24 Novembro 2023
"Isto não é guerra, é terrorismo." O Papa Francisco disse isso ontem de manhã no final da audiência geral no Vaticano, durante a saudação aos fiéis de língua italiana.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il manifesto, 23-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma afirmação forte, que evidentemente se refere, sem nomeá-los, tanto à ação armada do Hamas em 7 de outubro como à retaliação de Israel que, após semanas de bombardeios e cerco, invadiu a faixa Gaza, numa operação militar que assumiu características de vingança e, justamente, de ação terrorista indiscriminada propriamente dita contra civis. “Fomos além das guerras”, afirmou o pontífice, “isto não é guerra, isto é terrorismo”.
Antes da audiência, às 7h30 da manhã, Bergoglio recebeu, em privado, um grupo de doze familiares dos reféns israelitas sequestrados pelo Hamas. E, meia hora depois, um grupo de dez palestinos, tanto muçulmanos como cristãos, acompanhados pelo pároco da Igreja da Sagrada Família em Gaza, que têm familiares retidos em Gaza ou prisioneiros em Israel. “Eles sofrem muito e ouvi o como ambos sofrem, as guerras fazem isso", relatou o próprio Bergoglio durante a audiência geral.
Precisamente em torno desse duplo encontro, desenvolveu-se uma espécie de confronto à distância entre as duas delegações. Alguns dos parentes dos reféns israelenses expressaram, de fato, "decepção" porque o Papa “não mencionou o Hamas e não falou dele como uma organização terrorista. Ele disse apenas que a guerra deve acabar." E durante a coletiva de imprensa, foi dito, sempre pelos israelenses, que “não pode haver nenhuma equivalência entre o Hamas, que é uma organização terrorista e usa os civis como escudo e Israel que defende os civis." Palavras às quais se associou, embora não estivesse presente no encontro, Noemi Di Segni, presidente da União das Comunidades judaicas italianas: “O Papa coloca todos no mesmo plano, aqueles que se defendem e aqueles que têm um plano de terror e de extermínio dos judeus, assim a Igreja corre o risco de repetir o que aconteceu durante o Holocausto, não queremos outro silêncio."
Por seu lado, os palestinos convidaram o pontífice a visitar Gaza, porque “ele pode deter a guerra e trazer a paz ao povo da Palestina" (é "uma boa ideia", teria comentado Bergoglio, “quando a situação o permitir”). “O cessar-fogo – acrescentaram – não é suficiente: o que vivemos hoje é uma pausa militar que mantém o status quo das hostilidades."
Depois Shrine Halil, cristã de Belém presente no encontro com o pontífice, informou que “o Papa reconheceu que vivemos um genocídio" e que "o terrorismo não pode ser combatido com terrorismo". Se sobre a segunda declaração houve uma espécie de consenso silencioso da sala na imprensa da Santa Sé - aliás, parece coerente com as palavras pronunciadas durante a audiência geral –, a frase sobre o genocídio foi desmentida. “Não me parece que ele tenha usado tal palavra”, declarou o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni. Ao que os palestinos responderam: “O Papa usou a palavra genocídio. Todos nós dez ouvimos isso." À noite, a Santa Sé propôs uma campanha especial de oração pela paz no mundo e em particular na Palestina. “O povo palestino e o povo de Israel têm direito à paz, têm direito a viver em paz: dois povos irmãos”, o apelo do Papa na mensagem de vídeo de lançamento da iniciativa. “Rezamos pela paz na Terra Santa. Rezamos para que as controvérsias sejam resolvidas com o diálogo e as negociações e não com uma montanha de mortes de ambos os lados."
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Papa Francisco diz claramente: “Isto não é guerra, é terrorismo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU