24 Setembro 2024
A informação é publicada por Religión Digital, 20-09-2024.
O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, afirmou nesta sexta-feira que o governo respeita, mas não concorda com as declarações feitas hoje pelo Papa Francisco, que criticou a falta de promoção de políticas sociais e o uso do protocolo antipiquetes contra manifestantes.
"É a opinião do Papa, a qual nós respeitamos, ouvimos e até refletimos sobre o que ele diz, mas não temos por que compartilhar a visão que ele tem sobre algumas questões. No entanto, o respeito é total e absoluto”, disse Adorni durante uma de suas habituais coletivas de imprensa na Casa Rosada, sede do Executivo argentino.
Durante um encontro com representantes de movimentos populares no Vaticano, por ocasião dos 10 anos do 1º Encontro Mundial de Movimentos Populares que celebraram com o pontífice para combater a exclusão social, o Papa expressou seu descontentamento com a recente repressão por parte das forças de segurança argentinas contra manifestantes que protestavam contra o veto presidencial a uma reforma da previdência.
"Gás de pimenta de primeira qualidade"
“Me mostraram uma filmagem de uma repressão de uma semana atrás, talvez menos. Trabalhadores, pessoas que pediam por seus direitos nas ruas, e a polícia os dispersava com uma coisa que é das mais caras, esse gás de pimenta de primeira qualidade”, afirmou Francisco.
“E eles não tinham direito de reivindicar o que era deles porque eram agitadores, comunistas, e o governo se impôs, e em vez de pagar justiça social, pagou o gás de pimenta. Foi mais conveniente. Tenham isso em mente”, concluiu.
Consultado sobre essas declarações, o porta-voz presidencial argentino destacou que a relação com o Papa “sempre foi muito boa” e mencionou o convite do Sumo Pontífice à ministra argentina de Capital Humano, Sandra Pettovello, que entregou na semana passada um relatório sobre a situação do país em áreas sob a responsabilidade da pasta, incluindo Desenvolvimento Social, Trabalho e Educação.
“A relação com o Papa é fantástica. O que não impede que aceitemos as diferenças e que aceitemos que não concordamos em todos os temas, e isso é bem-vindo, seja com ele ou com qualquer outro líder mundial", acrescentou Adorni.
Francisco, por sua vez, também comentou nesta sexta-feira um suposto caso de corrupção, após conversar com um "empreendedor internacional" que lhe disse que "estava fazendo investimentos na Argentina" e que, após uma reunião com um ministro do país, recebeu um pedido de suborno. “A propina. O diabo entra pelo bolso, não se esqueçam”, comentou o Papa.
Questionado se o governo investigaria essa denúncia, Adorni disse não saber "de onde vem o comentário" de Francisco, mas esclareceu que, se a Justiça considerar necessário investigar, "assim o fará". "Claramente, se houver algo a ser investigado, será investigado, claro", afirmou.
Finalmente, o porta-voz presidencial evitou polemizar quando foi lembrado dos insultos de Milei contra Francisco durante a campanha eleitoral do ano passado – quando descreveu o Papa como "o representante do maligno na Terra" – e afirmou que “essa é uma discussão superada” e que atualmente “a relação é muito boa".
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“Em vez de justiça social, gás de pimenta”: o ataque de Francisco a Milei - Instituto Humanitas Unisinos - IHU