16 Novembro 2023
A reportagem é de Sebastião Sansão Ferrari, publicada por Vatican News, 15-11-2023.
Há 34 anos, em 16 de novembro de 1989, oito testemunhas do Evangelho foram assassinadas em El Salvador. Assim como os mártires da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas, como são conhecidos desde então, se comprometeram com a doutrina social da Igreja na "praça pública" do seu país, com a Laudate Deum, o Papa carrega a urgente mensagem da Laudato si' à “praça pública global”. Este é o ponto de partida da carta do Cardeal Michael Czerny SJ, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano, por ocasião de um novo aniversário do martírio.
Na carta, o cardeal evoca a dedicação dos jesuítas Ignacio-Martín Baró, Ignacio Ellacuría, Juan Ramón Moreno, Armando López, Segundo Montes e Joaquín López y López, bem como de suas duas colaboradoras Elba Julia Ramos e Celina Ramos. Estas pessoas constituem o grande grupo de vítimas inocentes da última guerra civil que sangrou a República de El Salvador até 1992, ceifando nada menos que 70.000 vidas.
Ignacio Ellacuría (Foto: Religión Digital)
Da mesma forma, reflete sobre a exortação apostólica do Romano Pontífice, publicada no passado dia 4 de outubro, que representa um “desenvolvimento orgânico” da encíclica anterior e volta ao tema da crise ambiental. Dá “um novo impulso à necessidade urgente de responder sistematicamente” ao problema cada vez mais premente do aquecimento global.
Czerny propõe que a crise ecológica é “uma crise de cultura”, como afirma Francisco no seu documento magisterial. Deriva, em grande parte, da falta de reconhecimento do outro como irmão ou irmã de quem devemos cuidar, da mesma forma “com que a UCA dos mártires quis ensinar a responsabilidade social como essencial para qualquer cristão no processo de formação e querendo alcançar, através de seus alunos, a transformação das estruturas que perpetuam as injustiças”.
Mártires UCA (Foto: Religión Digital)
O prefeito afirma que “a condição necessária, mas não suficiente, para dar novo vigor ao compromisso com a guarda da casa comum é a conversão pessoal, que pode gerar transformações culturais”. Portanto, é urgentemente necessária uma educação adequada sobre e para a “responsabilidade ambiental”.
No entanto, reconhece que a formação não é suficiente e garante que nunca seremos capazes de responder a este desafio sem decisões corajosas e vinculativas a nível internacional. Sem estas disposições, “será difícil gerar transformações sólidas e duradouras, especialmente mitigando os efeitos diferenciados sobre as populações empobrecidas e mais vulneráveis, por exemplo, os muitos deslocados na América Latina devido à crise climática”.
Por estas razões, segundo Czerny, o Papa solicita veementemente que a 28ª Conferência das Partes sobre as Alterações Climáticas (COP28), da qual participará o Sucessor de Pedro, se esforce por “propor formas vinculativas que garantam a transição energética”, que sejam eficazes, obrigatórios e que possam ser avaliados. (...) As recentes COP mudaram o foco para finanças e contribuições para compensar os danos causados pelas alterações climáticas aos países mais afetados”, acrescenta.
Czerny enfatiza a reafirmação e a vivificação do multilateralismo como chave para a transformação, tal como expresso pelo Santo Padre no documento pontifício. Ele lembra também que o Papa incentiva as organizações da sociedade civil a exercerem uma pressão construtiva e saudável na política, “para que cada governo cumpra o seu dever urgente e inevitável de preservar os recursos naturais do seu país, como bens da criação para procurar que todos tenham vida e a tem em abundância.”
Duas semanas após o 34º aniversário do martírio, Czerny acompanhará Francisco na COP28 em Dubai, “transformando esta carta e a nossa rememoração dos mártires da UCA em ‘palavra e ação’, bem como em memória e oração”.
Logo da COP28 (Foto: divulgação)
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Cardeal Czerny: “A UCA dos mártires quis ensinar a responsabilidade social como essencial para qualquer cristão” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU