O próximo papa e o Vaticano II. Artigo de George Weigel

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17 Julho 2020

"O catolicismo com futuro é o catolicismo do Concílio Vaticano II, corretamente entendido e adequadamente implementado. Este catolicismo acontece de ser o catolicismo vivo de hoje, e o próximo papa deve reconhecer isso também", escreve George Weigel, pesquisador na área de ética do Centro de Ética e Política Pública, de Washington, onde leciona na cátedra William E. Simon, do curso de Estudos Católicos, em artigo publicado por First Things, 15-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Eis o artigo.

As polêmicas em torno do Concílio Vaticano II continuam a atormentar o diálogo católico mundial.

Alguns católicos, frequentemente vistos nas igrejas locais moribundas da Europa ocidental, afirmam que o “espírito” do concílio nunca foi implementado, embora a implementação do catolicismo light que eles propõem se pareça mais com o protestantismo progressista do que com o catolicismo. Outros afirmam que o concílio foi um erro terrível e que seus ensinamentos deveriam ser silenciosamente esquecidos, colocados nas caixas de lixo da história. Em The Next Pope: The Office of Peter and a Church in Mission (publicado recentemente pela editora Ignatius Press), sugiro que algumas intervenções papais são necessárias para que sejam resolvidas estas confusões.

“O próximo papa: o ofício de Pedro e uma Igreja em missão”, novo livro de George Weigel. (Foto: Divulgação)

Para início de conversa: o próximo papa deve lembrar aos católicos o que o Papa João XXIII pretendeu com o concílio, desafiando, assim, a brigada do “Catolicismo Light” e o pelotão do “Esqueça o Vaticano II”.

O discurso de abertura do papa ao Vaticano II, em 11-10-1962, deixa clara sua intenção: a Igreja, disse o Papa João XXIII, deve se concentrar em Jesus Cristo, de quem “recebe (…) o nome, a graça e o significado”. A Igreja deve colocar o anúncio do evangelho de Jesus Cristo, a resposta para a pergunta que é cada vida humana, no centro de sua autocompreensão. A Igreja deve fazer esse anúncio propondo, a “pura e íntegra doutrina, sem atenuações nem subterfúgios”, as verdades que Cristo deu à Igreja. E a Igreja deve transmitir essas verdades de maneira a convidar os céticos contemporâneos – homens e mulheres – a fazerem amizade com o Senhor Jesus.

João XXIII não imaginou o Vaticano II como um concílio de desconstrução. Tampouco imaginou que fosse um concílio para congelar a Igreja em âmbar. Em vez disso, o discurso de abertura do Papa João ao Vaticano II convocou a Igreja inteira a assumir a tarefa da missão cristã: a missão de oferecer à humanidade a verdade sobre Deus e nós, verdade revelada em Jesus Cristo. Com vigor, o próximo papa deve lembrar a Igreja disso.

O próximo papa também pode engajar-se em – e resolver – um debate paralelo que começou durante o Vaticano II e continua até hoje: A Igreja Católica reinventou-se entre 11-10-1962 e 08-12-1965? Ou os documentos do Vaticano II devem ser lidos em continuidade com a revelação e a tradição? Curiosamente, a brigada do “Catolicismo Light” progressista e o pelotão do “Esqueça o Vaticano II” ultratradicionalista dão a mesma resposta: o Vaticano II foi, de fato, um concílio de descontinuidade. Mas essa é a resposta equivocada. É uma leitura equivocada da intenção de João XXIII para o Vaticano II. É uma leitura equivocada das orientações de Paulo VI dadas ao concílio. E é uma leitura equivocada dos textos conciliares.

Três papas canonizados – João XXIII, Paulo VI e João Paulo II –, mais o grande papa teólogo Bento XVI, insistiram que o Vaticano II pode e deve ser lido em continuidade com a doutrina católica estabelecida. Afirmar que o Vaticano II foi um concílio de ruptura e reinvenção é dizer, com efeito, que esses grandes homens eram ou reacionários traiçoeiros e anticonciliares (acusação tácita dos progressistas) ou hereges materialistas (acusação tácita da extrema direita). Nenhuma dessas afirmações possui mérito, embora a segunda tenha recebido recentemente uma atenção imerecida, graças aos comentários pouco apropriados que reverberam pelas câmaras de eco das mídias sociais e da blogosfera ultratradicionalista.

Assim, o próximo papa deve insistir em que a Igreja Católica não cria rupturas, não promove reinvenção tampouco estabelece “mudanças de paradigma”. Por quê? Porque Jesus Cristo – “o mesmo, ontem e hoje, e será sempre o mesmo” (Hebreus 13,8) – é sempre o centro da Igreja. Essa convicção é o início de toda evangelização autêntica, de todo desenvolvimento autenticamente católico da doutrina e de toda implementação adequada do Vaticano II.

O próximo papa também deve promover as realizações genuínas conciliares: a afirmação vigorosa da realidade e autoridade vinculativa da revelação divina; o enriquecimento bíblico da autocompreensão da Igreja como comunhão de discípulos em missão; a insistência em que todos na Igreja são chamados à santidade, especialmente através da liturgia; a defesa dos direitos humanos básicos, incluindo o primeiro dos direitos civis, a liberdade religiosa; o compromisso com diálogos ecumênicos e inter-religiosos centrados na verdade. Sim, houve distorções nesses ensinamentos, mas culpar as distorções por causa dos próprios ensinamentos é um erro analítico grave.

Um catolicismo indistinguível do protestantismo progressista não tem futuro. Tampouco um catolicismo que tenta recriar um passado grandemente imaginário. O catolicismo com futuro é o catolicismo do Concílio Vaticano II, corretamente entendido e adequadamente implementado. Este catolicismo acontece de ser o catolicismo vivo de hoje, e o próximo papa deve reconhecer isso também.

 

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