29 Outubro 2021
De poços a fontes de CO2. De um recurso maravilhoso para o planeta, graças ao seu papel na absorção de dióxido de carbono, a fontes de emissões devido às atividades humanas. Assim perigosamente se transformaram, devido às nossas ações, algumas das mais preciosas florestas do mundo, reconhecidas como Patrimônio Mundial da UNESCO.
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por Repubblica, 28-10-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma nova pesquisa, realizada pelo World Resources Institute, Iucn (União Internacional para a Conservação da Natureza) e pela Unesco, mostra que 10 sítios do patrimônio mundial, áreas protegidas como o Yosemite, nos Estados Unidos, a área das Greater Blue Mountains, na Austrália, as florestas tropicais de Sumatra, na Indonésia, ou mesmo as da República Democrática do Congo, desde 2001, emitiram mais carbono do que o que foi absorvido.
A razão se deve às atividades humanas ou a uma série de causas anexas, como o desmatamento, os impactos da crise climática ou os incêndios. Fatores que levaram os Sítios do Patrimônio Mundial a perder 3,5 milhões de hectares de floresta em vinte anos, uma área maior que a Bélgica.
O problema, sugere a pesquisa, é que as previsões indicam que essa tendência - para diversos sítios protegidos pela UNESCO - aumentará nas próximas décadas. No total, as florestas consideradas patrimônio da Unesco incluem uma área duas vezes maior que a Alemanha, para se ter uma ideia, um gigantesco "poço" em teoria capaz de armazenar uma quantidade de dióxido de carbono que pode ser comparada àquela ligada às reservas de petróleo do Kuwait. Infelizmente, esse papel fundamental, segundo os pesquisadores, está mudando em alguns casos, com mais gases de efeito estufa sendo emitidos do que absorvidos.
Parte do estudo foi realizada combinando dados de satélite sobre as condições das florestas com informações de monitoramento dos diversos sítios, bem como dados sobre as toneladas de CO2 absorvidas pela biomassa e aquelas liberadas por causa das pressões antrópicas.
Segundo Tales Carvalho Resende, um dos autores do estudo, “o que está acontecendo em nível de sítios do Património Mundial é apenas a ponta do iceberg. Mesmo aquelas que deveriam ser as áreas melhores e mais protegidas do mundo estão sob pressão por causa das mudanças climáticas e outros fatores".
Assim acontece que da Dominica à Malásia, entre ondas de calor, aumento das temperaturas, desmatamentos para favorecer a agricultura e, sobretudo, incêndios florestais, aumentam as emissões desses patrimônios. Entre outras, áreas como a do Reserva da Biosfera do Rio Plátano, em Honduras, o Parque Internacional da Paz Waterton-Glacier, no Canadá, ou Uvs Nuur, na Rússia e Mongólia, também registram essa tendência.
Felizmente, mesmo que a partir da COP26, em Glasgow, a conferência sobre o clima das Nações Unidas, será fundamental reverter a rota da crise climática. A maioria dos sítios e florestas sob a égide da Unesco ainda desempenham suas preciosas contribuições de absorção de dióxido de carbono. Além dos 10 sítios "transformados", dos outros 247 sítios analisados pelo menos 166 ainda são considerados "poços", enquanto 81 resultam neutros. No total, estima-se que as florestas patrimônio mundial tenham absorvido e armazenado 190 milhões de toneladas de CO2 a cada ano - cerca de metade das emissões anuais de combustíveis fósseis do Reino Unido.
Conforme mencionado, a influência do homem - entre desmatamento, perda de habitat e biodiversidade - está degradando parte dessas florestas tornando-as menos eficazes em sua contribuição fundamental, e um dos fatores que mais afetam essa transformação é, por exemplo, aquele dos incêndios.
“Alguns locais foram transformados em fontes de emissão devido a um ou dois incêndios tão intensos a ponto de representar as emissões anuais de muitos países do mundo”, continua Carvalho Resende. "É um círculo vicioso. Com o aquecimento global, há mais incêndios. Com mais incêndios, há mais CO2. Mais CO2 significa que as temperaturas continuam subindo". Além disso, os especialistas apontam, neste contexto há também o impacto de fenômenos climáticos extremos como o furacão Maria, que destruiu cerca de 20% da cobertura florestal no Parque Nacional de Morne Trois Pitons, em Dominica, em 2017.
Para evitar que outras florestas se transformem de poços a fontes de emissões, como ocorreu nos últimos 20 anos, os especialistas recomendam ações mais decisivas para evitar o aumento das temperaturas, para proteger a natureza e a biodiversidade. Apelos que ecoam os diversos pedidos feitos por cientistas, ambientalistas e sociedade civil em vista da COP26.
Como recordou Elena Osipova, da União Internacional para a Conservação da Natureza, ter modificado alguns locais a ponto de transformá-los em fontes de CO2 "é preocupante. Deveríamos realmente fortalecer a proteção desses locais e destacar sua importância para a mitigação e a adaptação ao clima, para que não aconteça em outros lugares no futuro".
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Florestas, pulmões sob estresse. Fizemos com que as árvores emitam CO2 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU