17 Setembro 2024
O Papa recebeu líderes sindicais no Vaticano. Hector Daer (saúde) e Pablo Moyano (caminhoneiros) o visitaram, além de Marina Jaureguiberry (professores particulares) e Maia Volcovinsky (judiciário). Ele reafirmou a importância do trabalho, da justiça social e promoveu o trabalho em defesa dos direitos sociais. Mais tarde foi a vez da ministra do Capital Humano, Sandra Pettovello. Ele ainda não planejou sua eventual viagem à Argentina.
A reportagem é de Washington Uranga, publicada por Página|12, 17-09-2024.
O Papa Francisco começou a semana com muita cor argentina. Na manhã de segunda-feira, durante uma visita oficial à Biblioteca do Palácio Apostólico, Jorge Bergoglio conversou com uma grande delegação da CGT, liderada por dois dos seus três secretários gerais: Héctor Daer (saúde) e Pablo Moyano (caminhoneiros), Marina Jaureguiberry (professoras particulares) e Maia Volcovinsky (judiciária) também fizeram parte da delegação da CGT.
Os dirigentes sindicais ficaram satisfeitos com a conversa com Bergoglio, que destacou a importância do trabalho como motor da dignidade humana baseada nos direitos e na justiça social. Na ocasião, o líder religioso apelou também ao magistério eclesial, expresso na “doutrina social da Igreja” presente nos seus documentos, para convidar os sindicalistas “a não descansarem na busca pela distribuição justa das riquezas num mundo cada vez mais desigual”. Na conversa, que durou cerca de 35 minutos, Francisco partilhou também algumas reflexões baseadas nas experiências vividas em sua recente viagem aos países asiáticos.
Tal como afirma a CGT em comunicado, “os dirigentes sindicais manifestaram a sua visão sobre a preocupação com o desemprego e a pobreza que permite o avanço de flagelos sociais como a dependência e o tráfico de drogas”. O Papa convidou os visitantes a defenderem a unidade do movimento operário e sustentou ações destinadas a manter as fontes de trabalho. A CGT entregou-lhe um documento intitulado “Agenda para um novo contrato social. Argentina, rumo a um país com desenvolvimento, produção e trabalho”.
Houve também um debate sobre igualdade de gênero e incorporação de mulheres nos espaços de condução. Nesse sentido, Francisco valorizou e felicitou a presença de mais mulheres na liderança sindical e lembrou também que ele próprio encorajou um maior número de mulheres a também acederem a cargos importantes na estrutura do Vaticano.
Neste contexto, Jaureguiberry pediu ao Sumo Pontífice uma bênção especial para os professores de gestão privada e a sua intercessão para melhorar “as nossas condições de trabalho e de vida nas negociações com os nossos empregadores”. Disse ela: “Levo esse abraço, essa força e essa energia para que possamos continuar lutando pelos nossos direitos”.
Além dos mencionados no encontro com Francisco, Cristian Jerónimo (setor vidraceiro), Argentino Geneiro (gastronomia), Gerardo Martínez (construção), Juan Carlos Schmid (dragagem e balizamento), Jorge Sola (seguros), Andrés Rodríguez (UPCN), José Luis Lingeri (obras sanitárias) e Alejandro Gramajo do Sindicato dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP). Em resposta a este último, Francisco sublinhou o papel da UTEP a favor dos trabalhadores informais e da economia popular.
Na tarde da mesma segunda-feira, o Papa reuniu-se em entrevista privada na residência Santa Marta com a ministra do Capital Humano, Sandra Pettovello. A proximidade com as vozes argentinas também continuará na sexta-feira, oportunidade em que Francisco encontrar-se-á com Juan Grabois, no âmbito de um simpósio organizado pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano, do qual o dirigente é conselheiro por nomeação pontifícia.
Tanto da delegação sindical como do ministro do Capital Humano, o Papa recebeu mais uma vez o convite para visitar a Argentina, mas em ambos os casos, como também havia feito durante a recente viagem de regresso de Singapura, o pontífice preferiu adiar uma resposta definitiva, reiterando a sua vontade de ir ao país mas sem dar detalhes a este respeito. No avião que o trouxe da Ásia e em conversa com jornalistas, afirmou que “várias coisas devem ser resolvidas primeiro”.
Ao contrário do encontro com os dirigentes sindicais, o encontro que o Papa teve com a ministra Sandra Pettovello foi reservado e de caráter não oficial. Soube-se que a responsável entregou a Francisco um relatório sobre os esforços que tem realizado no seu ministério e, em geral, sobre as iniciativas que o governo de Javier Milei está promovendo em matéria social e educativa.
Pettovello aproveitou a oportunidade para reiterar a Francisco o convite do governo e, em particular, do presidente Milei, para visitar a Argentina, ao qual recebeu a mesma resposta que o Papa tem reiterado: a sua disponibilidade para vir, embora sem dar mais detalhes sobre o assunto.
Na próxima sexta-feira a Santa Sé será palco de um simpósio cujo título é “Plantar a bandeira contra a desumanização” e que se realiza para recordar o encontro que o Papa teve há dez anos em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) com movimentos sociais de todo o mundo e no qual lançou o slogan “os três T's: terra, teto e trabalho”. O evento é organizado pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano e pelo Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP) e Francisco terá uma intervenção central. Será a oportunidade para um novo encontro entre Francisco e o líder argentino Juan Grabois, a quem Bergoglio nomeou conselheiro no Vaticano.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Não devemos descansar na busca pela distribuição da riqueza, num mundo cada vez mais desigual”, afirma Francisco ao encontrar lideranças sindicais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU