10 Mai 2024
A denúncia ocorre nesta quarta (8) em parceria com a rede de organizações da sociedade civil inglesa London Mining Work.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 07-05-2024.
Lideranças indígenas e ribeirinhos da Amazônia denunciarão os impactos da mineração em grande escala no Rio Amazonas em um evento na University College of London (UCL), na Inglaterra, nesta quarta-feira (8). A denúncia ocorre em parceria com a rede de organizações da sociedade civil inglesa London Mining Work.
Os Kayapó, que vivem na região oeste da Bacia do Xingu, os Munduruku, que vivem às margens do rio Tapajós, e os ribeirinhos e assentados do rio Trombetas irão expor os riscos causados por grandes empresas que extraem ouro e bauxita (matéria-prima para as latas de alumínio) na Amazônia e abastecem os mercados do Brasil, Europa e Ásia.
Segundo a denúncia, empresas que atuam na região obtiveram licença ambiental para funcionamento sem realizar a consulta livre, prévia e informada como prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para comunidades tradicionais.
Uma das minas de extração é a Coringa, da empresa britânica de mineração Serabi Gold, que fica a menos de 10 quilômetros de aldeias da comunidade indígena Kayapó, no sudoeste do Pará. A Justiça chegou a determinar à empresa a elaboração de um estudo de impactos, mas que não foi aceito pelas comunidades.
De acordo com Doto Takak Ire, presidente do Instituto Kabu, uma associação indígena que reúne 15 aldeias dos Kayapó do grupo Mekrãgnotí, também no sudoeste do Pará, a empresa “mostrou um texto preliminar que nossos técnicos questionaram”. No total, foram questionados 16 pontos, que não foram respondidos. “A Serabi insiste que o impacto é zero”, afirma o presidente. Após a ausência de respostas, duas aldeias romperam o acordo quando o prazo para a realização do estudo venceu.
O Brasil de Fato entrou em contato por e-mail com Serabi Gold para comentar a denúncia, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.
No noroeste do Pará, na Serra do Aramã, em Oriximiná, ribeirinhos de quatro comunidades tradicionais no Baixo Trombetas ainda convivem com os impactos deixados pela extração de bauxita, que foi encerrada em 2023. Os indígenas relatam que a atividade provocou desmatamento, escassez de alimentos e poluição das águas.
“Tem gente que foi embora porque não conseguia mais sobreviver aqui. Não tem caça, não tem peixe, não tem fruta. Quem foi embora, foi mesmo para trabalhar lá, na mineração. E deixou a família aqui”, lembra Jesi Ferreira de Castro, da comunidade São Francisco.
Entre o povo Munduruku, 57,9% apresentaram níveis acima dos limites considerados seguros de mercúrio no corpo, em um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), recentemente. O mercúrio é utilizado nos garimpos ilegais para separar o minério da lama retirada por dragas no leito do rio.
Na viagem idealizada pelo pesquisador Brian Garvey, da Universidade de Strathclyde, na Escócia, os grupos brasileiros também conhecerão comunidades locais afetadas pela mineração. “Uma coisa que os visitantes e as comunidades aqui têm em comum é a convicção de que a organização local e o fortalecimento das relações além-fronteiras são fundamentais para prevenir mais exploração e danos, não apenas onde vivem, mas à escala global”, diz Garvey.
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Indígenas denunciam em Londres impactos da mineração na Bacia Amazônica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU