11 Setembro 2024
Um estudo inédito feito pelo Instituto Pólis aponta que se a cidade de São Paulo destinasse imóveis ociosos e terrenos vazios localizados no centro da capital para projetos de habitação popular, mais de 202 mil famílias de baixa renda poderiam ser abrigadas na região.
A reportagem é de Mônica Bergamo, publicada por Folha de S.Paulo, e reproduzida na página do Facebook de André Vallias, 09-09-2024.
Os pesquisadores identificaram 87.427 mil domicílios inutilizados no centro paulistano, além de uma área equivalente a 2,51 milhões de metros quadrados de terrenos vazios que poderiam sediar a construção de 114,8 mil novas residências.
Somadas, as moradias seriam suficientes para acolher 100% da população que hoje vive em situação de rua na capital ou 91% dos moradores que residem em áreas de risco, segundo o Pólis.
O levantamento se baseou em números do Censo 2022 publicado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e na base de dados do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) paulistano de 2024.
O estudo ainda sugere que a exploração do potencial habitacional do centro de São Paulo seria estratégica para mitigar problemas relacionados ao clima.
A redução de viagens até a região central feitas diariamente pela população periférica teria um impacto direto nas emissões de gases de efeito estufa —atualmente, 64% das emissões na cidade são originadas por transportes de carga e de passageiros que usam combustíveis fósseis.
O Pólis estima que a promoção de moradias populares no centro teria poupado a emissão de 4,4 milhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, se considerado o padrão de deslocamento dos habitantes da capital entre 2002 e 2022.
"Usar os imóveis vazios do centro para abrigar a população de baixa renda é uma medida de justiça climática. Ao mesmo tempo em que reduz a emissão de gases do efeito estufa, a medida protege famílias que estão em risco e cumpre com a função social da propriedade, princípio da Constituição Federal", afirma o urbanista Rodrigo Iacovini, diretor do Instituto Pólis e coordenador da pesquisa.
O deslocamento de populações vulnerabilizadas para o centro, onde há maior concentração de empregos, comércios e serviços e uma infraestrutura de transporte melhor, também resultaria em ganhos significativos de qualidade de vida.
De acordo com o instituto, uma pessoa periférica e de baixa renda poderia economizar o equivalente a 2h35 por dia em deslocamentos se morasse na região central. O tempo poderia ser aproveitado em outros tipos de atividade, como lazer, educação e convívio familiar.
Se considerado um período de 40 anos de vida economicamente ativa, essa pessoa economizaria três anos em deslocamentos residindo no centro da cidade.
Fundado em 1987, o Instituto Pólis é uma organização sem fins lucrativos que promove pesquisas e discussões sobre políticas públicas e questões sociais urbanas.