05 Novembro 2021
"A questão não é o Bolsonaro em si, e sim o bolsonarismo que encarna os corpos e as mentes de muitos, ainda. Esses, nos diferentes espaços sociais, institucionais e dos templos, formam o exército em ação em torno do parafuso-capitão que permanece útil a determinados projetos internacionais dentro do Brasil", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Doutora em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
Os atos irresponsáveis, alguns em julgamento como criminosos, do presidente Jair Bolsonaro seguem em escala larga, sem limite. Podem ser percebidos por meio de inúmeras expressões balbuciadas/gritadas por brasileiros e não brasileiros, tais como: “absurdo”, “coisa de maluco”, “irresponsável”, “molecagem”, “escárnio”, “autor de crime contra a humanidade”, “genocida”... São fartos os conteúdos produzidos e exibidos pelo presidente do Brasil como agressões aos brasileiros e como mentira.
A falsidade, o embuste, a fraude são passiveis de punição de acordo com o Código do Processo Civil (CPC), acrescidas, nesse caso, da condição de servidor público sob o qual está a responsabilidade constitucional de governar o país. Até agora prevalecem o silêncio e a vista grossa de representantes das instituições cuja tarefa é zelar pelo equilíbrio entre os poderes e pela governabilidade do Brasil.
Na sociedade, por crença e pela eficaz mobilização também a partir de robôs, pelo impulsionamento das não notícias em larga escala, parcela de brasileiros aplaude e replica a conduta presidencial e parte dela se revela disposta a qualquer atitude para fazer valer, à força, comportamentos anticonstitucionais. São o bando solto capaz de espancar fisicamente, agredir psicologicamente e fazer a festa da truculência, reproduzida nas instâncias governamentais de Estados e de Municípios, com ameaças em série. Do bando participam pessoas detentoras de poder, empresários, religiosos, artistas, desportistas, servidores públicos, donas de casa, militares, parlamentares, juízes, professores e advogados. Sentem-se encorajados pela lógica do chefe a agir à margem da lei enquanto o Brasil é empurrado ladeira abaixo.
Bolsonaro, como peça engendrada, fez funcionar a engrenagem desarticulada e há muito em busca do meio de colocar o seu projeto na rua. Colocou, em 2018. A extrema direita e, com ela, os oportunistas de todos os tempos, agora testa a capacidade e o alcance do parafuso escolhido, até hoje manejado com algum sucesso. Existem pastores e sacerdotes, com seus séquito, abençoando a maldade.
As feridas abertas pelo parafuso, o entreguismo de empresas-base do país a grupos estrangeiros que dominam os negócios do capital internacional, a multidão de desempregados e de famintos, os ataques mortais aos povos indígenas, às mulheres, aos negros e aos LGBTQIa+, a floresta em chamas são a outra face da administração do Brasil. Uma nação náufraga, cercada da miséria da condição humana, vestida drasticamente com o tecido do ódio, alimentada pelo individualismo e pela improbidade administrativa elevada ao nível mais alto ao ponto de ser naturalizada.
O Congresso Nacional, de uma maioria feita refém (eis o resultado da votação da "PEC dos Precatórios", aprovada em primeira votação na noite de quarta-feira), e setores fortes da mídia cumprem o exercício de assegurar a continuidade do movimento do parafuso. Esse continua a furar o corpo da legalidade e a gargalhar diante da dor de milhares de brasileiros. A resistência de areia torna-se cúmplice daquilo que acionado pelo voto e por acordos político-policial-econômico-miliciano-religioso atingiu nossas almas e nos faz sangrar. Assim o fez com a extinção do Bolsa Família em troca do Auxílio Brasil, um programa sem pé nem cabeça que não contemplará os que têm fome.
A questão não é o Bolsonaro em si, e sim o bolsonarismo que encarna os corpos e as mentes de muitos, ainda. Esses, nos diferentes espaços sociais, institucionais e dos templos, formam o exército em ação em torno do parafuso-capitão que permanece útil a determinados projetos internacionais dentro do Brasil.
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Quanto corpos Bolsonaro habita? Artigo de Ivânia Vieira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU