23 Setembro 2021
Complôs? Reuniões pré-conclave antes do tempo? Tentativas de influenciar a eleição do Papa? “Nada de novo sob o sol. Como costuma acontecer, há pouca memória. O gênero literário é bastante antigo ...”.
Poucas pessoas conhecem a Igreja como Giovanni Maria Vian, 69, historiador e professor de Filologia Patrística da Sapienza, diretor do Osservatore Romano por onze anos.
"Embora, é claro, hoje as coisas mudaram”.
A entrevista com Giovanni Maria Vian é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 22-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como, professor?
Os Conclaves sempre foram objeto de interesse e expectativa enorme, mundial. Só que antigamente as interferências vinham das chamadas potências católicas. Não esqueçamos que a última intervenção evidente foi em 1903, quando o cardeal Jan Puzyna de Cracóvia, então sob o domínio austríaco, pronunciou a exclusão, ou melhor, o veto do imperador Francisco José contra o cardeal Mariano Rampolla, que era pró-francês. O fato suscitou protestos vibrantes no conclave, mas depois foi eleito Giuseppe Sarto, Pio X.
E agora?
Agora as informações são simultâneas e os poderes que tentam condicionar a eleição na Capela Sistina não são mais católicos, mas sim midiáticos, geridos por grupos de pressão.
Mais externo do que interno?
As forças são sempre internas e externas. O colégio dos eleitores geralmente é dividido e, mesmo antes de ser regulamentada pelo Conclave, a eleição sempre foi objeto de disputas. Já na antiguidade tardia existiam medidas que pretendiam impedir uma sucessão de tipo dinástico.
Dinástico?
Isso mesmo. Houve até um Papa que, embora com cinco papas no meio, sucedeu a seu pai: Silverio, bispo de Roma de 536 a 537, era filho de Ormisda, Pontífice de 514 a 523.
Mas uma das forças da Igreja de Roma é que geralmente se manteve fora de uma sucessão dinástica. Os casos são raros, como o de Júlio II que era sobrinho de Sisto IV, dois della Rovere.
Na era da Internet os problemas são outros...
É preciso levar em conta a pressão mediática, não é por acaso que os últimos foram conclaves-relâmpago. O que se diria se tivessem demorado? Mas já nos últimos anos do pontificado de Paulo VI, eram publicados livros que se questionavam sobre o sucessor. No caso de João Paulo II, começou no início dos anos 1990. Livros semelhantes saíram com Francisco.
De fato, a ideia de uma "conspiração" no Vaticano não é surpreendente, por quê?
Porque a história do papado é assim. O historiador irlandês Eamon Duffy intitulou uma bela história dos papas "santos e pecadores". Poder-se-ia acrescentar que os pecadores foram muitos. Afinal, aquele do Papa de Roma é um poder importante. Espiritual, mas também real. Basta pensar no fascínio que despertam na literatura ‘pop’ ou no cinema, de Dan Brown em “Anjos e demônios” às séries papais de Sorrentino.
Quase se tornou um tema literário ...
Quando o Papa Luciani morreu, pouco mais de um mês depois, todos pensaram que ele havia sido envenenado. Claro que então as várias versões sobre a descoberta do corpo não ajudaram, a resposta às perguntas só veio muito mais tarde.
Mas, afinal, as pressões da mídia têm algum efeito?
Bem, no caso de João Paulo II foram uma grande perda de tempo. Nesse ínterim, alguns candidatos à sucessão, verdadeiros ou presumidos, morreram antes de Wojtyla.
Talvez a novidade esteja no fato de que Francisco disse isso publicamente.
De fato, isso é novo. É o estilo dele. Ou poderíamos dizer que é um retorno ao antigo, quando os Papas intervinham contra os seus opositores, antes do século XVI.
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“Complôs e lutas pelo poder como na antiguidade e nos livros de Dan Brown”. Entrevista com Giovanni Maria Vian - Instituto Humanitas Unisinos - IHU