12 Janeiro 2022
Discurso completo do pontífice para abrir o "ano político" da Santa Sé, com renovadas demandas de acesso universal às drogas contra Covid-19, que considerou "a solução mais razoável".
Advertências para o "pensamento único" que busca impor a "cultura do cancelamento" e reivindicações para migrantes na fronteira EUA-México.
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 10-01-2022.
Na mensagem que é considerada o roteiro do Vaticano para o ano em termos de relações internacionais, o Papa Francisco renovou hoje sua forte posição a favor não apenas da distribuição equitativa e universal de vacinas contra o coronavírus, mas também que foi um passo além suas últimas intervenções e levantou a "obrigação moral" de se vacinar, como forma de um "compromisso pessoal" que também deve ser acompanhado de uma comunicação clara da política e de esforços claros da comunidade internacional.
“Pudemos constatar que nos locais onde foi realizada uma campanha de vacinação eficaz diminuiu o risco de um sério avanço da doença”, disse o pontífice em seu tradicional encontro.
Assim, para o Papa, "é importante que se continuem os esforços para imunizar ao máximo a população", num quadro em que a tarefa "exige um empenho múltiplo a nível pessoal, político e comunitário internacional do vosso conjunto".
A nível pessoal, segundo Jorge Bergoglio, “todos temos a responsabilidade de cuidar de nós próprios e da nossa saúde, o que também se traduz no respeito pela saúde de quem nos aproxima”.
No início de uma mensagem com forte ênfase nas vantagens da imunização contra a Covid-19, o Papa afirmou que "os cuidados de saúde constituem uma obrigação moral".
“Muitas vezes nos permitimos ser influenciados pela ideologia do momento, muitas vezes baseada em notícias sem fundamento ou fatos mal documentados”, acrescentou ele, no que foi lido como uma crítica aos movimentos antivacinas.
Para o Papa, então, “toda afirmação ideológica corta os vínculos que a razão humana tem com a realidade objetiva das coisas”.
“As vacinas não são instrumentos mágicos de cura, mas certamente representam, junto com os tratamentos que estão sendo desenvolvidos, a solução mais razoável para a prevenção da doença”, declarou nessa direção.
No seu discurso, Francisco afirmou que para além do nível pessoal, “a política deve comprometer-se a procurar o bem da população através de decisões de prevenção e imunização, que também desafiam os cidadãos para que se sintam envolvidos e responsáveis”.
O Papa, de 85 anos, que já recebeu três doses da vacina, exigiu nesta linha "uma comunicação transparente dos problemas e as medidas ideais para enfrentá-los", lamentando que "a falta de firmeza decisória e clareza comunicativa gera confusão, cria desconfiança e ameaça a coesão social, alimentando novas tensões”.
Desta forma, disse ele, “estabelece um relativismo social que fere a harmonia e a unidade”.
Como terceiro eixo, o pontífice renovou seus apelos à comunidade internacional “para que toda a população mundial possa ter acesso a tratamentos médicos e vacinas essenciais da mesma maneira”.
Além disso, afirmou " que as regras do monopólio não constituem mais obstáculos à produção" de drogas.
No plano social, Francisco lamentou a chamada “cultura do cancelamento” que, como expressou, “invade muitas áreas e instituições públicas”.
“Em nome da proteção da diversidade, o significado de cada identidade acaba por apagar, com o risco de silenciar as posições que defendem uma ideia respeitosa e equilibrada das diferentes sensibilidades”, criticou o Papa nesse sentido, antes de denunciar a elaboração de "um só pensamento forçado a negar a história ou, pior ainda, a reescrevê-la a partir de categorias contemporâneas, enquanto toda situação histórica deve ser interpretada segundo a hermenêutica da época".
Diante de representantes de todo o mundo, o primeiro papa latino-americano da história se referiu ao seu continente natal e afirmou que o problema da imigração também está presente na América.
"Também não devemos esquecer os êxodos em massa que afetam o continente americano e que criam pressão na fronteira entre o México e os Estados Unidos da América", disse.
Sobre a questão migratória, como já tinha feito em Dezembro a partir da ilha de Lesbos, voltou a considerar "de fundamental importância que a União Europeia encontre a sua coesão interna na gestão das migrações, pois soube encontrá-la para enfrentar as consequências da pandemia".
“Com efeito, é necessário criar um sistema coerente e abrangente para a gestão das políticas de migração e asilo, de modo que as responsabilidades de acolhimento de migrantes, revisão dos pedidos de asilo, redistribuição e integração sejam partilhadas. De todos os que podem ser acolhidos”, convocou.
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Francisco defendeu as vacinas como “a solução mais razoável” contra o coronavírus, e criticou a “cultura do cancelamento” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU