam testar o efeito da bomba atômica em uma das bases militares importantes. Este ataque também demonstraria a superioridade dos Estados Unidos sobre a União Soviética. A bomba foi lançada de paraquedas e explodiu a 580 metros do solo. Instantaneamente, entre 60 e 80.000 pessoas morreram e o calor foi tão intenso que algumas simplesmente desapareceram. Os radares japoneses detectaram os aviões norte-americanos, mas não os consideraram uma ameaça.
A bomba atômica de Hiroshima foi um dos acontecimentos mais graves e tristes da história mundial. A Segunda Guerra Mundial foi cruel como um todo e os ataques atômicos significaram o aumento da rejeição às ações bélicas e ao poder nuclear. A bomba de Nagasaki, com uma potência de 21 quilotons de dinamite, gerou níveis de explosão e calor que não podem ser comparados com os produzidos pelas armas convencionais.
Bertrand Russell, apoiado por Albert Einstein, apresentou o manifesto Uma declaração sobre armas nucleares. Em plena Guerra Fria, os onze cientistas e intelectuais de primeira linha signatários alertavam para o perigo da proliferação do armamento nuclear e solicitavam aos líderes mundiais que buscassem soluções pacíficas para os conflitos internacionais. “Cientes da constatação de que em uma eventual guerra mundial armas nucleares serão utilizadas, ameaçando a existência da humanidade, conclamamos os governos que aceitem, e que reconheçam publicamente, que os interesses de estados não podem ser alcançados militarmente”. Um ano depois, a bomba H era testada e depois a bomba de urânio, de plutônio, de nêutrons e a bomba suja de urânio empobrecido.
Foi necessário transcorrer mais de 75 anos desde o lançamento da primeira bomba atômica para que a ONU adotasse um tratado para proibir pela primeira vez as armas nucleares. Apesar disso, todas as potências atômicas boicotaram o acordo, apoiado por 122 países. Embora o tratado pareça que mal surgiu devido à oposição das potências nucleares, a intenção era assentar as bases jurídicas para que todas elas acabem reconsiderando a sua posição, com a estigmatização das armas nucleares aos olhos do direito humanitário internacional e a opinião pública. Os Estados Unidos usam a ameaça da Coreia do Norte como pretexto para boicotar o tratado, o que os forçaria a se desarmarem, caso o assinassem.
Para os defensores do novo tratado, a iniciativa marca o início do fim da era nuclear e supõe um passo histórico para deslegitimar este tipo de armamento. Os nove estados com capacidade nuclear que não participaram das negociações deste tratado (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Coreia do Norte, Índia, Paquistão e Israel) consideram que o tratado é uma medida pouco realista no tenso contexto internacional de hoje e não mudará nada.
Os signatários se comprometeram a não desenvolver, adquirir, armazenar, acolher em seu território, utilizar ou ameaçar utilizar armas nucleares ou outros explosivos nucleares. O principal argumento são as consequências humanitárias catastróficas que qualquer uso de armas nucleares teria, conforme aponta o preâmbulo do tratado, o que indica que eliminar completamente essas armas é a única forma de garantir que não voltarão a ser utilizadas.
Hoje, a ameaça de uma guerra nuclear é real e em maior medida do que durante a Guerra Fria. Uma grande parte dos cidadãos ignora o perigo que nos ameaça. Uma guerra nuclear seria catastrófica. Não vamos permitir que amarguem a nossa existência.
Para Moscou, a linha dos mísseis de longo alcance são um ponto sem retorno que não ficará sem resposta, caso os Estados Unidos e a Europa a ultrapassem. E a natureza dessa eventual reação pode ser definida pela reforma da doutrina militar nuclear russa anunciada por Putin. Nas próprias palavras de Putin: a agressão contra a Rússia por qualquer Estado não nuclear, mas com a participação ou apoio de uma potência nuclear, será considerada um ataque conjunto contra a Rússia.
A ameaça russa de uma guerra total coloca os Estados Unidos entre a espada e a parede acerca do uso de mísseis da OTAN por Kiev. Um ataque em massa com mísseis ocidentais de longo alcance contra Moscou ou alguma outra cidade, infraestrutura ou sistema vital da Federação Russa incluiria essa suposição. Na doutrina nuclear anterior, o uso de armas atômicas só era contemplado se “a própria existência” do Estado russo estivesse ameaçada. A resposta nuclear russa pode ocorrer, segundo a nova estratégia, face ao uso em massa de meios de ataque aeroespaciais contra a Federação, o que inclui não apenas mísseis ou aeronaves tripuladas, mas também drones.
O mundo segue olhando de lado. As armas nucleares são as armas mais perigosas. Podem destruir cidades inteiras, matando milhões de pessoas, colocando em perigo a vida das gerações futuras com os seus efeitos catastróficos a longo prazo. Na situação atual, isso pode acontecer. Que alguém pare a escalada!
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Contra a ameaça das armas nucleares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU