24 Julho 2023
A Santa Sé está confiante, mesmo que as relações diplomáticas com o país asiático sejam inexistentes há 70 anos. A missão visa facilitar a troca de prisioneiros entre Kiev e Moscou e a proteção de crianças deportadas para a Rússia.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 21-07-2023.
A confiança se esvai no Vaticano: depois de Kiev, Moscou e Washington, a próxima parada do cardeal Matteo Zuppi, enviado de Francisco para a "missão de paz" desejada pelo Papa, será na China. Era sabido que a Santa Sé agora estava olhando para Pequim, talvez por canais informais. Mas a perspectiva de uma viagem parecia difícil, considerando que o Vaticano e a China não mantinham relações diplomáticas formais há mais de setenta anos, quando Mao assumiu o poder e o núncio Antonio Riberi foi forçado a deixar o país dois anos depois, em 5 de setembro de 1951. No entanto, as coisas estão caminhando, as autoridades chinesas se manifestaram dispostas a atravessar o Tibre, ainda não há detalhes, mas o trabalho está em andamento para definir um programa e possíveis datas.
A Santa Sé espera que a abertura dos canais humanitários propicie negociações de paz atualmente impensáveis. A "missão" de Zuppi, em trabalho com a Secretaria de Estado, visa incentivar as trocas de prisioneiros, já obtidas nos últimos meses pela diplomacia vaticana, e sobretudo o retorno de crianças ucranianas deportadas para a Rússia, 19.592 segundo Kiev. Existe um acordo com o presidente ucraniano Zelensky, tentou-se em Moscou definir um mecanismo, acordar trocas de listas. Mas não é fácil e a Santa Sé busca a ajuda de potências próximas aos combatentes: Estados Unidos e China. O cardeal Zuppi acaba de concluir sua viagem a Washington, de 17 a 19 de julho. Até os Estados Unidos, aliados da Ucrânia, temem o risco de uma escalada do conflito. A "mediação humanitária" da Santa Sé é bem recebida.
Dom Christophe Pierre, núncio nos Estados Unidos e cardeal designado no próximo consistório no final de setembro, explicou à mídia vaticana que "o presidente Biden ouviu muito, também expressou sua satisfação com a iniciativa do Papa e tivemos uma longa troca de pontos de vista do presidente e do Santo Padre sobre o assunto". Acima de tudo, "o cardeal Zuppi insistiu muito no fato de que queremos contribuir, mas não temos potencial para resolver todos os problemas imediatamente. Conhecemos sua complexidade. Depois insistiu na dimensão humanitária e no desejo do Santo Padre de contribuir de todas as formas possíveis, mas em particular, para a situação das crianças, as crianças que foram trazidas da Ucrânia para a Rússia".
Mesmo com a China, próxima da Rússia, buscar-se-á apoio para a mediação humanitária. A disponibilidade para acolher o enviado do Papa não era um dado adquirido. As duas coisas não estão diretamente relacionadas, mas certamente ajudaram as relações dos últimos anos, embora às vezes difíceis: o acordo de dois anos ad experimentum sobre a nomeação dos bispos assinado em Pequim em 22 de setembro de 2018 e prorrogado duas vezes em 2020 e 2022.
Um acordo limitado ao nível "eclesial e religioso", e ainda não diplomático, que, no entanto, abriu canais de diálogo. Dificuldades não faltam, na semana passada o Vaticano anunciou a decisão do Papa de nomear Joseph Shen Bin como bispo de Xangai, depois que as autoridades chinesas já o haviam transferido unilateralmente da diocese de Haimen. “Esta forma de proceder não parece levar em conta o espírito de diálogo e colaboração estabelecido entre o Vaticano e as partes chinesas ao longo dos anos e que encontrou um ponto de referência no acordo”, explicou o cardeal Parolin à mídia vaticana. No entanto, “o Santo Padre decidiu, em todo o caso, remediar a irregularidade canônica criada em Xangai, em vista do maior bem da Diocese e do frutuoso exercício do ministério pastoral do bispo”. Para evitar problemas semelhantes no futuro, "me parece que a abertura de um escritório de ligação estável da Santa Sé na China seria extremamente útil", observou o secretário de Estado vaticano. Mas enquanto isso os canais permanecem abertos.
“A viagem do cardeal Zuppi à China não só é possível, mas também desejável”, considera Marco Impagliazzo, presidente da Comunidade de Sant'Egidio. "A China é um interlocutor fundamental no equilíbrio geopolítico global e pode influenciar a Rússia".
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Vaticano: “Matteo Zuppi em breve na China”. Pequim estaria aberta ao diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU