16 Dezembro 2022
Falando sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, o papa disse que "os mais cruéis são os chechenos e os buriates". Era 28 de novembro, dia da difusão multilíngue da entrevista de Francisco à revista dos jesuítas estadunidenses America. Imediatamente depois, partiram de Moscou, sem parar, ondas bem orquestradas de críticas, ataques e ofensas contra o Pontífice. Agora, 17 dias depois, algo inédito e impensável aconteceu: com nota oficial assinada pelo cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, o papa pediu desculpas a Vladimir Putin. O texto preciso da nota não é conhecido e permanecerá em segredo até que a Rússia decida, de acordo com seus interesses, repassar o texto para a imprensa mundial. O diretor da Sala de imprensa do Vaticano, questionado pelos jornalistas a esse respeito, respondeu: “No momento, posso confirmar que houve contatos diplomáticos nesse sentido”.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada por Il Sismografo, 15-12-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na memória dos vaticanistas experientes, aquelas pessoas que são analistas, peritos e observadores dos assuntos da Santa Sé, não há sequer uma única lembrança de um evento semelhante nos pontificados, de Pio XII até hoje. Conversamos com alguns deles, residentes em diferentes países, sobre esse assunto extremamente delicado e de consequências relevantes.
O gesto do papa também não tem precedentes inclusive porque Francisco usou expressões muito mais fortes, aliás fortíssimas, no caso do aborto, dos médicos que praticam o aborto, da relação famílias-animais, sobre as populações com alto crescimento democrático, sobre a suposta patologia homossexual, etc., sem nunca fazer concessões, sem chegar a pedir desculpas a quem se sentiu ofendido por suas palavras.
Francisco pediu desculpas em diversas ocasiões, de forma pública e aberta, diante das responsabilidades pastorais da Igreja ao longo de sua história, como no caso recente de sua visita ao Canadá ou nos tantos casos de pedofilia pelo mundo. No contexto das relações internacionais com outros Estados, não resulta que Francisco ou outros papas antes dele tenham pedido desculpas por suas posições. Neste caso, trata-se de uma questão diplomática de relevância mundial no contexto de uma guerra que ele mesmo chamou de "guerra mundial em pedaços".
Além disso, deve-se enfatizar que o papa disse que chechenos e buriates, na guerra contra a Ucrânia, são "os mais cruéis". Em 108 discursos específicos sobre o conflito Rússia-Ucrânia, o pontífice disse coisas muito mais graves e decisivas: guerra suja, sacrílega, cruel, feroz, assassina, desumana, comparável aos acontecimentos do Holocausto e do Holodomor... e assim por diante.
Muitos católicos, mas não só, se perguntam sobre essas desculpas: como e por quê?
Neste ponto, também devemos nos perguntar o que pensam os ucranianos que sofrem as consequências dessa crueldade há 10 meses.
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Desculpas incomuns do Papa Francisco a Vladimir Putin. Como e por quê? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU