28 Junho 2022
"Penso que a Igreja (e o Papa) ao abrir-se à modernidade de considerar o primado do amor - de um amor verdadeiro e global - deve, ao contrário, resguardar-se contra uma modernidade do 'hoje todo mundo é assim', que - considero eu - seria o fim da ética, de um comportamento verdadeiramente humano", escreve Luigi Bettazzi, Bispo emérito de Ivrea, em artigo publicado por La Stampa, 27-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Prezado Diretor,
Tive a oportunidade de ler, recentemente, a contestação à "modernidade" da Igreja e em particular do Papa Francisco, feita explicitamente por Vito Mancuso no La Stampa de 16 de junho, referindo-se ao fato de que o Papa Francisco teria reafirmado a doutrina tradicional da Igreja, ou seja, que o uso pleno do sexo só é admissível apenas no casamento, onde a plena relação sexual dá um conhecimento pleno e recíproco entre os esposos, como confirma também o antigo hebraico bíblico, onde unir-se sexualmente se chama "conhecer" (ver Adão e Eva, Gn 4, 1).
É verdade que o Concílio Vaticano II, mesmo lembrando depois (n. 50) que "o matrimônio e o amor são ordenados por sua natureza à procriação e à educação dos filhos", afirma claramente (n. 49) que "este amor se exprime e desenvolve de modo muito particular pelo exercício dos atos próprios do matrimônio; segue-se que os atos pelos quais os esposos se unem em casta intimidade são honrosos e dignos e, realizados de maneira verdadeiramente humana, favorecem a doação mútua que eles significam”.
Disso se depreende que, fora da situação conjugal, o uso pleno do sexo expressa apenas a força do erotismo e torna-se uma busca egoísta da própria satisfação. Não nego que isso aconteça muitas vezes entre pessoas que estão ligadas apenas por vínculos de amizade (mas não raramente também em encontros ocasionais - e muitas vezes, infelizmente - como ato de violência).
A essa "modernidade" a Igreja (e o Papa) não presta atenção, atenta (e atento) como é a ampliar a visão até onde a totalidade física expressa a totalidade da pessoa, advertindo contra uma extensão fácil e cômoda que autorizaria o uso indiscriminado da sexualidade.
O artigo a que me refiro, na realidade, poderia limitar-se - como pareceria em sua conclusão - àqueles que, tendo em vista o futuro casamento, desejam um conhecimento mais pleno e seu parceiro/a, com o risco inclusive que tal eventualidade aconteça desde o início da aproximação, enquanto é compreensível que dois noivos que não podem se casar por um certo tempo, às vezes cedam a esse impulso. Mas seria uma questão, mesmo neste caso, de uma sexualidade que expressa a totalidade das pessoas.
Outra "modernidade" se referiria às relações entre pessoas homossexuais, avaliadas hoje pela Igreja (e pelo Papa) com um olhar mais indulgente, mas ainda com certo rigor.
Acredito que também aqui deve aplicar-se o critério da totalidade da pessoa: se duas pessoas do mesmo sexo se amam muito, sentem ligadas uma à outra, por que lhes negar o uso da sexualidade, como expressão e como incentivo do seu amor? Será uma questão de avaliar qual seja o uso da sexualidade de que se valer. Mas se - sem julgar casos individuais – uma pessoa idosa mantém consigo um jovem como "outro", cabe suspeitar que não exista reciprocidade e que um usa o outro apenas como termo do próprio erotismo. Penso que a Igreja (e o Papa) ao abrir-se à modernidade de considerar o primado do amor - de um amor verdadeiro e global - deve, ao contrário, resguardar-se contra uma modernidade do "hoje todo mundo é assim", que - considero eu - seria o fim da ética, de um comportamento verdadeiramente humano.
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Caro Mancuso, você está errado, sobre o sexo a Igreja é moderna. Artigo de Luigi Bettazzi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU