26 Agosto 2024
Na audiência geral, a reflexão sobre o Batismo de Jesus e o significado da unção espiritual que se recebe com os sacramentos da iniciação “Também nós, às vezes, espalhamos apenas o mau cheiro do nosso pecado”.
O discurso do Papa Francisco na audiência geral é publicado por Avvenire, 22-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caros irmãos e irmãs, bom dia! Hoje vamos refletir sobre o Espírito Santo, que desce sobre Jesus no batismo no Jordão e dEle se espalha em Seu corpo, que é a Igreja. No Evangelho de Marcos, a cena do batismo de Jesus é descrita assim: “E aconteceu naqueles dias que Jesus, tendo ido de Nazaré da Galiléia, foi batizado por João, no Jordão. E, logo que saiu da água, viu os céus abertos, e o Espírito, que como pomba descia sobre ele. E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado em quem me comprazo.'” (Mc 1,9-11).
Toda a Trindade se reuniu naquele momento às margens do Jordão! Lá está o Pai, que se faz presente com sua voz; lá está o Espírito Santo, que desce sobre Jesus na forma de uma pomba; e lá está aquele que o Pai proclama como seu Filho amado, Jesus. É um momento muito importante da Revelação, é um momento importante na história da salvação. Será bom reler essa passagem do Evangelho.
O que aconteceu no batismo de Jesus que foi tão importante a ponto de todos os evangelistas o relatarem? Encontramos a resposta nas palavras que Jesus pronuncia, pouco tempo depois, na sinagoga de Nazaré, com clara referência ao evento no Jordão: “O Espírito do Senhor está sobre mim, por isso ele me ungiu” (Lc 4,18).
No Jordão, Deus Pai, “ungiu com o Espírito Santo”, ou seja, consagrou Jesus como Rei, Profeta e Sacerdote. De fato, com óleo perfumado eram ungidos no Antigo Testamento os reis, os profetas e os sacerdotes. No caso de Cristo, em vez do óleo físico, há o óleo espiritual que é o Espírito Santo, em vez do símbolo, há a realidade: há o próprio Espírito descendo sobre Jesus. Jesus foi preenchido com o Espírito Santo desde o primeiro momento de sua encarnação. Aquela, porém, era uma “graça pessoal”, incomunicável; agora, ao contrário, com essa unção, recebe a plenitude do dom do Espírito, mas para a sua missão que, como cabeça, comunicará ao seu corpo, que é a Igreja, e a cada um de nós. É por isso que a Igreja é o novo “povo real, povo profético, povo sacerdotal”. O termo hebraico “Messias” e o termo grego correspondente “Cristo” - Christós -, ambos referidos a Jesus, significam “ungido”: ele foi ungido com o óleo da alegria, ungido com o Espírito Santo. Nosso próprio nome “cristãos” será explicado pelos Padres no sentido literal: cristãos significa “ungidos à imitação de Cristo”.
Há um Salmo na Bíblia que fala de um óleo perfumado derramado sobre a cabeça do sumo sacerdote Aarão e que desce até a orla da sua veste (cf. Sl 133,2). Essa imagem poética do óleo que desce, usada para descrever a felicidade de viver juntos como irmãos, tornou-se realidade espiritual e realidade mística em Cristo e na Igreja. Cristo é a cabeça, o nosso Sacerdote, o Espírito Santo é o óleo perfumado, e a Igreja é o corpo de Cristo no qual ele se espalha. Vimos por que o Espírito Santo, na Bíblia, é simbolizado pelo vento e, de fato, recebe seu próprio nome a partir dele, Ruah - vento. Também vale a pena nos perguntarmos por que ele é simbolizado pelo óleo e que ensinamento prático podemos tirar desse símbolo. Na Missa da Quinta-feira Santa, ao consagrar o óleo conhecido como “Crisma”, o bispo, referindo-se àqueles que receberão a unção no Batismo e na Confirmação, diz: “Que essa unção os penetre e santifique, para que, libertos de sua corrupção nativa e consagrados como templo de sua glória, possam espalhar o perfume de uma vida santa”. É uma aplicação que remonta a São Paulo, que escreve aos coríntios: “Porque nós somos, diante de Deus, o perfume de Cristo” (2 Cor 2,15). A unção nos perfuma, e uma pessoa que vive com alegria a sua unção também perfuma a Igreja, perfuma a comunidade, perfuma a família com esse perfume espiritual.
Sabemos que, infelizmente, às vezes os cristãos não espalham o perfume de Cristo, mas o mau cheiro de seu próprio pecado. E nunca nos esqueçamos: o pecado nos afasta de Jesus, o pecado nos transforma em óleo ruim. E o diabo - não se esqueçam disso - geralmente, o diabo entra pelos bolsos - tenham cuidado. E isso, no entanto, não deve nos distrair de nosso empenho de realizar, na medida do possível e cada um em seu próprio ambiente, essa sublime vocação de ser o bom cheiro de Cristo no mundo. O perfume de Cristo emana dos “frutos do Espírito”, que são “amor, alegria, paz, magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, domínio de si mesmos” (Gl 5,22). Paulo disse isso, e como é bom encontrar uma pessoa que tenha essas virtudes: uma pessoa com amor, uma pessoa alegre, uma pessoa que cria paz, uma pessoa magnânima, não mesquinha, uma pessoa benevolente que acolhe a todos, uma pessoa boa. É bom encontrar uma pessoa boa, uma pessoa fiel, uma pessoa mansa, que não seja orgulhosa.... Se nos esforçarmos para cultivar esses frutos e quando encontramos essas pessoas, então, sem que percebamos, alguém sentirá ao nosso redor um pouco do perfume do Espírito de Cristo. Peçamos ao Espírito Santo que nos torne mais conscientes ungidos, ungidos por Ele.