- Um tribunal brasileiro confirmou definitivamente a sentença de 14 anos de prisão contra o então delegado de polícia acusado de assassinar o missionário espanhol e jesuíta Vicente Cañas há 35 anos, que morreu por sua defesa ferrenha de uma reserva indígena na Amazônia brasileira.
- Segundo o Ministério Público, o tribunal considerou provado que o ex-delegado, “além de recrutar os autores do crime, orientou-os sobre a forma como deviam proceder à execução e efetuou o pagamento do serviço”.
- Cañas, nascido em 1939 em Alborea (Albacete, Espanha), chegou como missionário ao Brasil em janeiro de 1966, cinco anos depois de ingressar na Companhia de Jesus. Passou por diferentes comunidades indígenas até se estabelecer em uma aldeia dos Enawenê-Nawê, onde viveu como um deles e com quem se uniu na defesa de suas terras ancestrais.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 14-03-2023.
Um tribunal brasileiro confirmou definitivamente a sentença de 14 anos de prisão contra o então delegado de polícia acusado de assassinar o missionário espanhol e jesuíta Vicente Cañas, há 35 anos, que morreu por sua ferrenha defesa de uma reserva indígena na Amazônia brasileira.
A sentença, proferida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, confirmou a condenação imposta há cinco anos contra o ex-delegado Ronaldo Antonio Osmar por homicídio qualificado, informou o Ministério Público Federal nesta segunda-feira, 13 de março.
Vicente Cañas. (Foto: Reprodução | Religión Digital)
Executores recrutados e orientados
Cañas, conhecido pelos indígenas como Kiwxí, foi assassinado violentamente em abril de 1987 em uma cabana na terra indígena Enawenê-Nawê, próximo ao município de Juina, no estado do Mato Grosso.
Segundo o Ministério Público, o tribunal considerou provado que o ex-delegado, “além de recrutar os autores do crime, orientou-os sobre a forma como deviam proceder à execução e efetuou o pagamento do serviço”.
Osmar, que chegou a participar das investigações do homicídio, foi absolvido em 2006 pelo júri, mas o Ministério Público recorreu e conseguiu que a Justiça decretasse um novo julgamento.
Em novembro de 2017, então o único réu ainda vivo no assassinato do missionário espanhol, foi condenado a 14 anos e 3 meses de prisão por um novo júri em um tribunal de Cuiabá. Um novo recurso permitiu que o ex-delegado ficasse em liberdade por mais cinco anos enquanto aguardava a decisão do Tribunal Regional Federal, contra a qual não cabe mais recurso.
Vicente Cañas, SJ, "Kiwxí". (Foto: Reprodução | Religión Digital)
Um missionário que viveu como um indígena
Cañas, nascido em 1939 em Alborea (Albacete, Espanha), chegou como missionário ao Brasil em janeiro de 1966, cinco anos depois de ingressar na Companhia de Jesus. Passou por diferentes comunidades indígenas até se estabelecer em uma aldeia Enawenê-Nawê, onde viveu como um deles e se juntou a eles na defesa de suas terras ancestrais.
Sua posição em defesa da criação de uma reserva para essa comunidade antagonizou grandes proprietários de terras interessados em aumentar suas terras agrícolas. De acordo com a investigação, Cañas foi morto a facadas após ser violentamente agredido, teve o crânio fraturado e os órgãos genitais arrancados.
Após a decisão judicial, os Enawenê-Nawê aguardam a entrega da caveira de Cañas, único branco batizado como membro daquela etnia, que está nas mãos das autoridades como prova do processo judicial, para poderem sepultar ele e para que seu espírito finalmente descanse de acordo com suas crenças.
Dos seis acusados do assassinato, dois morreram antes do julgamento, outros dois tiveram seus processos arquivados por terem mais de 80 anos e também morreram, e os dois únicos levados a tribunal foram absolvidos em 2016 por suposta falta de provas.
Além de Osmar, na época foi absolvido o fazendeiro José Vicente da Silva, acusado de ser um dos autores materiais e que morreu antes de responder ao novo julgamento.
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Confirmada a condenação do policial que assassinou o jesuíta Vicente Cañas há 35 anos no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU