06 Outubro 2022
“Se Lula da Silva for novamente o presidente do Brasil, ainda que não nos garanta que colocará no centro a defesa da vida e gerará políticas verdadeiramente sustentáveis que detenham o extrativismo predominante na região, a Amazônia terá um respiro e uma nova oportunidade”, opina Andrés Kogan Valderrama, sociólogo, em artigo publicado por OPLAS, 04-10-2022. A tradução é do Cepat.
A vitória apertada de Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro no primeiro turno presidencial no Brasil, embora não tenha sido o resultado esperado, dado o alto número de votos para o candidato de ultradireita, traz certa esperança para o futuro da região e para aqueles que veem no negacionismo climático uma das principais ameaças políticas de nossos tempos.
Portanto, não se deve subestimar esse discurso de ultradireita, que diante da crise da democracia representativa no mundo e das instituições que a sustentam, personagens como Jair Bolsonaro, Donald Trump, Javier Milei e José Antonio Kast são porta-vozes de uma corrente política muito perigosa, ferozmente anticomunista, fundamentalista cristã e nacional-libertária, que não tem complexos em negar abertamente o patriarcado, o colonialismo e a crise ambiental imperante.
É esta última negação, a ambiental, que torna uma questão de vida ou morte que Bolsonaro não permaneça como presidente do Brasil, após seu desmantelamento da política ambiental no país, na qual a redução do orçamento para a conservação foi de 71% e o aumento do desmatamento 56,6%, entre 2019 e 2021 [1], colocando em risco a vida em todo o planeta.
Não se deve esquecer que dos 8.129.057 km2 da Amazônia, 67% estão no Brasil, motivo pelo qual deveria ser um território de vida protegido internacionalmente e pela Organização das Nações Unidas, mesmo que Bolsonaro diga que é de seu país, de maneira tão torpe, sendo incapaz de ver que o planeta está sistematicamente interconectado.
Além disso, caso Bolsonaro vença no segundo turno presidencial, só vai gerar mais mortes para todas aquelas pessoas que defendem o meio ambiente, o que no caso do Brasil é dramático, sendo o país do mundo com mais assassinatos (342) nestes últimos 10 anos, conforme destacam os relatórios da Global Witness [2].
Diante disso, se Lula da Silva for novamente o presidente do Brasil, ainda que não nos garanta que colocará no centro a defesa da vida e gerará políticas verdadeiramente sustentáveis que detenham o extrativismo predominante na região, a Amazônia terá um respiro e uma nova oportunidade.
Claro que não podemos esquecer que Lula, enquanto presidente, assim como o restante dos chamados governos progressistas da região, não foi capaz de propor uma integração regional ecológica e transições pós-extrativistas, aprofundando sua dependência dos chamados recursos naturais, mas ao menos há uma preocupação sua pelo dano gerado.
Refiro-me ao proposto por Lula para ser presidente: combater crimes ambientais, proibir a mineração em terras indígenas e fortalecer o Sistema Nacional do Meio Ambiente e a Fundação Nacional do Índio.
É verdade, muito pouco se faz do que propõe, em um país com tamanha responsabilidade pela Amazônia, que representa 40% da floresta tropical do mundo e 25% de toda a biodiversidade planetária, sendo fundamental em um contexto de aquecimento global e risco de acabar com as condições mínimas para a reprodução da vida.
Contudo, diante dele, temos um personagem que só vê a Amazônia como uma fonte ilimitada de recursos para explorar, chegando ao delírio de dizer que aqueles que estão querendo protegê-la fazem parte de um complô de esquerda promovido pela ONU para interferir em sua soberania.
Pela mesma razão, como disse em entrevista o ecoteólogo brasileiro Leonardo Boff, Jair Bolsonaro tem as características de um anticristo, por ser inimigo da vida, pois usa o nome de Messias para enganar seu povo e trata os indígenas como seres inferiores [3], o que deveria levar à reflexão aqueles que o apoiam e acreditam em suas mentiras.
Consequentemente, o povo do Brasil terá a última palavra no próximo dia 30 de outubro, dia do segundo turno presidencial e dia em que o mundo inteiro deve acompanhar o que acontece, pois o que está em jogo é muito mais do que o destino de um país, mas também de um planeta que precisa desesperadamente de uma guinada na forma como nos relacionamos uns com os outros e com o resto dos seres vivos, após séculos em que nos sentimos acima da Natureza.
[1] https://www.telam.com.ar/notas/202209/606448-amazonia-negacionismo-ambiente-lula-bolsonaro.html
[2] https://www.globalwitness.org/es/decade-defiance-es/
[3] https://www.youtube.com/watch?v=gOLH_nR0D0E
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Lula e um respiro para a Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU