14 Julho 2023
O principal geopolítico russo, Alexander Dugin, de 71 anos, é considerado, por amigos e inimigos, o principal assessor estratégico do czar Vladimir Putin. Em um artigo recente em geopolitics.ru, apresenta-nos dois cenários geopolíticos prováveis como saída para a atual crise na Ucrânia, sendo um bom e outro terrível.
A reportagem é de Damian Arias Matos, publicada por Acento, 13-07-2023. A tradução é do Cepat.
O cenário bom apresenta uma saída negociada para a guerra que iniciou em 2014, após os fracassos do esperado descumprimento dos acordos de Minsk, na Bielorrússia, acelerada pela jogada estratégica russa, em 24 de fevereiro do ano passado.
O cenário terrível, que incluiria um deslocamento para o leste, para onde o mundo se move, levando o teatro de operações militares até Taiwan, poderia colocar o mundo no limite ou em um cenário de confronto entre China e Estados Unidos, com o uso de armas nucleares estratégicas, uma vez que, bem observado, um é o contraponto do outro em termos de poder global.
Dugin é o ideólogo da quarta teoria política, apresentada em seu livro com o mesmo nome, que consiste em descartar o liberalismo, o fascismo e o comunismo para que prevaleça o eurasianismo, ou seja, a preeminência dos estados euroasiáticos frente ao declínio e notável decadência da civilização ocidental. Cabe notar que as quatro concepções geopolíticas são marcadas pela economia, como motor da história, não desprovidas de um pano de fundo ideológico, onde sobressai o comunismo.
Dugin é filho de um tenente-general da era soviética, que serviu na KGB e tem grande impacto e ascendência nos centros de pensamento das forças armadas russas. No ano passado, sua filha Darya Dugina, uma jornalista russa de 29 anos, foi assassinada em um atentado que não foi totalmente esclarecido, mas atribuído a uma vingança de terroristas e militares ucranianos, que aponta diretamente para o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky.
O analista russo Sergey Karaganov defende a posição de que a Rússia utilize armas nucleares táticas, ou seja, de pouco impacto destrutivo, contra países europeus para, assim, prevenir uma terceira guerra mundial, ao estilo do presidente Harry S. Truman contra Hiroshima e Nagasaki. Consideramos que um cenário semelhante, em vez de preveni-la, seria o estopim para que as outras potências respondessem ao ataque com armas nucleares, neste caso, os Estados Unidos, como potência líder e patrocinadora da OTAN, a França, único estado europeu da organização com capacidade nuclear, em terceiro, o Reino Unido, que não pertence a tais territórios, mas, sim, geopoliticamente e por alinhamento à Europa.
O cenário terrível para Alexander Dugin consistiria em não fazer nada, deixar tudo como está, referindo-se à guerra na Ucrânia, assim o desastre se repetirá e desta vez será fatal, e antecipa uma frase digna de Tolstói: “o inimigo lança sua segunda onda de ataques mais poderosa. A única maneira de derrotar a insurgência Wagner é nos tornarmos Wagner. Precisamos de um exército de triunfadores”.
O recente episódio do mercenário chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que alguns analistas consideram uma montagem, uma encenação traçada por Putin e codirigida por Prigozhin, teve como objetivo fortalecer Putin, levando em conta a saída dada para o conflito, comparada pelo presidente Putin com a derrubada do czar Nicolau II, em 1917, e a tomada do poder pelos bolcheviques.
A crise aparente ou real entre Putin e o Wagner, grupo que recebeu pagamentos por serviços de guerra de mais de um bilhão de dólares, segundo declarou Putin, foi curta, 36 horas de intrigas, resolvida pela intervenção do presidente da Bielorrússia, Lukashenko. que atuou como intermediário entre o presidente e seu ex-chefe de cozinha.
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Alexander Dugin e a morte global - Instituto Humanitas Unisinos - IHU