09 Agosto 2023
Estamos perante uma personalidade que desperta o interesse geral num mundo como o nosso semeado de dúvidas e suspeitas. Ela é uma mulher do nosso tempo que falava a nossa mesma língua e estava imersa nas nossas mesmas misérias intelectuais. Com o tempo, conseguiu encontrar a luz iluminadora que lhe permitia romper as barreiras obscuras e opressivas, não ignorou os problemas do seu tempo, lutou pela igualdade das mulheres e foi vítima de muito ódio e incompreensão. No dia da sua elevação aos altares, João Paulo II saudou-a com estas palavras: “Curvamo-nos profundamente perante o testemunho de vida e morte de Edith Stein, extraordinária filha de Israel e filha do Carmelo ao mesmo tempo. Uma personalidade que reúne em sua rica vida uma síntese dramática do nosso século. A síntese de uma história cheia de feridas profundas que continuam a doer até hoje... síntese ao mesmo tempo da verdade plena sobre o homem, num coração inquieto e insatisfeito até encontrar repouso em Deus".
A reportagem é de Ángel Gutiérrez Sanz, publicada por Religión Digital, 09-08-2023.
Edith Stein nasceu em Breslau, na Alemanha, em 12-10-1891. Do ponto de vista humano, podemos dizer que, devido à sua condição de judia e mulher, ela veio ao mundo no momento e no lugar mais inapropriados. Ela era a última de 11 irmãos. Seu pai chamava-se Siegfried Stein e sua mãe Auguste Courant, ambos judeus praticantes, dedicados ao comércio madeireiro com serraria própria. Devido à morte precoce de Siegfried, é a mãe que tem que se dedicar inteiramente à família, da qual Edith se lembraria com carinho mais tarde, dizendo: “Tudo em nossa casa recebeu vida e calor de nossa mãe”.
A caçula da família logo começou a dar sinais de ser uma menina inteligente, alerta e teimosa, de certa forma se sente constrangida no meio familiar e abomina todo protecionismo, vive determinada a alcançar objetivos naquele momento fora do alcance das mulheres. Ele começa cursando o ensino médio em sua cidade natal com notável sucesso, mas de repente, aos 15 anos, sofre uma crise que a faz abandonar os estudos e também a leva a perder a fé, caindo no ateísmo. Ela se refugia na casa da irmã casada que morava em Hamburgo e aqui passará algum tempo ajudando nas tarefas domésticas. Dez meses depois, voltou para sua cidade natal e retomou os estudos, conseguindo se atualizar sem muita dificuldade.
Ele entra na Universidade de Breslau, mostrando seu brilhantismo intelectual. Durante a sua passagem por esta universidade, fundou uma associação de mulheres com o objetivo de promover a “igualdade entre os sexos”, colaborando estreitamente com Kaethe Scholz, professora que ministrava cursos de filosofia para mulheres. É uma jovem inquieta e rebelde que se rebela contra a mentalidade da época, segundo a qual a mulher deveria ser relegada ao âmbito familiar. Defende com veemência que as mulheres têm o mesmo direito que os homens à satisfação das suas aspirações profissionais, o que, diz-nos, é salutar para "o desenvolvimento da personalidade individual, que correspondem também às demandas sociais que exigem a integração das forças femininas na vida do povo e do Estado”. Através das suas ações e dos seus escritos, sempre foi uma defensora dos valores e direitos da mulher moderna, ao mesmo tempo que soube salvaguardar a sua identidade e dignidade humana, mas acaba por perceber que esta universidade fica aquém dela. Ela se despede de sua família e transfere seu arquivo para a Universidade de Götinger.
Edith completou 21 anos e começa a se destacar neste centro universitário. Ela será a primeira doutora em Filosofia pela Universidade de Götinger. A aluna preferida de Husserl, a despeito de Heidegger, embora ele se aproveitasse de sua condição masculina, ela seria, apesar de tudo, a colaboradora do professor e sua assistente, sua aluna preferida.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a vemos trabalhando como enfermeira em um hospital militar e um evento crucial finalmente acontecerá em sua vida. No verão de 1921, foi passar algumas semanas com D. Edwiges, viúva de um grande amigo seu, discípulo como ela de Husserl, e ali acabou por tropeçar na autobiografia de Teresa de Ávila. Quando terminou de ler o livro, fechou-o e disse para si mesmo: "Esta é a verdade".
O que virá a seguir é consequência desse choque interno. Ela decide entrar para um convento da ordem fundada pela santa castelhana e em 14-10-1922 vê seus desejos realizados. Aqui dedicar-se-ia à contemplação dos sagrados mistérios e à santificação da sua alma, embora sem abandonar a sua atividade intelectual, sendo muitos dos seus valiosos escritos desta época. João da Cruz está ensinando-a a se livrar de tudo e viver apenas do amor, até que chegou o fatídico 2 de agosto, quando a Gestapo entrou no convento para prendê-la. Algumas páginas ficaram sobre a mesa em que esta carmelita estava escrevendo “Ciência da Cruz”. Edith permaneceu inalterada diante de uma situação tão trágica, ela há muito havia colocado sua vida nas mãos de Deus.
Reflexão do contexto atual: Edith Stein é uma santa de nossos dias, que nos é apresentada como modelo de mulher comprometida com a igualdade dos sexos, que luta pela defesa da mulher a ponto de comprometer sua própria situação pessoal, porque graças a ela abriram portas que até agora estavam fechadas ao sexo feminino, que usa argumentos contundentes para defender a dignidade da mulher, sem ter que abrir mão de sua própria identidade feminina, porque ela não precisa disso, já que ela tem tudo o que precisa, você tem que se sentir confortável com o que é. Edith, por muitas razões, foi chamada a exercer o protagonismo do feminismo que a mulher de nosso tempo precisava. Ela também foi um exemplo de filósofa genuína em sua busca honesta pela verdade, uma santa contemplativa, uma filha digna de Santa Teresa e de João da Cruz, Doutor da Igreja. Ela é copadroeira da Europa, juntamente com São Bento.
Hoje, 09-08-2023, em Roma, o Papa Francisco recordou Edith Stein:
“Hoje celebramos a memória de Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), Virgem e Mártir, copadroeira da Europa: o seu testemunho estimule o compromisso a favor do diálogo e da fraternidade entre os povos e contra toda forma de violência e de discriminação. À sua intercessão confiamos a cara população da Ucrânia, para que rapidamente possa reencontrar a paz”.
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Edith Stein. Santa Teresa Benedita da Cruz - filósofa, carmelita descalça, padroeira da Europa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU