29 Setembro 2021
Enquanto o presidente estadunidense Joe Biden recebe sua terceira dose da vacina contra a covid-19, especialistas no Vaticano estavam considerando a ética da “dose de reforço” nos países ricos enquanto em muitas outras partes do mundo ainda se está tentando dar a primeira dose.
O arcebispo Vincenzo Paglia, chefe da Pontifícia Academia para a Vida, falou aos jornalistas na terça-feira que a desigualdade da distribuição da vacina é “uma dupla injustiça”, porque destaca não apenas a falta de imunização apropriada para a covid-19 em países pobres, mas também, focando somente na pandemia, ignora muito outros problemas sanitários e sociais nos países em desenvolvimento.
A reportagem é publicada por America, 28-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Foi perguntado a Paglia se o Papa Francisco receberá a dose de reforço da vacina, e ele respondeu que a decisão é do Papa. “Eu espero que a terceira dose rapidamente esteja disponível no Vaticano, também porque tenho 76 anos!”, acrescentou.
Quase todos os cidadãos do Vaticano receberam as duas doses da vacina. Falando para jornalistas no voo de retorno da visita apostólica à Hungria e à Eslováquia, Francisco disse que “apenas um pequeno grupo” ainda não tinha recebido a vacina, e o Vaticano “está estudando como ajudá-los”.
A partir de 1º de outubro, o Vaticano requisitará um “passaporte de vacinação” para as pessoas que desejarem entre na pequena cidade-estado, com o comprovante de imunização e o teste negativo para a covid-19 ou atestado de recuperação da doença. O Papa Francisco e o Papa emérito Bento XVI receberam as duas doses da vacina, e o Vaticano tem lançado várias iniciativas para promover e distribuir vacinas, especialmente para os pobres.
“Nos EUA e em todo o mundo científico tem se constatado que a efetividade da vacina começa a cair depois de seis ou oito meses, e, a fim de melhorar a imunidade, uma dose adicional é recomendada”, disse David Barbe, presidente da Associação Médica Mundial, que também esteve na conferência de imprensa no Vaticano na terça-feira.
Embora não queira dizer se o próprio papa deve receber uma dose de reforço da vacina contra a covid-19, Barbe observou que esta é recomendada para idosos com mais de 60 e 65 anos e para aqueles que vivem com doenças crônicas, como diabetes ou doenças pulmonares.
O Papa Francisco tem 84 anos e parte de seu tecido pulmonar foi removido em decorrência de uma infecção que sofreu na juventude. Em meados de julho, o papa foi hospitalizado para uma cirurgia programada de cólon, que o manteve internado por 11 dias.
A ética da distribuição da terceira dose em algumas partes do mundo, enquanto muitos países mais pobres ainda lutam para administrar a primeira dose da vacina, está no centro dos debates que cercam a pandemia, disse Barbe.
“Muito esforço e muitos recursos já foram colocados para isso. Eles ainda não foram totalmente bem-sucedidos”, disse ele, acrescentando que, embora seja compreensível que cada país se concentre em proteger seus próprios cidadãos, “há um excesso de vacinas nos países mais ricos”, que ele disse que poderiam ser distribuídas aos países mais pobres.
O Vaticano tem se envolvido ativamente nos esforços da Organização Mundial do Comércio e da Organização Mundial da Saúde para suspender as patentes das vacinas, a fim de permitir que instalações de pesquisa em todo o mundo produzam suas próprias vacinas. Membros de organizações católicas também contataram o governo Biden para promover a suspensão de patentes de vacinas.
A coletiva de imprensa ocorreu em meio a uma cúpula de especialistas religiosos e cientistas no Vaticano sobre “Pandemia, Bioética, Futuro: Saúde Pública em Perspectiva Global”, organizada pela Pontifícia Academia para a Vida.
Falando na conferência do Vaticano na segunda-feira, o papa enfatizou sua esperança de que "sempre haverá um sistema de saúde gratuito", elogiando a Itália e outros países com saúde pública, o que "ajuda a superar as desigualdades". Em seu discurso, Francisco convidou as pessoas a não esquecerem que em alguns países a pandemia é um problema secundário em comparação com a falta de água potável e alimentos.
“Saúdo o compromisso por uma distribuição igual e universal de vacinas, isso é importante”, disse o Papa Francisco, “mas tendo em mente o contexto mais amplo que requer os mesmos critérios de justiça, das necessidades de saúde à promoção da vida”.
Paglia ecoou as palavras do Papa na entrevista coletiva, afirmando: “É necessário superar não só a lacuna da vacinação, mas também o acesso desigual à saúde pública, removendo barreiras como a falta de instalações e administrando de forma mais inteligente os recursos para o tratamento”.
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O Papa Francisco tomará a terceira dose da vacina contra a covid? Vaticano diz que a decisão é dele - Instituto Humanitas Unisinos - IHU