11 Mai 2021
O Vaticano e a Conferência Episcopal Alemã guardam silêncio, os ultraconservadores chamam de cisma.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 10-05-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Cisma ou bênção do amor? Mais de duzentos templos alemães se somaram à campanha #liebegewinnt (O Amor Vence), abrindo suas portas para abençoar milhares de casais que se inscreveram em uma lista disponibilizada pela internet. Não serão todos os casais homossexuais, mas ainda muitos, em uma resposta simbólica ao polêmico “Responsum” da Doutrina da Fé que fechava a porta a qualquer bênção de uniões que não fossem matrimônios católicos.
Até o momento, tanto a Conferência Episcopal Alemã quanto o Vaticano optaram por guardar silêncio ante a proposta, que entende que a Igreja não se divide por abençoar duas pessoas que se amam, e que não entendem porque se pode abençoar um barco, escritórios ou animais domésticos, mas não o amor de um casal, independentemente de sua validade canônica.
Não obstante, os setores mais conservadores, tanto da Igreja alemã como de todo o mundo, levantaram a voz, chamando de “cisma” as bênçãos e lamentando o “desafio” dos sacerdotes que optam por acolher todos. Na Espanha, inclusive, o bispo Munilla anunciou uma campanha de jejum e oração da qual, por outro lado, nada se sabe.
“Deus não pode abençoar o pecado”, apontava a Doutrina da Fé em sua polêmica resposta a uma pergunta que ninguém fez oficialmente, ainda que se suspeitasse de determinados coletivos ultraconservadores, com o apoio dos cardeais Müller, Burke ou Sarah.
No entanto, dentro do Caminho Sinodal da Igreja Alemã, foi iniciado um processo para que os fiéis possam discutir todas as questões candentes, como o ensino da Igreja sobre a homossexualidade como parte de um processo formal de debate e reforma.
“A homofobia da minha igreja me deixa com raiva”
“Estou convencido de que a orientação homossexual não é ruim, nem é o amor homossexual um pecado”, disse o jesuíta Jan Korditschke à Associated Press. “Quero celebrar o amor dos homossexuais com essas bênçãos porque o amor dos homossexuais é algo bom”, disse o clérigo de Berlim, que disse "não temer" as repercussões.
“Apoio o que faço, embora ache doloroso não poder fazê-lo em sintonia com a cúpula eclesiástica”, disse Korditschke, acrescentando que “a homofobia de minha igreja me deixa com raiva e vergonha”.
"São celebrações de adoração em que as pessoas expressam a Deus o que as move", disse à AP Birgit Mock, porta-voz para assuntos familiares da ZdK, a maior associação leiga da Alemanha.
“O fato de pedirem a bênção de Deus e agradecerem a Ele por todo o bem que há em suas vidas - também por relacionamentos vividos com respeito mútuo e cheios de amor - está profundamente enraizado no Evangelho”, disse Mock, acrescentando que ela mesma estava escalada para assistir a um serviço religioso com bênçãos para homossexuais na cidade ocidental de Hamm na segunda-feira, na qual ela oraria "pelo sucesso da jornada sinodal na qual, como Igreja, reconhecemos a sexualidade como uma força positiva".
“Na Alemanha estamos lutando muito seriamente e com intensos discursos teológicos pelo caminho certo”, acrescentou Mock. “As coisas não podem continuar como estão: é o que nos mostram os crimes e o encobrimento dos abusos sexuais”.
“Precisamos de mudanças sistêmicas, também no que diz respeito a uma reavaliação da moralidade eclesiástica da sexualidade”, disse Mock.
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#OAmorVence: centenas de padres alemães abrem suas paróquias em uma “maratona de bênçãos” a casais homossexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU