16 Abril 2024
Dor e preocupação expressou o Papa pelo “agravamento da situação em Israel devido à intervenção do Irã. Apelo para que cesse qualquer ação que possa alimentar uma espiral de violência com o risco de arrastar o Médio Oriente para um conflito ainda maior."
A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L’Adige, 15-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
E, no que diz respeito a Gaza, Francisco apelou à negociação, à libertação dos reféns tomados pelo Hamas e à existência de dois Estados, um israelense e um palestino, vivendo juntos e em paz.
É claro que essas guerras, bem como as da Ucrânia e de Mianmar, também são lembradas pelo pontífice, para ele são sempre um espinho; como, noutro plano, o é toda a Igreja: a má recepção, pelo menos em certos setores da América do Norte e do Norte da Europa, da Declaração do Vaticano sobre a dignidade humana, “Dignitas Infinita”, porque na sua orientação teológica e filosófica e na avaliação dos problemas individuais afirma princípios, ou aplicação deles, que historicamente não foram e não são "pacíficos" no mundo cristão e fora dele.
O texto, publicado na segunda-feira passada, assinado pelo cardeal argentino Victor Manuel Fernández, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e aprovado por Bergoglio, afirma que a dignidade de cada pessoa – mulher ou homem; saudável ou doente - deve ser sempre respeitada. Historicamente, a fidelidade ao Evangelho favoreceu, em muitos casos, o florescimento de direitos anteriormente obscurecidos; mas – constatamos isso no caso da Inquisição – durante séculos a Igreja Romana considerou que o direito de “bruxas” ou “hereges” de viver era secundário em relação ao direito de colocar na fogueira tais pessoas, para salvaguardar a “Sociedade cristã” dos perigos (de acordo com os guardiões da Ortodoxia) para a fé.
A prática, sob a pressão do Iluminismo, foi finalmente abandonada há três séculos. Mas será apenas o Concílio Vaticano II, em 1965, que proclamará o princípio da liberdade religiosa.
“Dignitas infinita” afirma que a guerra é a maior calamidade porque destrói o direito das pessoas de viver e do ambiente e da natureza de não serem devastados.
Além disso recorda uma série de direitos hoje negados: dos migrantes, das mulheres, dos fetos, das pessoas abusadas sexualmente. E condena a barriga de aluguel, a eutanásia, o suicídio assistido e a teoria do gênero. Ao reiterar normativas restritivas sobre esses problemas, Francisco parece estender a mão à ala conservadora da Igreja, perturbada por algumas das suas afirmações.
Mas os problemas difíceis permanecem intocados: assim, enquanto condena firmemente o aborto, o Declaração ignora acontecimentos infelizmente frequentes nos nossos dias: algumas mulheres, estupradas durante uma guerra, decidem ficar com o fruto da agressão; mas outras, em vez disso, optam por fazer um aborto. Quem, no segundo caso, poderia condenar a mulher? Não seria mais cristão ficar ao seu lado, com respeito, amor e silêncio, deixando o julgamento final a Deus – e não à Igreja?
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Guerras e direitos, os espinhos do papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU