25 Agosto 2021
Jean-Luc Nancy desapareceu em Estrasburgo aos 81 anos. Sua pesquisa intelectual começou no contexto do desconstrucionismo, como discípulo e amigo de Jacques Derrida.
A reportagem é publicada por La Repubblica, 24-08-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Se não sabemos mais o que é democracia, significa que esta palavra já não tem mais sentido. Sabemos o que são o Estado de direito, os direitos humanos, as liberdades fundamentais, o princípio da igualdade ... mas democracia significava outra coisa: uma sociedade em que essas definições formais são reais e onde o poder é capaz de realizá-las para o povo e pelo povo”. Esta reflexão, divulgada na revista Alfabeta em março de 2018, sintetiza da melhor forma a potência, e sobretudo a atualidade, do pensamento de Jean-Luc Nancy, o filósofo francês falecido na noite de segunda-feira, 23 de agosto, aos 81 anos em Estrasburgo.
Ser Singular Plural
Uma pesquisa intelectual que começou no âmbito do desconstrucionismo, como discípulo e amigo de Jacques Derrida. E que depois passou por todas as complexidades e as contradições da segunda metade do século XX, para desembocar, no século XXI, em um entrelaçamento de teoria política, social e estética que sempre se questionou sobre o conceito de comunidade. Mas também sobre aquele de corpo, central em seu mundo. Mas talvez a expressão que melhor resume sua visão, e que dá título a um seu famoso livro, seja Ser singular plural: significa que o ser é pluralmente singular ou singularmente plural, porque todo ser que existe na realidade "coexiste". Mas nos últimos anos Nancy também se questionou muito sobre os limites da democracia, reduzida em sua opinião a uma fórmula destituída de substância, esvaziada de dentro pela sociedade tecnológica e tecnocrática em que vivemos.
Nascido em Bordeaux em 1940, Nancy estudou filosofia em Paris e em sua longa carreira acadêmica lecionou em várias universidades: em Berkeley, em Berlim, em San Diego. Mas sua verdadeira "casa" era a Universidade Marc Bloch de Estrasburgo, a cidade onde morava desde 1968 e onde viveu até seu último suspiro. A lista de seus ensaios é interminável, muitos dos quais foram publicados, estudados e debatidos aqui na Itália, cujas reflexões originais vão de mãos dadas com a análise crítica dos grandes do século XX, de Heidegger a Deleuze. Entre tantos, lembramos A comunidade inoperada, A experiência da liberdade, A verdade da democracia, La comunità sconfessata.
Entusiasta da estética, ao longo dos anos também colaborou com artistas visuais, como os diretores Abbas Kiarostami e Claire Denis. A sua experiência pessoal - em 1992 foi submetido a uma cirurgia de coração aberto - é contada em textos como Corpus e O intruso: onde o intruso é o coração que foi transplantado. Porque, para Nancy, a filosofia nunca foi uma teoria abstrata, mas uma força ligada ao nosso ser tanto intelectual como corporal.
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Morreu Jean-Luc Nancy, o filósofo que investigava os limites da democracia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU