11 Dezembro 2023
"No final, o regime iraniano zomba do mundo, com os seus representantes de sapatos lustrosos nos corredores das Nações Unidas. O que nesse ínterim está sendo despedaçado é a “humanidade” e nada mais. Neste mundo onde tudo é globalizado, será a “humanidade” uma exceção? É suficiente divulgar uma declaração no papel?", escreve Narges Mohammadi, Prêmio Nobel da Paz de 2023, ativista iraniana de direitos humanos e vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, em artigo publicado por La Stampa, 07-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O oitavo opositor pertencente ao movimento "Mulheres, Vida, Liberdade", Milad Zohrehvand, foi enforcado e no dia seguinte um rapaz de 17 anos foi enviado para a forca. Alguns dias atrás, outro prisioneiro político chamado Qasem Abeste foi enforcado na prisão de Qezelhesar. A máquina das execuções acelerou em todo o país, transmitindo à sociedade a mensagem da opressiva República Islâmica: o massacre e as execuções continuarão.
Considero que não passa de uma “guerra” do regime com todos os seus instrumentos de repressão e de morte contra o povo iraniano oprimido, indefeso e revoltado. Essas execuções são uma mancha indelével para o regime repressivo e tornarão os protestos mais intensos ao longo do tempo. Mas estou profundamente chocada com a forma como o mundo assiste impassivelmente ao massacre e às execuções do povo iraniano. Pensam que as execuções dos jovens da nossa terra sejam algo natural neste canto do Oriente? Ou talvez acreditam que as condenações à morte tenham sido executadas de acordo com a lei e ordenadas por tribunais justos e abertos, onde a defesa do acusado é tutelada?
É uma grande dor. Mas parece que, na ausência de imagens das execuções da juventude oprimida do Irã, o mundo permanece indiferente, já saturado de imagens. Que morte trágica é aquela na escuridão da noite com o chamado à oração da temida cela de isolamento e com o condenado caminhando em direção à forca no frio alvorecer do outono vestido com leves roupas de prisão.
Um crime é um crime. Um massacre é um massacre. Mesmo que nenhuma bomba tenha caído, nenhum terrível incêndio tenha se alastrado, nenhum gemido do peito do condenado morto tenha chegado aos ouvidos de ninguém. O regime religioso, com o engano e a astúcia, reproduz nas salas dos tribunais revolucionários pelas mãos de juízes cúmplices dos órgãos militares de segurança as regras dos massacres perpetrados nos campos de batalha pelos generais. Esses massacres são definidos de forma grotesca e cerimoniosa como “aplicação da lei”.
No final, o regime iraniano zomba do mundo, com os seus representantes de sapatos lustrosos nos corredores das Nações Unidas. O que nesse ínterim está sendo despedaçado é a “humanidade” e nada mais. Neste mundo onde tudo é globalizado, será a “humanidade” uma exceção? É suficiente divulgar uma declaração no papel?
Estaria faltando talvez vontade global para parar as execuções incessantes e generalizadas em todas as cidades do Irã com desculpas infundadas, destinadas apenas a intimidar e aterrorizar o povo iraniano oprimido e em revolta?
Peço ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos para que tome medidas urgentes e decisivas, em nome da “humanidade”, para parar as execuções no Irã. Convido o povo iraniano a não deixar sozinhas e sozinhos aqueles que buscam justiça e deixar que suas consciências vigilantes sejam a voz retumbante das pessoas condenadas à morte e a voz daqueles que protestam contra as execuções nesta terra martirizada.
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Irã. Que o mundo pare o massacre dos jovens iranianos. Artigo de Narges Mohammadi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU