O Papa Francisco decidiu que a segunda sessão do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade começará em 2 de outubro e terminará em 27 de outubro, anunciou no dia 17 de fevereiro a Secretaria Geral do Sínodo. Ele será precedido por um retiro, de 30 de setembro a 1º de outubro.

A reportagem é de Gerard O'Connell, publicada por America, 17-02-2024.

Contrariamente às expectativas, o Sínodo terá, de fato, mais ou menos a mesma duração da primeira sessão. Como já se sabe, quase todos os 365 membros do Sínodo (incluindo mulheres e homens que não são bispos) participaram do Sínodo de outubro passado. Continuarão a centrar-se no tema: “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.

Acompanhando esta notícia, Francisco também emitiu um quirógrafo – que é um documento escrito e assinado diretamente pelo Papa – no qual anunciou a criação de grupos de estudo para aprofundar alguns dos temas que surgiram em outubro passado na primeira sessão do Sínodo. Os grupos de estudo envolverão os dicastérios da Cúria omana que tenham “competência específica” em relação a um determinado tema em análise. Enfatizou que os dicastérios relevantes “devem colaborar de forma sinodal” com a Secretaria Geral do Sínodo, que tem a tarefa de coordenar todo este projeto. Isto significa que o secretariado do Sínodo supervisiona os grupos de estudo.

No quirógrafo, Francisco reafirmou mais uma vez o que já está claro no Código de Direito Canônico (Cânones 342 e 343), no Praedicate Evangelium (constituição sobre a reforma da Cúria Romana emitida em 2022) e na Constituição Apostólica de 2018 sobre o sínodo, Episcopalis Communio, nomeadamente que o secretariado do sínodo não faz parte da Cúria Romana, mas é “uma instituição permanente ao serviço do sínodo dos bispos”. Enquanto a Cúria Romana existe para ajudar o papa no exercício do seu ministério petrino e também para servir os bispos, o papel do Sínodo é diferente. É principalmente um órgão consultivo do papa.

O quirógrafo recorda que a tarefa do secretariado sinodal é apoiar e acompanhar o processo sinodal, “conforme estabelecido de tempos em tempos”, para promover as relações sinodais entre os bispos e as igrejas locais. O secretariado responde diretamente ao papa.

Francisco não especificou quais dos muitos temas surgidos da primeira sessão serão objeto de estudo. Espera-se que isto seja anunciado em breve, assim que for alcançado um acordo comum entre o secretariado e os dicastérios (departamentos) relevantes da Cúria Romana, sobre temas e sobre os nomes de especialistas de todo o mundo que possam ser chamados a dar a sua contribuição específica. 

Uma rápida olhada nas 81 propostas feitas no relatório de síntese publicado no fim do Sínodo de outubro passado sugere que os seguintes temas provavelmente estarão entre aqueles discutidos e pesquisados ​​nos grupos de estudo: o papel e o lugar das mulheres na Igreja, incluindo a questão do diaconato em geral e do diaconato feminino; a formação dos sacerdotes; estruturas de sinodalidade a nível diocesano e paroquial; a atualização do Código de Direito Canônico; a Cúria Romana e a sinodalidade. Estas e outras questões, também mencionadas no documento divulgado pela secretaria do Sínodo em 11 de dezembro, intitulado “Rumo a outubro de 2024”, podem exigir contribuição ou desenvolvimento teológico, canônico ou pastoral.

Este último documento enfatizou que o Sínodo do próximo mês de outubro se concentrará em como viver a sinodalidade em todos os níveis da Igreja. Pediu às conferências episcopais e às igrejas orientais, antes do Sínodo de outubro, que discutissem a nível local como a Igreja pode ser ao mesmo tempo sinodal e missionária. Solicitou que o feedback fosse enviado à Secretaria Geral do Sínodo até 15 de maio e disse que com base no material assim recolhido será elaborado o documento de trabalho da segunda sessão.

Além disso, foram nomeados mais seis consultores da Secretaria Geral do Sínodo:

Dom Alphonse Borras, vigário episcopal da Diocese de Liège (Bélgica)

O Rev. Gilles Routhier, professor de teologia na Université Laval (Canadá)

O Rev. Ormond Rush, professor associado de teologia na Universidade Católica Australiana

Irmã Birgit Weiler, MMS, professora de teologia na Pontifícia Universidade Católica do Peru

Profa. Tricia C. Bruce, presidente eleita da Associação para a Sociologia da Religião

Profa. Maria Clara Lucchetti Bingemer, professora de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Juntamente com os outros 10 consultores – cinco dos quais foram nomeados em 10 de janeiro, incluindo Dom Timothy John Costelloe, SDB, da Arquidiocese de Perth, Austrália – os novos consultores auxiliarão a Secretaria Geral do Sínodo em suas atividades.

Leia mais

• “O Sínodo foi um passo, mas as discriminações não foram erradicadas”. Entrevista com Marinella Perroni
• O que a lista dos membros do Sínodo nos diz sobre o estado atual da Igreja. Artigo de Massimo Faggioli
• Igreja Sinodal
• Por uma Igreja Sinodal: caminhando como Povo de Deus. Artigo de Renato Correia Santos
• Uma Igreja sinodal e opção para mudanças
• Dom João Francisco Salm: “Vocação numa Igreja sinodal, uma doação dentro de uma comunidade de vida”
• Papa nomeia bispo de Malta como pró-Secretário Geral do Sínodo dos Bispos
• Reforma do Código de Direito Canônico. Acabou qualquer tolerância com os crimes clericais
• A sombra do Código de Direito Canônico sobre o caso Lintner: a teologia como capacho? Artigo de Andrea Grillo
• Mulheres e o Sínodo: se o melhor é inimigo do bem. Artigo de Anita Prati
• Sínodo e voto para as mulheres: foi uma verdadeira revolução?
• O papa decide dar o voto às mulheres e aos leigos no Sínodo, brechas no muro do clericalismo
• Papa Francisco nomeia homens e mulheres para construir uma Igreja sinodal. Artigo de Thomas Reese
• Papa Francisco renova o Conselho de Cardeais: 5 novos membros
• O Rio Reno desaguará no Tibre? Bispos alemães visitam a Cúria Romana e insistem nas reformas
• Roma em missão: a reforma da Cúria do Papa Francisco. Artigo de Austen Ivereigh
• Os leigos terão voz no sínodo de outubro próximo?
• No “time” do Sínodo de outubro, também há 54 mulheres, das quais 29 são leigas
• “Estão faltando padres”. Entrevista com Alphonse Borras, teólogo belga - Parte 1
• Prof. Dr. Gilles Routhier
• “A Igreja que somos chamados a sonhar”. Artigo de Christopher Lamb
• Ir. Birgit Weiler: Documento para o discernimento, "discernir a realidade à luz de nossa fé compartilhada"
• Deus em todas as coisas, segundo Inácio de Loyola
• O Sínodo não é um Vaticano III. “Queremos a plenitude da sinodalidade de volta à Igreja”. Entrevista com Jean-Claude Hollerich