30 Janeiro 2023
A incidência da Covid-19 alterou o trabalho educacional em seminários protestantes, concluíram participantes da Consulta “Pedagogia e Pandemia”, reunida em dezembro no Trinity Theological Seminary em Accra, Gana. A pandemia destacou benefícios, limitações e injustiças da educação teológica presencial.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Nos tempos pré-pandemia, analisou a Diretora de Educação Contextual do Seminário Teológico Evangélico Luterano no Canadá, Kayko Drieger Hesslein, a educação teológica era vista principalmente como “uma atividade espiritual” e “os corpos que carregam esse espírito foram amplamente negligenciados”.
Já em contraste, nos anos de pandemia, a reclamação mais comum era o quanto alunos e professores sentiam a falta da presença física de outras pessoas. Essa percepção, disse Drieger Hesslein, conduz a importantes percepções teológicas porque “nossa fisicalidade faz parte do plano de Deus para nossa existência” e esse “físico é fundamental para o relacionamento de Deus conosco”.
O covid provocou uma repentina mudança na educação teológica, passando do presencial para o aprendizado online. Essa alteração rompeu “nossa estrutura de relacionamentos baseados em proximidade física e espalhou nossas comunidades em uma diáspora digital, prejudicando nossos relacionamentos em Cristo”, apontou a reitora.
É possível, perguntou Drieger Hesslein, que o recente aumento da alienação e da polarização se deva às “interações on-line desincorporadas”? Ao mesmo tempo, a educaç ão on-line fornece acesso para aquelas pessoas que não podem viajar fisicamente até uma sala de aula, seja por causa de deficiências, despesas de viagem, cuidados ou outras limitações. Portanto, educadores precisam prestar mais atenção às necessidades físicas de seus alunos e à presença de familiares ou outros “na periferia” com os quais alunos e alunas interagem.
A diretora da escola de teologia da Universidade Bíblica Latino-Americana de San José, Costa Rica, Karla Koll, relatou na Consulta que a pandemia “aumentou os traumas de racismo e injustiça” vividos por muitas pessoas na região. Ela compartilhou lições importantes que a pandemia deixou, como a necessidade de “reconhecer nossas vulnerabilidades e limitações para superar o modelo de super capelão” que os líderes da igreja tradicionalmente aspiram.
“O coronavírus nos ensinou a nomear nossa experiência compartilhada de desamparo e a reconhecer que nosso trabalho é mais acompanhar pessoas que lutam com perguntas do que ter todas as respostas em mão”, disse Karla Koll. O pastor e professor associado de Psicologia no Fuller Theological Seminary da Califórnia, David Wang, comentou pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrando um aumento significativo nos casos de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.
Mesmo pessoas de fé, observou, experimentam “lutas espirituais como raiva de Deus” e enfrentam questões teológicas cada vez mais complexas. Elas contam, contudo, com mais recursos nas comunidades religiosas para ajudá-las a acalmar a raiva e controlar a depressão, incluindo uma compreensão de valores como humildade, perdão e aceitação, bem como o sentimento de pertença a um espaço seguro para processar traumas.
Mensagem final da Consulta, informa o serviço de Imprensa da Federação Luterana Mundial (FLM), realça a importância da mudança no ensino e estudo no mundo pós-pandemia. “Não enfrentamos apenas o desafio de traduzir modelos estabelecidos de aprendizado, educação espiritual e treinamento para o ministério em novos formatos”. Será preciso “repensar o que significa educação teológica, para quem é, quais seus objetivos e aos quais ela leva”.
A consulta foi organizada pela FLM, a Comunhão Mundial das Igrejas Reformadas, o Conselho Mundial de Igrejas e a Missão Evangélica Mundial.
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Consulta aponta transformações na educação teológica provocadas pela Covid - Instituto Humanitas Unisinos - IHU