Mykhailo Podolyak, conhecido conselheiro de Volodymyr Zelensky, comentando as declarações do Papa Francisco sobre a necessidade de iniciar negociações de paz com a Rússia. Ele, como muitos no campo ucraniano, havia reagido duramente à frase da “bandeira branca” diante das dificuldades militares. Ontem voltamos a perguntar-lhe como tinha lido os esclarecimentos da posição do Vaticano sobre a necessidade de a Rússia pôr fim à invasão e do cessar-fogo o mais rapidamente possível, assim como formulados pelo Secretário de Estado, Pietro Parolin, na entrevista publicada pelo Corriere della Sera. E assim ele respondeu: “A Rússia lançou uma guerra em grande escala com intenções genocidas para destruir o nosso Estado, a população infiel a ele e o seu território. Disso resulta que Putin não quer a paz, o seu regime só pode existir num estado de beligerância: o seu objetivo é a guerra. E surpreende-me que ainda agora alguém possa demonstrar tamanha incompreensão pelos crimes cometidos pela Rússia no nosso território."
A entrevista é de Lorenzo Cremonesi, publicada por Corriere della Sera, 13-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mykhailo Mykhailovych Podolyak, assessor do chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia. (Foto: Divulgação | Presidência da Ucrânia)
Eis a entrevista.
O Papa apela para que se criem condições para uma solução diplomática...
Qualquer concessão da nossa parte e a Rússia ficará feliz de encaminhar falsas negociações para explorar as nossas fraquezas e depois expandir a sua agressão. Se Putin ganhasse, o futuro do mundo seria dominado pelas regras da violência, razão pela qual todos deveríamos ser contra o compromisso. A única maneira está na fórmula de paz apresentada pelo Presidente Zelensky.
Mas, um cessar-fogo como pré-requisito para o diálogo?
A guerra só terminará quando o agressor for derrotado e forçado a retirar-se da Ucrânia. O mundo democrático e o Papa não devem se deixar enganar por palavras-armadilha como cessar-fogo e negociações.
Então, não faz sentido sugerir o caminho da diplomacia no lugar do caminho das armas?
Essa é uma agressão tão brutal, injusta e grave que falar em negociações neste momento não leva à resolução do conflito, mas pressiona intencionalmente a ser derrotado pelo mal.
Bem contra o mal, o que isso significa?
O mal impune está destinado a crescer, não vai parar. E a Federação Russa é, sem dúvida, o mal supremo da nossa época: destrutiva, disseminadora de ódio, mata de forma planejada e consciente, gera injustiça.
E a Ucrânia?
Ela se defende, salva as famílias, as nossas casas, o território, o sagrado direito à vida. Essa é a clássica guerra, eu diria bíblica, do bem contra o mal. E, se deixarmos que a Rússia não seja derrotada, então a sua obra destrutiva aumentará, semeará sofrimento e sangue no mundo.
Você não acha que o Papa não está fazendo outra coisa senão o seu trabalho ao pedir o que as armas se calem?
Vamos colocar desta forma: penso que é muito importante compreender o princípio pelo qual a Ucrânia está defendendo todos nós e vocês da injustiça e é preciso que seja ajudada a vencer o mais rápido possível.
O Papa Francisco parte do pressuposto de que vocês estão perdendo a guerra...
Nos quase 25 meses desde a invasão, a Rússia dilapidou os recursos de outros países, destruiu, poluiu, matou: a antecâmara do inferno. Mas, nada, ainda não consegue ir para nenhum lugar. Sim, mata. Sim, destrói. Sim, tenta colocar todos de joelhos. Mas nada: nem ontem, nem hoje, nem amanhã: a Rússia não terá sucesso.
Então?
“Precisamos de armas de alta tecnologia, decisões rápidas por parte dos aliados, determinação: é isso que devemos construir e é sobre esse ponto que devemos dirigir as nossas orações”.
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