Nós somos a mudança de época. Artigo de Armando Matteo

(Foto: Javier Allengue | Unsplash)

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11 Abril 2023

Precisamos tomar consciência de que nós não estamos em uma época de mudança, mas sim em uma mudança de época. Mais: nós somos a mudança de época.

A opinião é do teólogo italiano Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Settimana News, 07-04-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo, o oitavo, o nono, o décimo, o décimo primeiro, e o décimo segundo artigos da série.

Eis o artigo.

Tempos atrás, encontrei-me em um incrível engarrafamento às portas de Milão. Centenas e centenas de carros na minha frente, ao meu redor e atrás de mim. E, nesses casos, como se sabe, a paciência nunca é suficiente.

Porém, foi iluminador para mim naquela ocasião uma placa de trânsito: “Você não está no trânsito. Você é o trânsito”. Portanto, não era unicamente dos outros motoristas a culpa por aquele trânsito terrível. Eu também fazia parte – e parte ativa – daquele engarrafamento.

Essa breve recordação pessoal me permite lembrar um elemento fundamental da Opção Francisco: aquele que diz respeito à necessária tomada de consciência de que nós não estamos em uma época de mudança, mas sim em uma mudança de época. Mais: nós somos a mudança de época.

E é precisamente isso que nos torna milhões de vezes diferentes dos nossos pais e dos nossos avós. E é precisamente tal situação inédita ainda que manda às favas a proposta do cristianismo como experiência de consolação e torna totalmente ineficaz a pastoral do acompanhamento.

Mudança de época

Mas precisamente em que consiste o fato de sermos “a mudança de época”? Consiste no fato de que habitamos o humano que é comum de uma forma totalmente diferente daquela que caracterizou a existência dos nossos pais e dos nossos avós.

Concretamente, isso se deve e se manifesta, acima de tudo, no fato da longevidade. Como cidadãos ocidentais, desfrutamos de cerca de 30 anos a mais de expectativa de vida do que nossos antecessores. E não se trata de um simples prolongamento da velhice. Trata-se de anos a mais que, graças aos desenvolvimentos da medicina e da pesquisa farmacêutica, ao bem-estar generalizado, ao fato de termos casas quentes no inverno e frescas no verão, à ausência de trabalhos desgastantes, desenham um horizonte totalmente diferente da existência humana.

Um segundo elemento de distinção encontra-se, além disso, naquele enorme ganho de tempo que temos hoje à disposição graças ao advento em grande estilo da técnica e de suas descobertas.

Uma terceira diferença está ligada à decisiva contenção da experiência do sofrimento e da dor. Quantos milagres a medicina, a pesquisa farmacêutica e a psicanálise fizeram!

Subjetividade nova e inédita

Outro elemento é o fato de que, do ponto de vista econômico, estamos muito melhor do que em qualquer outro momento histórico do passado. Há um bem-estar tão generalizado que nos levou desde o tempo em que as nossas avós tinham o problema de combinar o almoço com o jantar até o tempo em que muitos de nós temos o seriíssimo problema de escolher qual é a dieta mais eficaz para chegarmos preparados ao inevitável encontro com a roupa de banho!

E depois a internet! Graças a ela, é dada a cada um de nós – sem qualquer distinção de idade, grau de escolaridade e orientação política, existencial, religiosa ou de outra natureza – a possibilidade de “tomar a palavra”: a possibilidade de dar e encontrar espaço para o próprio “eu” depois de séculos de sujeição de todos os tipos.

E é precisamente a sujeitos feitos assim que hoje os cristãos devem anunciar o Jesus do Evangelho e o Evangelho de Jesus.

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