16 Janeiro 2015
“Os pobres são os nossos mestres”. Louis Antonio Tagle, cardeal de Manila, adora repetir essa frase de São Vicente de Paula quando fala do “ano dos pobres”, proclamado pela Igreja Filipina o ano de 2015.
A reportagem é de Paolo Affatato, publicada por Vatican Insider, 15/01/2015. A tradução é de Ivan Pedro Lazzarotto.
Acrescentando que “nas periferias iremos aprender”. E é significativo que, exatamente nesse quadro, se insira a viagem do Papa Francisco, que desembarcou hoje em Manila depois da passagem pelo Sri Lanka. O próprio Bergoglio, falando com jornalistas durante o vôo, confirmou que a viagem às Filipinas será conduzida sob o tema dos pobres.
O Ano dos pobres se insere numa preparação de nove anos, iniciada pela Igreja local visando 2021, quando ocorre o 5º centenário de evangelização, do primeiro batismo e da primeira missa celebrada no arquipélago. 2021 será o ano da “missio ad gentes”, enquanto, até essa data, cada ano trará um tema especial.
A cifra da “misericórdia e compaixão” – esse é o título oficial escolhido para a viagem do Papa – não pode ser adquirida sem inseri-la na ampla categoria da “pobreza” que suscita as reflexões da Igreja local. “Uma Igreja pobre e para os pobres”, é uma das expressões do Papa Francisco mais citadas junto aos bispos, sacerdotes e religiosos.
Por outro lado, a viagem papal tem como um dos momentos centrais a visita do Papa Francisco a Tacloban, na ilha de Leyte, a província atingida de forma violenta pelo tufão Hayan em novembro de 2013, com um balanço de 6245 vítimas atingidas e outros 16 milhões de pessoas envolvidas.
Na arquidiocese de Palo, Bergoglio irá se encontrar com os sobreviventes e dará a bênção a um novo centro para os pobres (principalmente órfãos e anciãos), por ele intitulado, o “Pope Francis center for the poor” (Centro Papa Francisco para os pobres), organizado graças aos fundos do Pontifício Conselho Cor Unum.
A Igreja Filipina indica o Cristo crucificado como “o pobre por excelência, despido também de dignidade, oprimido, desprezado, impotente, miserável”, escreveram os bispos. O objetivo é antes de mais nada uma mensagem de consolo, dado que “a cada pobre a Igreja fala: Cristo está contigo. Tomou a tua nudez, a tua vulnerabilidade, a fome, a doença, a vergonha”. Dessa mesma cruz irradia uma mensagem de ressurreição: “Eu vim trazer vida em abundância. Benditos vós que são pobres, Benditos vós que tens fome, porque serão saciados”.
O Ano dos pobres coloca em evidência também as cifras impiedosas da situação social e econômica nas Filipinas: apesar de um crescimento econômico entre 6 e 7% ao ano, mais de ¼ da população (aproximadamente 27% em 100 milhões de habitantes) vive abaixo da linha da pobreza. O desemprego está em exatos 7% e gera a emigração mais alta do mundo: aproximadamente 10 milhões de pessoas que garantem 26 bilhões de dólares de remessas ao ano.
As Filipinas têm, ainda, uma das distribuições de renda mais desiguais do planeta. O patrimônio dos quarenta filipinos mais ricos no país (e das poucas famílias capitalistas), segundo a revista Forbes, representa 76% do PIB nacional. Os observadores falam do chamado “crony capitalism”, o capitalismo clientelista, ou “de família”, explicando como as levas do poder político e econômico estão grossamente nas mãos de um pequeno grupo de clãs familiares. O presidente filipino Benigno Aquino Jr. Vem de um destes clãs, o Cojuangco-Aquino.
Por isso, escrevem os bispos, o “Ano dos pobres é um chamado também para os ricos”, e isso quer dizer antes de mais nada conter a corrupção na política: “É preciso interromper o uso indevido do dinheiro público, parar a destruição indiscriminada do ambiente, redistribuir a riqueza de uma forma igualitária, construir uma economia que responda a critérios de justiça, fornecer instrução que respeite a dignidade de todos, como seres humanos e filhos de Deus”.
A corrupção é um tema chave no qual nos últimos anos a Igreja se voltou diversas vezes, definindo-a como sendo um “câncer no país”. Em 2014 uma mega fraude chamou a atenção sobre o mecanismo controverso do “Fundo prioritário para assistência ao desenvolvimento” (PDAF) renomeado também “pork barrel”. Trata-se da contribuição paga pelo Estado a cada parlamentar para projetos sociais a serem desenvolvidos em nível local. Uma ampla campanha de sensibilização, que viu a Igreja entre os protagonistas, questionou, em nome da transparência, a abolição do Fundo. Mas Benigno Aquino Jr. rejeitou a proposta de abolição.
No Ano dos pobres o chamado é feito também aos pastores: a pobreza “é um escândalo social, pelo qual não podemos culpar somente o governo, é preciso entender o nosso papel dentro disso, a nossa responsabilidade pessoal”, dizem os bispos. Mesmo os sacerdotes são chamados a deixar o conforto e a abraçar novamente uma vida simples, próxima aos pobres, feita com sobriedade.
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O Papa nas Filipinas no “Ano dos Pobres” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU