20 Dezembro 2022
Será Natal também para as crianças ucranianas. Um Natal de guerra, para os que ficaram no seu país. Um Natal longe de casa, para aqueles forçados a fugir nestes dez meses de conflito. Há Masha, de 9 anos, que o passará em uma cidade litorânea de Kent, na Grã-Bretanha, mas sem o pai, que ficou em Kiev.
A reportagem é de Niccolò Carratelli, publicada por La Stampa, 19-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há Krhystyna, 8, de Bucha, com o cabelo que ficou grisalho devido ao trauma sofrido durante os bombardeios. E há Karina, 12, que fugiu de casa duas vezes por causa da guerra: primeiro em 2014, para escapar dos combates em Donetsk, e este ano, quando os mísseis atingiram sua casa em Odessa. Depois Iana, Pavlo, Dymitro.
Os nomes são inventados, as histórias são todas verdadeiras, contadas através das fotos divulgadas pela Save the Children, que documentam as vidas das crianças e das suas famílias, que ainda estão em zonas de guerra ou que vivem como deslocados na Ucrânia, Romênia e Reino Unido. As imagens mostram as consequências de quase dez meses de guerra, que devastou a vida de 7,5 milhões de crianças ucranianas. De acordo com estimativas das Nações Unidas, os contínuos ataques aéreos, mísseis e bombardeios desde fevereiro deste ano causaram a morte de mais de 400 crianças e mais de 700 delas sofreram ferimentos que alteraram suas vidas. No entanto, o número real provavelmente será muito maior.
Por outro lado, quase 8 milhões de pessoas foram forçadas a fugir da Ucrânia para países europeus: 40% delas são crianças. Estima-se que 6,5 milhões de pessoas que permanecem dentro das fronteiras ucranianas tiveram que abandonar suas casas devido ao conflito e são deslocadas. Muitos agora se veem forçados a enfrentar um inverno cheio de dificuldades e restrições devido a temperaturas congelantes, apagões e falta de abrigo.
A mãe de Krhystyna lembra daqueles dias trancados no porão em Bucha e admite que, quando trança os cabelos de sua filha e vê que ficaram grisalhos pelo medo, "eu começo a chorar, porque ela é uma garotinha e já teve que passar por essas coisas: se Deus não tivesse impedido que a casa fosse atingida, teríamos morrido enterrados”. A menina de 8 anos ainda consegue pensar no Papai Noel: “Quando ele chega, já estamos dormindo. Acordamos de manhã e vamos abrir os presentes”. Eles serão abertos no norte da Romênia por Karina, de 12 anos, que com sua família encontrou refúgio no centro de apoio Save the Children. “Eu encontrei todos os meus amigos lá. Eles organizam viagens, ajudam com comida, água e roupas - conta. Durante alguns de seus encontros eu chorei, conseguiram entrar na minha alma. Encontrei apoio e compreensão." Quanto ao Natal em particular deste ano, Karina explica: "Algo vai faltar: a atmosfera do Natal ucraniano".
Iana e Pavlo também estão na Romênia, com o pai, a mãe, cinco irmãos e três irmãs. Todos se lembram daquele dia no final de março, da explosão que derrubou o teto de sua casa, as janelas estilhaçadas, depois a fuga para a estação mais próxima. Dmytro, por outro lado, ficou lá: vive com a mãe e seis irmãos mais novos no norte da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia e a Bielo-Rússia.
Quando começaram os combates, a família viveu por um mês sem luz nem água.
Em seguida, a casa pegou fogo, devido a um curto-circuito e ficou reduzida a escombros. Perderam tudo, mas com o apoio da comunidade compraram uma nova casa na mesma aldeia.
Este é o presente de Natal mais importante para eles, enquanto Masha na Inglaterra não receberá o que realmente deseja: “Gostaria que meu pai viesse aqui, ou pelo menos falar com ele ao telefone - explica ela.
Ele me disse que tudo que eu desenho pode se tornar realidade. Então desenhei todos nós juntos, como se estivéssemos na praia no próximo verão. E enquanto o desenhava, sentia-me feliz”. Quando lhe perguntam sobre o que gostaria de ganhar no Natal, Masha responde: "Quero paz". A esperança é a descrita por Sonia Khush, diretora da Save the Children na Ucrânia: “À medida que esta guerra continua, um nível sempre novo de violência contra as crianças é alcançado. É preciso que este seja o último Natal em que crianças ucranianas vivam sob ataque ou longe de casa”.
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O Natal para as crianças ucranianas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU