20 Abril 2022
O vigário apostólico de Taytay – já bispo auxiliar da capital filipina, amadíssimos pelos mais pobres – comenta para a AsiaNews o clima do país convocado para a votação em 9 de maio. "Os direitos humanos são vistos cada vez mais como um fardo. È preciso fazer justiça sobre as execuções extrajudiciais." Seu apoio pessoal para Leni Robredo. E sobre a guerra na Europa ele diz: "O que os russos estão fazendo na Ucrânia, a China poderia fazer conosco".
Dentro de poucos dias, em 9 de maio, as Filipinas vão à votação para as eleições que vão designar o sucessor do presidente Rodrigo Duterte, além de muitos novos administradores em nível local. Mons. Broderick Pabillo - ex-bispo auxiliar e administrador apostólico da diocese de Manila e desde agosto de 2021 vigário apostólico de Taytay, na ilha de Palawan - foi um dos críticos mais agudos e corajosos de muitas das escolhas de Duterte, bem como - em geral - dos limites da democracia e dos direitos em seu país. Com ele AsiaNews fez um balanço da situação nas Filipinas em vista desta votação muito delicada.
A entrevista é de Stefano Vecchia, publicada por AsiaNews, 18-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
As Filipinas estão se aproximando de eleições importantes, até porque chega ao fim de um longo período de pandemia que atingiu duramente o arquipélago. O que o senhor pode nos dizer sobre isso e quais são as consequências da pandemia para os filipinos?
A pandemia nos mostrou como estamos todos conectados uns aos outros. Ninguém está seguro até que todos estejam seguros. Ainda existem muitas localidades, especialmente ilhas menos acessíveis e áreas montanhosas, onde o nível de vacinação foi modesto. Onde foi não foi possível alcançar à população e informá-la adequadamente sobre a pandemia. Durante a pandemia também ouvimos falar de casos de corrupção envolvendo a Secretaria de Saúde e a Pharmally, empresa em cuja defesa também interveio o presidente Duterte. Não temos dinheiro suficiente para comprar vacinas e proteger nossos agentes sanitários, mas a corrupção atingiu níveis bilionários. Obviamente, o desgoverno foi amplificado pela pandemia.
Inevitavelmente, uma consulta eleitoral dessa importância traz à tona muitas questões e problemas, colocando alguns deles em uma perspectiva nova ou diferente.
Outras questões que surgiram durante a campanha eleitoral são as mentiras descaradas visando a revisão do nosso passado. Isso colocou as mídias sociais em primeiro plano, especialmente em relação à ditadura de Marcos. Depois, há as questões de execuções extrajudiciais em nome da 'guerra às drogas' e a rotulação de todos os opositores e grupos progressistas como comunistas. Em todos esses abusos há uma falta de transparência e se manifesta a cultura da impunidade. Ninguém é responsabilizado pelos abusos cometidos.
Além da pandemia, há outras questões que convergem na votação de maio: economia, democracia, direitos humanos. Como o senhor vê a situação e como as eleições afetarão o futuro?
A economia está recuando, o país está muito endividado. Há abusos de direitos humanos, vistos cada vez mais como um fardo para o andamento dos projetos governamentais, especialmente os direitos dos pobres, dos trabalhadores e das populações indígenas. A política é minada pela pressão sobre a oposição política e grupos progressistas. Os mecanismos de equilíbrio de poderes estão sendo desmantelados. O Supremo Tribunal Federal foi subjugado com a expulsão de seu presidente, os representantes do governo na Comissão de Controle e na Comissão Eleitoral têm ligações com Duterte, assim como as forças armadas e a polícia. As Filipinas precisam de líderes que não tenham dívidas com o presidente em saída e que sejam independentes e corajosos ao apontar Duterte e seus responsáveis por seus abusos.
Junto com a operosidade e resiliência dos filipinos, duas coisas chamam a atenção internacional para as Filipinas. A primeira é a revisão da memória do ditador Ferdinand Marcos e a segunda é o reconhecimento da luta pelos direitos humanos e pela democracia da população confirmada pela entrega do Prêmio Nobel da Paz a Maria Ressa. Como o senhor explica esse aparente dualismo e como vê o papel da Igreja Católica no que parece ser uma luta permanente pelos direitos, paz e democracia?
Como povo, os filipinos certamente são resilientes, mas há um limite para sua paciência. O governo Duterte explorou essa paciência. O crescente apoio a Leni Robredo (a única candidata hoje capaz de contestar a afirmação de Ferdinand ‘Bongbong’ Marcos, filho do ex-ditador ndr) destacada pelos grandes comícios eleitorais, indica que as pessoas querem uma mudança de rumo de uma administração baseada na mentira, arrogância e intimidação. A Igreja pede que sejam reconhecidas as responsabilidades da atual administração. Seus abusos deveriam investigados, para que a justiça seja feita, especialmente para as vítimas de execuções extrajudiciais, que são milhares. Também estamos enfrentando uma corrupção desenfreada que está por trás do endividamento nacional. E precisamos de uma liderança forte para manter a nossa independência da China, sem cair nas mãos dos estadunidenses.
Quais são as principais questões que eleitores e candidatos deveriam ter em mente e quem entre os candidatos poderia responder melhor às necessidades e expectativas da população?
Direitos humanos, atenção ao meio ambiente, à economia, abusos dos militares, dependência dos chineses são alguns dos problemas que deveriam ser considerados prioritários. Deveríamos defender o nosso território dos interesses da República popular chinesa, principalmente sobre o Mar filipino ocidental (que os chineses chamam de Mar da China Meridional).
Deveríamos também ter programas que possam apoiar concretamente a saída da pobreza. Normalmente a escolha do candidato estava entre o menor dos males, mas desta vez não é assim: Leni Robredo e seu grupo não vêm de dinastias políticas, não são tocadas pela corrupção e têm fama de transparência e sinceridade no serviço aos pobres e no compromisso com os direitos humanos. Espero sinceramente que vençam, apesar de não disporem de recursos financeiros como outros políticos de longa experiência.
Como a Igreja Católica está acompanhando o processo eleitoral e como está direcionando os católicos para a votação de maio?
Como Igreja, pedimos que respeitem o voto, educamos para ressaltar com o voto o amor ao país e não se deixar enganar por quem tenta comprar seus votos. Também pedimos para ser ativos e apoiar bons candidatos na campanha eleitoral.
Uma última pergunta: como a população filipina vê a guerra na Ucrânia e o sofrimento de tantos no que também é uma demonstração de militarismo e autoritarismo, desprezo pelos direitos e pela vida?
O que os russos estão fazendo na Ucrânia, a China poderia fazer conosco. Se nós deixarmos que os russos possam agir impunemente, os chineses se sentirão encorajados a fazer o mesmo conosco ou em Taiwan, portanto nos associamos à condenação da invasão russa. Lastimavelmente, assim como Putin controla as mentes dos russos controlando os meios de comunicação de massa, Xi Jinping também controla a China.
Dito isso, todos os filipinos são diretamente atingidos pelas consequências econômicas provocadas pelo aumento dos preços das commodities desencadeado pela guerra.
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Filipinas. ‘Um presidente para os pobres em Manila, não um devedor de Duterte’, pede bispo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU