“Na be jang” em farsi significa “não à guerra”, e Nasrin Sotoudeh o repete a cada resposta.
“Na be jang” contra Israel, mas também “na be jang” a Gaza, diz a mais famosa ativista e advogada iraniana de sua casa em Teerã, onde acompanha as notícias com preocupação. Amiga da ganhadora do prêmio Nobel Narges Mohammadi, muito temida pelo regime, Nasrin saiu da prisão com autorização médica porque em 2018 foi presa por defender duas mulheres sem véu.
A entrevista é de Greta Privitera, publicada por Corriere della Sera, 16-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Esperava que o Irã atacasse Israel?
Eu gostaria de fazer um esclarecimento: a República Islâmica, não o Irã. Sim, eu temia. Naquela noite, eu tinha acabado de escrever uma carta contra a guerra quando a BBC deu a notícia. Vejo culpas em todas as frentes.
O que quer dizer?
Acredito que nas últimas décadas tanto a República Islâmica quanto alguns governos radicais de Israel cometeram uma série de violações do direito internacional, e o respeito pelo direito internacional é fundamental para a manutenção da paz mundial. Então, eu, como cidadã iraniana, aponto o dedo contra o meu país.
Espera o mesmo dos cidadãos israelenses?
Espero isso de todos os cidadãos do mundo. Penso que o bombardeio israelense à embaixada de Damasco é uma violação do direito internacional. Mas isso não significa que lançar mísseis e drones seja uma boa ideia. Eu pretendo que uma violação do direito seja resolvida por meios legais, submetida a tribunais internacionais.
A África do Sul recorreu a um tribunal internacional acusando Israel de genocídio.
Perfeito: na minha opinião, a África do Sul está se movendo na direção certa e está fazendo isso no interesse dos palestinos, não entro no mérito da acusação em si, mas das formas escolhidas. O país africano quer abordar a questão recorrendo à justiça. Levanta dúvidas, não mata, não bombardeia: faz com que se fale.
E a República Islâmica?
A atitude do aiatolá Khamenei em relação à guerra em Gaza não é honesta porque usa a questão palestina para levar adiante os seus planos de dominação regional. Cria ainda mais tensão, coloca ainda mais em risco as vidas de palestinos, israelenses e iranianos.
O regime divulgou vídeos de comemorações após a chuva de mísseis na noite de sábado.
A maioria dos iranianos é contra o ataque a Israel. Ninguém quer a guerra e essa guerra deve ser parada. Temo que o conflito se alastre: seria um grande erro, espero que as ameaças de Netanyahu continuem sendo apenas isso.
E se você tivesse que escolher uma palavra para definir o humor do seu povo?
Tensão. Aqui a tensão é constante, não sabemos o que significa viver normalmente. Eles nos prendem pela forma como nos vestimos, pelo que dizemos, por aquilo em que acreditamos. Combatemos o nosso opressor com métodos pacíficos e democráticos, repudiamos a guerra. Há três dias estamos ainda mais tensos. Meu filho tem 16 anos e fica me perguntando: “Vão nos bombardear?"
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“Todos erram, também Israel. As guerras são uma loucura. Mas eu aponto o dedo contra o Irã”. Entrevista com Nasrin Sotoudeh - Instituto Humanitas Unisinos - IHU