27 Março 2024
Além disso, destacou a importância do Estado na busca por soluções comunitárias. Adorni saiu para responder ao Pontífice, dizendo que "há coisas com as quais nunca concordaremos".
A reportagem é de Washington Uranga, publicada Página12, 27-03-2024.
"Sem a cumplicidade de um setor do poder político, policial, judicial, econômico e financeiro, não seria possível chegar à situação em que se encontra a cidade de Rosário". A frase está incluída em um vídeo que o Papa Francisco divulgou através dos canais oficiais de comunicação do Vaticano e que tem como principal destinatária a população da cidade de Rosário. Há onze anos, Jorge Bergoglio está em Roma liderando a Igreja Católica. No entanto, em muitas ocasiões, ele demonstrou que continua acompanhando de perto o que acontece na Argentina, tem informações e se preocupa com o que está acontecendo aqui. "Em um momento de crise, como os que vive a cidade de Rosário, compreendemos a necessidade da presença das forças de segurança para trazer tranquilidade à comunidade", afirmou Francisco em sua mensagem. "No entanto, sabemos que no caminho da paz devem ser percorridas respostas complexas e integradas, com a colaboração de todas as instituições que compõem a vida de uma sociedade", e para isso "é necessário fortalecer a comunidade", destacou.
Não é um detalhe menor que o Papa tenha escolhido um vídeo como suporte para se comunicar diretamente com aqueles que vivem em Rosário. Ele sabe com certeza que uma peça audiovisual se viraliza mais rápida e facilmente do que um texto escrito. E Francisco pretendeu chegar com sua palavra a um público amplo e diversificado.
Também se valeu desta ocasião para ratificar várias das ideias centrais presentes em seu magistério. "É necessário reabilitar a política, que é 'uma altíssima vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum'", disse citando suas próprias palavras na carta encíclica Fratelli tutti. Para reafirmar o conceito, destacou que "todos os setores políticos são chamados a percorrer o grande caminho do consenso e do diálogo para gerar leis e políticas públicas que acompanhem um processo de recuperação do tecido social". Para isso, disse o Papa, "a alternância das gestões deve sustentar a continuidade dos processos de mudança".
Para isso, ele acrescentou: "todas as instituições sociais, civis e religiosas devem estar unidas para fazer o que sabemos fazer de melhor: criar comunidade. (...) O medo sempre isola, o medo paralisa. Não tenham medo de se comprometer junto com outros para serem uma resposta pacífica e inspiradora".
Nesse caminho, comprometeu a Igreja Católica, que "como Mãe e samaritana" é "chamada a acompanhar espiritual e organicamente os familiares das vítimas que perderam suas vidas devido à violência, acompanhar os doentes, acompanhar aqueles que sofrem com o flagelo das dependências e seus familiares, acompanhar aqueles que estão presos e depois precisam de um caminho de reinserção, acompanhar aqueles que vivem em situações de vulnerabilidade extrema".
Para o Papa, "todo povo tem em si mesmo as ferramentas para superar o que ameaça sua própria integridade, a vida de seus filhos mais frágeis". E após expressar sua proximidade com os rosarinos e enviar sua bênção, ele disse que "nestes tempos, o amor, a caridade será a mensagem mais explícita do Evangelho para uma sociedade que se sente ameaçada". Não sem antes reiterar que "é necessário fortalecer a comunidade" e que "ninguém de boa vontade pode se sentir excluído ou ser excluído da grande tarefa de fazer de Rosário um lugar onde todos possam se sentir irmãos".
Dado que a mensagem do Papa foi conhecida no início do dia, o porta-voz presidencial Manuel Adorni foi questionado sobre o assunto em sua coletiva de imprensa habitual. Na ocasião, o funcionário disse que a opinião de Francisco é "extremamente importante e respeitável", mas que "em muitos pontos provavelmente nunca estaremos de acordo com o Papa, e está tudo bem que seja assim".
Segundo o porta-voz, o Papa é "um líder espiritual; nós governamos a Argentina, e nessa distância entre ambas as funções é razoável que em muitas questões concordemos e em muitas outras não". Sobre o ponto, ele acrescentou que "temos a sensação de que ambos queremos o melhor para a Argentina, cada um a partir de suas funções e responsabilidades".
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Argentina. O Papa denunciou a cumplicidade da justiça e do poder político em torno do esquema do narcotráfico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU