24 Mai 2024
O Ministério do Meio Ambiente defende criação de mecanismos econômicos para que municípios invistam na prevenção e adaptação das cidades ante os efeitos das mudanças climáticas.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 24-05-2024.
O drama da catástrofe climática no Rio Grande do Sul não acabou, ainda mais com a previsão de mais temporais, como reportou O Globo. No entanto, a recuperação precisa começar, e apostar única e exclusivamente na engenharia civil é perder tempo e dinheiro. Assim, a recuperação gaúcha passa obrigatoriamente por mitigação e adaptação climáticas, com foco na prevenção, e pode servir de modelo para outras regiões.
“Temos que nos adaptar às mudanças do clima e temos que nos preparar, porque isso que está acontecendo agora, infelizmente, vai continuar acontecendo. Ano passado vimos duas vezes enchentes no Vale do Taquari e seca no Rio Grande do Sul, seca na Amazônia e cheia na Amazônia”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em fala durante a 25ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios, em Brasília. Ela também destacou a necessidade de medidas para prevenir e mitigar eventos extremos, como a redução do uso de combustíveis fósseis, do desmatamento e também a adoção de medidas para evitar a perda da biodiversidade, detalha a Agência Brasil.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA), junto a outros ministérios, prepara um Plano de Prevenção a Desastres Climáticos, que busca viabilizar recursos para que quase 2.000 municípios possam investir em ações para evitar catástrofes ambientais. Mas não há previsão de quando a proposta estará pronta, disse Marina à BBC, em entrevista reproduzida pela Folha.
Um desafio são os recursos financeiros. O MMA defende a criação de mecanismos econômicos para que os municípios invistam em prevenção e adaptação ante os efeitos das mudanças climáticas. Para a secretária nacional de Mudança do Clima do ministério, Ana Toni, o governo já está estruturado para disponibilizar verbas quando os municípios decretam calamidade pública, como no RS. Mas ela avalia ser necessário criar políticas que incentivem também os projetos de prevenção pelas cidades, destaca o Valor.
O BNDES tem estudos e iniciativas com o MMA para medidas de mitigação, adaptação e também para perdas e danos, disse o secretário de Planejamento do banco, Nelson Barbosa, em entrevista à Míriam Leitão na Globonews, repercutida n’O Globo. Quanto à recuperação do RS, Barbosa disse que os primeiros estudos mostram que o custo pode ser de R$ 70 bilhões a R$ 100 bilhões ao longo de 10 a 15 anos. Mas o número final ainda é uma incógnita.
Os custos econômicos de tragédias como a gaúcha também estão no radar das instituições financeiras. Que ainda não sabem o quanto terão de desembolsar diante do “novo anormal” – mas continuam financiando projetos de combustíveis fósseis que pioram a crise climática. “É só a ponta do iceberg, o começo do que vem pela frente”, disse o CEO do Itaú, Milton Maluhy, em referência à dimensão ainda desconhecida dos impactos do problema climático extremo e também sobre a possibilidade de eventos do gênero se tornarem mais frequentes, explica o Valor.
Outra lacuna é a falta de projetos de adaptação pelos municípios, informa o Valor. “Quem precisa apresentar esses projetos são as cidades. Uma das áreas que temos que trabalhar é na estruturação de projetos junto com os prefeitos porque não adianta ter o dinheiro se não tem projetos chegando”, afirmou Ana.
“Reconstrução atrai muito dinheiro, enquanto obras de prevenção são iniciadas em uma administração, mas quem leva o crédito é a seguinte”, disse José Marengo, pesquisador do CEMADEN, em evento da USP reportado pela Agência FAPESP. “Não temos como parar as chuvas, mas temos como salvar a população”, explicou o especialista, destacando que isso pode obrigar a realocação de cidades inteiras. Marengo afirmou que o Brasil gasta quase o triplo para remediar do que aplica em prevenir desastres. Entre 2013 e 2023, 1.997 pessoas morreram em decorrência de eventos extremos, com R$ 485 bilhões em prejuízos econômicos, enquanto os recursos para prevenção vêm diminuindo desde 2014.
“As cidades precisam se antecipar à crise do clima”, disse n’O Globo o coordenador do Subprograma de Mudanças Climáticas do PNUMA, Niklas Hagelberg. Que reforça que a catástrofe climática no RS mostra como eventos extremos podem impactar as comunidades.
“Os eventos contrastantes de seca na Amazônia e excesso de chuvas no Sul são lembretes gritantes da gravidade dos impactos climáticos. Eles ilustram a necessidade de estratégias de adaptação dinâmicas e flexíveis que possam enfrentar os diversos desafios enfrentados por diferentes regiões”, ressaltou.
Com mais chuvas em Porto Alegre, o nível do lago Guaíba, que caiu para menos de 4 m após 20 dias, subiu 14 cm, informa o g1, chegando a 3,96 m na madrugada de 5ª feira (23/5). A água voltou a alagar ruas do bairro Menino Deus, relata a Matinal, porque uma das estações de bombeamento operava abaixo de sua capacidade – e não houve alerta prévio da Defesa Civil para inundações. O número de mortos na tragédia climática do RS chegou a 163 em todo o estado, e ainda há 72 desaparecidos, relata a Folha.
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Tragédia no RS: recuperação precisa incluir adaptação climática e ser alerta para prevenção em todo o país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU