Gilson Iannini, professor e pesquisador da UFMG, traz o conceito de verdade em psicanálise para pensar seus contrastes com a ciência em seu compromisso mercadológico
Pode parecer estranho, mas, na verdade, não existe um conceito científico de ciência. As tentativas em torno desta definição costumam ser feitas por filósofos, sociólogos, historiadores e toda a sorte de pesquisadores que trabalham com a linguagem. Isso implica que não há conceito universal de ciência, o que no fundo torna a particularidade um elemento interessante.
Em psicanálise, por exemplo, quando uma criança chega com o diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, o que interessa não é a entidade clínica TDAH, mas tudo o que não faz parte desta generalidade. “Nos interessamos pelo que faz o sofrimento de João ser diferente do sofrimento de outra pessoa com o mesmo diagnóstico. Dizemos que a verdade é aquilo que o pertencimento a uma classe, a uma categoria não conseguiu apreender”, explica Gilson Iannini, professor, pesquisador e psicanalista, em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
O que está em jogo, no fundo, é que tanto o que chamamos verdade quanto o que chamamos ciência não estão dissociados de interesses políticos, que convergem a interesses mercadológicos. Daí o desejo de se retomar um velho debate sobre o que seriam as pseudociências. “Há toda uma dimensão financeira subjacente: um mercado enorme, no nosso caso, da saúde mental, que movimenta milhões de dólares no mundo. Então, a psicanálise precisa lutar sim, para ter espaço na academia, na saúde e por aí vai”, frisa Iannini.
Os paradoxos não param por aí. O entrevistado recorda que durante a pandemia de Covid-19 no Brasil, as entidades médicas, a rigor mais associadas à ideia corrente de ciência, não foram unânimes na defesa das vacinas. “Não é curioso que maciçamente as entidades psicanalíticas (apesar de sua heterogeneidade) tenham apoiado a necessidade de vacinação e as políticas de isolamento preconizadas pelos cientistas, ao passo que os principais órgãos representantes da medicina tenham sido omissos ou mesmo negacionistas?”, provoca.
Gilson Iannini (Foto: arquivo pessoal)
Gilson de Paulo Moreira Iannini trabalha com psicanálise e com filosofia. É professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, onde leciona teoria psicanalítica. É doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo – USP e mestre em filosofia pela UFMG. Obteve o título de Master en Psychanalyse: concepts et clinique (antigo “DEA du Champ Freudien”) na Université Paris VIII, além de participar da sessão clínica da École de la Cause Freudienne. Coordena a Coleção Filô e é editor e idealizador da Coleção Obras Incompletas de Sigmund Freud, ambas pela editora Autêntica. Integra a International Society of Psychoanalysis and Philosophy/Société Internationale de Psychanalyse et Philosophie. É membro da Escola Brasileira de Psicanálise e da Associação Mundial de Psicanálise. É autor, junto com Christian Dunker, de Ciência pouca é bobagem: por que psicanálise não é pseudociência (São Paulo: UBU, 2023).
IHU – Vamos começar com uma pergunta “fácil”. O que é ciência e o que é verdade?
Gilson Iannini – Gostei das aspas em torno de “fácil”. A primeira coisa que precisa ficar absolutamente clara é que não existe um conceito científico de ciência. Isso quer dizer, que todas as tentativas de responder o que é ciência são feitas por filósofos, historiadores, sociólogos, antropólogos e por aí vai. Os cientistas fazem ciência, mas não necessariamente sabem o que fazem quando fazem ciência, ou, mais precisamente, não tem uma metateoria que valha para todas as ciências.
Em filosofia da ciência, a delimitação entre ciência e não-ciência é conhecida como o problema da demarcação. Dois dos principais filósofos da ciência do século XX, Karl Popper [1] e Thomas Kuhn [2] tiveram um debate muito bacana na década de 1970. Eles discordavam radicalmente sobre como definir ciência.
Popper propunha um modelo normativo, baseado na falseabilidade das proposições científicas. Kuhn apostava numa perspectiva descritiva, que levava em consideração a história efetiva das ciências e não um critério saído da cabeça de um filósofo que queria legislar sobre o que é ciência e o que não é.
O mais interessante é que se eles discordavam no varejo, concordavam no atacado, digamos assim. Ao perguntar quais eram as ciências e quais eram as pseudociências eles concordam: astronomia, química, biologia, por exemplo, são facilmente reconhecíveis como ciência, ao passo que astrologia, criacionismo, homeopatia, ufologia e por aí vai são facilmente reconhecíveis como pseudociência, com pouca ou nenhuma controvérsia. Nesse debate, pode haver alguma controvérsia em torno da homeopatia, mas não muita.
O caso realmente anômalo sempre foi a da psicanálise. Sempre foi o caso mais difícil, porque ela tem claros compromissos com a concepção científica de mundo, mas tem, ao mesmo tempo, muita clareza de que nem tudo que é conhecimento é ciência. E a matéria mesma da psicanálise, o sofrimento singular de cada um, dificulta ou até mesmo impossibilita algumas das exigências metodológicas das ciências-padrão. Aí chegamos na segunda parte da sua pergunta “fácil”.
O que é verdade? Verdade também é um conceito em constante disputa. Existem inúmeras teorias da verdade. Provavelmente, nenhuma delas é tão verdadeira assim, com o perdão do chiste... Podemos pensar em verdade como adequação/correspondência; podemos pensar numa teoria coerencialista da verdade; podemos pensar na verdade como processo, ou como desvelamento, ou como acontecimento e por aí vai. Então, para concluir a resposta, eu diria que o importante é a gente pluralizar essas duas palavras. Vamos falar de ciências e de verdades.
Do ponto de vista da psicanálise, há uma exclusão mútua entre verdade e ciência. Ou seja, a gente tende a achar que a ciência privilegia o saber e rechaça a verdade. Vamos dar um exemplo bem claro. Quando uma criança é diagnosticada com TDAH temos um saber sobre aquela criança. Os cientistas determinaram uma entidade clínica, esse transtorno, que tem tais e tais propriedades e podemos avaliar e até mesmo mensurar a presença ou ausência desses índices no caso a caso. Daí em diante, dizemos: “João tem TDAH”. Ora, até aí tudo funciona muito bem. Só que o psicanalista é o profissional que está interessado em tudo que no João não se resume ao seu pertencimento à classe geral do transtorno. Nós nos interessamos pelo que faz o sofrimento de João ser diferente do sofrimento de outra pessoa com o mesmo diagnóstico, por exemplo, Pedro ou Maria. Dizemos que a verdade é aquilo que o pertencimento a uma classe, a uma categoria não conseguiu apreender. Então, se o sofrimento de João é radicalmente único, embora compartilhe vários traços parecidos com Pedro e Maria, as soluções que valem para esse caso não necessariamente valem para aquele caso. Chamamos essa singularidade desidêntica ao saber de verdade. É uma explicação charmosa e muito fundamental em nossa prática e em nossa ética.
IHU – Antes de entrar no debate de sua recente obra, eu gostaria de retomar questões atinentes ao seu livro Estilo e verdade em Jacques Lacan, como exercício introdutório. Remeto aqui ao terceiro capítulo da obra intitulado "Ciência e estilo". Em que sentido a ciência exclui o estilo? Há uma contradição nessa premissa, pois nenhuma linguagem (a científica inclusive) é inocente?
Gilson Iannini – Muito interessante a pergunta. Vamos começar com dois exemplos simples. Todos nós estudamos mecânica newtoniana na escola. Todos os físicos estudam mecânica clássica e também mecânica quântica. Mas será que é preciso pegar o livro do Newton [3] ou os artigos do Einstein [4] para isso? Certamente não. Isso quer dizer que o conteúdo de verdade de uma tese científica não depende da forma como é escrita: é maximamente parafraseável. Peguemos o caso do outro lado. Se você ler um livro sobre Guimarães Rosa [5], mas não ler o Grande sertão: veredas, você realmente sabe alguma coisa sobre a literatura roseana? Não. Ou seja, o conteúdo de verdade da literatura, mas também da música e das demais artes é minimamente parafraseável. A verdade da arte está contida na própria obra e não na sua teoria (há exceções, é claro, como a arte conceitual, mas aí são outros quinhentos).
É verdade: nenhuma linguagem é inocente, não existe lugar neutro de enunciação. Isso não significa que a lei da gravidade ou da inércia sejam em algum grau dependentes de quem enuncia. Não são.
IHU – O que significa dizer, como afirmou Adorno, que ciência e arte são irreversivelmente separadas, ainda que não devêssemos hipostasiar seu antagonismo?
Gilson Iannini – Pense em Leonardo da Vinci. [6] Se você pegar qualquer descrição de quem era Da Vinci, encontrará mais ou menos o seguinte: ele era cientista, matemático, engenheiro, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, poeta e músico e por aí vai. Por essa diversidade de interesses e de competências a gente diz que Da Vinci era um polímata. Onde foram parar os polímatas? Eles não existem mais, ou talvez apenas de um ponto de vista amador. Com a emergência da revolução científica por volta do século XVII em diante, a natureza é cindida: tudo que é mensurável, matematizável fica com os cientistas, o que não cabe dentro desse modelo matemático da natureza fica com os artistas.
Se você me permitir, vou citar na íntegra o primeiro parágrafo de O Homem sem qualidades (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018) de Musil [7]:
---Uma pressão barométrica mínima pairava sobre o Atlântico; dirigia-se para leste, rumo à pressão máxima instalada sobre a Rússia, e ainda não mostrava tendência de se desviar dela para o norte. As isotermas e isóteras cumpriam suas funções. A temperatura do ar estava numa relação correta com a temperatura média do ano. O nascer e o pôr do Sol e da Lua, a variação do brilho da Lua, de Vênus, do anel de Saturno, e outros fenômenos importantes transcorriam segundo as previsões da astronomia. O vapor d’água no ar estava na fase de maior distensão, a umidade era baixa. Numa frase que, embora antiquada, descreve bem as condições: era um belo dia de agosto de 1913.---
Esse texto é brilhante e mostra exatamente essa cisão da natureza, que se dá sobretudo na linguagem. Não hipostasiar isso quer dizer que não devemos tomar essa cisão como algo que nos impeça de trabalhar, ou, mais precisamente, que podemos trabalhar exatamente com esse antagonismo. Fazer a contradição trabalhar a nosso favor. Isso os psicanalistas sabem fazer cotidianamente.
IHU – Qual é a linguagem da ciência?
Gilson Iannini – De certa forma, já falamos disso. Mas, em linhas gerais, os cientistas circulam numa região da linguagem em que coisas como objetividade, concisão, clareza pesam muito. De maneira bem grosseira, podemos falar de um uso instrumental da linguagem. A linguagem é, nesse uso, um instrumento de conhecimento de outra coisa, fora dela, o mundo, a realidade, as coisas. A linguagem comporta isso, mas não se esgota nisso. Há outros usos possíveis da linguagem. A linguagem também cria mundos: ao nomear alguma coisa pode haver um efeito performativo. Por exemplo, se o professor diz algo como: “por hoje está bom, a aula acabou”, ele não está descrevendo um estado de coisas pré-existente, ele está agindo no mundo de modo a fazer que sua palavra instaure algo que não existia antes de ele dizer. Isso a gente conhece como performatividade. Se alguém insulta alguém, “você não presta”, isso não apenas descreve algo, mas deixa marcas na subjetividade. Esses demais usos são explorados por artistas, poetas, psicanalistas e assim por diante.
Obra em que Iannini é um do autores (Foto: divulgação)
IHU – Entrando no debate de Ciência pouca é bobagem, como Freud e Lacan postulam a psicanálise como ciência?
Gilson Iannini – Freud [8] e Lacan [9] não pensam isso da mesma maneira. Para Freud era muito importante inscrever a psicanálise como ciência. Ele vinha de um ambiente fisicalista, fez uma formação como pesquisador de laboratório, estudando o que havia de mais novo na neurologia do tempo dele. Buscou que a psicanálise fosse reconhecida por seus pares médicos. Nunca conseguiu. Ao contrário, encontrou grande aceitação entre artistas e escritores e, depois da primeira guerra, percebeu que a psicanálise estava sendo bastante aceita como método de tratamento no campo da saúde pública e da educação, tinha forte entrada na cultura, mas não necessariamente era reconhecida como ciência. Ele sempre foi cético em relação às ciências humanas e gostava de ver (escolhi o verbo a dedo) a psicanálise como uma ciência natural. Se fosse vivo hoje, é bastante provável que buscasse aproximar a psicanálise das neurociências.
Lacan fez um movimento quase oposto a esse. Dentro do melhor estilo francês de meados do século passado, tinha profunda aversão pelo naturalismo científico e buscou outras estratégias de pensar as relações entre psicanálise e as ciências. Estabeleceu redes de empréstimo e solidariedade conceitual e metodológica com a linguística estrutural (que era tida como uma ciência da linguagem que poderia fornecer modelos para objetos não linguísticos), com a etnologia, com as matemáticas. Foi por outros caminhos. Ao mesmo tempo, foi bastante sagaz ao não submeter a psicanálise a uma ciência-mãe que pudesse oferecer atestado de maturidade. Ele se perguntava: em que o fato inconteste da psicanálise exige que a gente reformule a própria ideia de ciência.
A discussão atual não deve ficar presa nem em Freud, nem em Lacan. A coisa andou bastante.
IHU – Em que sentido é importante reconhecer a psicanálise como ciência e em que sentido não é importante?
Gilson Iannini – Excelente pergunta. Tendo a pensar que raramente as pessoas estão interessadas em saber se a psicanálise é ciência ou não como mero problema epistemológico. Dizer que algo é ciência ou não é ciência é uma maneira de validar o reconhecimento desse campo ou dessa prática junto à sociedade, ao estado, aos órgãos de fomento, às políticas públicas, à universidade, etc. Há toda uma dimensão financeira subjacente: um mercado enorme, no nosso caso, da saúde mental, que movimenta milhões de dólares no mundo. Então, a psicanálise precisa lutar, sim, para ter espaço na academia, na saúde e por aí vai. Mas, por outro lado, os pacientes que se submetem a uma análise não ganham nem perdem se a psicanálise obtiver o selo de garantia da ciência.
IHU – A que o senhor atribui o fato de que, hoje, fala-se muito em pseudociência e tão pouco em pseudotecnologia?
Gilson Iannini – O tema das pseudociências tinha caído no ostracismo há umas décadas atrás. Ninguém mais pesquisava isso. Com a assustadora onda de movimentos antivacinas e do negacionismo climático nas últimas décadas, o tema da pseudociência voltou ao primeiro plano. Já o tema da pseudotecnologia é novo mesmo e tem a ver com uma crença exacerbada na técnica e em nossa fascinação por promessas fáceis, respostas simples para problemas complexos e assim por diante. Na verdade, ninguém pode acreditar mais na imagem do cientista neutro, ascético. Há décadas sabemos que o que se passa nos laboratórios, nas revistas, na própria produção de evidência é mais humano, mais demasiado humano do que achávamos. Existem interesses diversos e vieses enormes mesmo na ciência padrão ouro. Isso não pode ser confundido com relativismo epistêmico. Continua sendo melhor na maioria dos casos se fiar numa evidência científica do que não.
IHU – Em que sentido defender a cientificidade da psicanálise é também defender a ciência de seu maior inimigo, paradoxalmente a própria ciência?
Gilson Iannini – Esse ponto é crucial. Vamos começar de uma maneira bastante concreta. Durante a pandemia de Covid-19 no Brasil, não é curioso que maciçamente as entidades psicanalíticas (apesar de sua heterogeneidade) tenham apoiado a necessidade de vacinação e as políticas de isolamento preconizadas pelos cientistas, ao passo que os principais órgãos representantes da medicina tenham sido omissos ou mesmo negacionistas? Ou seja, em termos extremamente concretos os psicanalistas (considerados por muitos como refratários à ciência) apoiavam as políticas públicas baseadas em evidências científicas, ao passo que as entidades médicas, supostamente mais próximas das ciências, apostavam em cloroquina e coisas do tipo? Isso mostra que entre o céu e a terra há muito mais do que sonha nossa vã epistemologia...
Neste sentido, defender a psicanálise é defender que não existe apenas uma forma de fazer ciência. A psicanálise é uma ciência rigorosa, com uma trajetória de 100 anos no tratamento do sofrimento humano em suas várias formas, tem um repertório clínico consolidado e possui suas próprias estratégias de validação, de verificação e por aí vai. São certamente instrumentos imperfeitos, sem dúvida diferentes do que se espera em outros campos da ciência. Nossos tratamentos não são replicáveis em geral e dificilmente são mensuráveis. Mas podem ser relativamente controlados, existem mecanismos de discussão racional e pública de nossos conceitos e técnicas, nossa casuística é escrutinada de uma maneira muito mais radical do que em qualquer outra área. A teoria é robusta, sofisticada. E poderíamos aqui conversar até amanhã. Mas para quem quiser se aprofundar nesses assuntos, sugiro a leitura do livro Verdade e sofrimento (São Paulo: Perspectiva, 2023), de Paulo Beer, bem como o Ciência pouca é bobagem.
Karl Raimund Popper (1902-1994): filósofo liberal e professor austro-britânico. Amplamente considerado um dos maiores filósofos da ciência do século XX, Popper é conhecido por sua rejeição das visões indutivistas clássicas sobre o método científico em favor da falseabilidade, tendo cunhado a expressão "racionalismo crítico" para descrever a sua filosofia. Esta designação é significante e é um indício da sua rejeição do empirismo clássico e do observacionismo indutivista da ciência, que disso resulta. Um de seus livros mais conhecidos é A lógica da pesquisa científica. (Nota do IHU)
Thomas Samuel Kuhn (1922-1996): físico, historiador e filósofo da ciência estadunidense. Seu trabalho incidiu sobre história da ciência e filosofia da ciência, tornando-se um marco no estudo do processo que leva ao desenvolvimento científico. Em 1962, com a publicação de A estrutura das revoluções científicas, Kuhn se tornou conhecido não mais como físico, mas como intelectual voltado para a história e a filosofia da ciência. A polêmica sobre sua obra gira em torno da noção de paradigma científico e da "incomensurabilidade" entre os paradigmas. (Nota do IHU)
Isaac Newton (1642-1727): matemático, físico, astrônomo, teólogo e autor inglês (descrito em seus dias como um "filósofo natural"), foi uma figura-chave na revolução científica. Seu livro Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica (Princípios matemáticos da filosofia natural), publicado pela primeira vez em 1687, lançou as bases da mecânica clássica. Em Principia, Newton formulou as leis do movimento e da gravitação universal, que criaram o ponto de vista científico dominante até serem substituídas pela teoria da relatividade de Albert Einstein. Usou sua descrição matemática da gravidade para provar as leis de movimento planetário de Kepler, explicar as marés, as trajetórias dos cometas, a precessão dos equinócios e outros fenômenos, erradicando a dúvida sobre a heliocentricidade do Sistema Solar. (Nota do IHU)
Albert Einstein (1879-1955): físico teórico alemão, que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica. Embora mais conhecido por sua fórmula de equivalência massa-energia (E=mc²), também chamada de "a equação mais famosa do mundo", foi laureado com o Prêmio Nobel de Física de 1921 "por suas contribuições à física teórica" e, especialmente, por sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico, que foi fundamental no estabelecimento da teoria quântica. A relatividade geral é uma teoria da gravitação que foi desenvolvida por Einstein entre 1907 e 1915, explicando a atração gravitacional observada entre massas que resulta da curvatura do espaço e do tempo. A relatividade geral tornou-se uma ferramenta essencial na astrofísica moderna. Ela fornece a base para o entendimento atual de buracos negros, regiões do espaço onde a atração gravitacional é tão forte que nem mesmo a luz pode escapar. (Nota do IHU)
João Guimarães Rosa (1908-1967): poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais que, somados à erudição do autor, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas. Sua obra mais marcante, Grande Sertão: Veredas, é um romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional", marcada por elementos regionalistas, existencialistas e religiosos. (Nota do IHU)
Leonardo di Ser Piero da Vinci (1452-1519): polímata nascido na atual Itália e uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico. É conhecido como o precursor da aviação e da balística. Leonardo frequentemente foi descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção. É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos. (Nota do IHU)
Robert Musil (1880-1942): foi um escritor austríaco, um dos mais importantes romancistas modernos. Ao lado de Franz Kafka, Marcel Proust e James Joyce, forma o grupo dos grandes prosadores do século XX. Da sua obra destaca-se o monumental O homem sem qualidades, um antirromance ou um não romance que é, acima de tudo, uma grande reflexão sobre a época de Musil. (Nota do IHU)
Sigmund Freud (1856-1939): médico neurologista e importante psicanalista austríaco, criador da psicanálise e a personalidade mais influente da história no campo da psicologia. A influência freudiana pode ser observada ainda em diversos outros campos do conhecimento e até mesmo na cultura popular no uso cotidiano de palavras que se tornaram recorrentes, mas que surgiram a partir de suas teorias. Expressões como "neurose", "repressões", "projeções" popularizaram-se a partir de seus escritos. Freud sofreu críticas de diversas naturezas, entre elas contestações de diversas vertentes religiosas e confrontações de cunho científico-epistemológico. Contudo, a psicanálise de Freud segue se desenvolvendo através de estudos e práticas clínicas na área, com a contribuição de teóricos e clínicos que o sucederam. (Nota do IHU)
Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981): psicanalista francês, teve contato com a psicanálise através do surrealismo e a partir de 1951, opondo-se aos pós-freudianos que promoveram a Psicologia do Ego. O caráter inovador de sua abordagem, seus temas e sua concepção da cura psicanalítica conduziram a cisões com entidades psicanalíticas e instâncias internacionais. Em seu projeto teórico e clínico, utiliza-se da linguística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e Benveniste) e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo. Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Jacques Lacan foi um grande intérprete do texto freudiano, propondo resgatar a psicanálise de seus desvios, e dando seguimento à corrente de seu pensamento. (Nota do IHU)