19 Abril 2021
“O mês de abril foi de enormes surpresas no plano eleitoral, mas, o que fica evidente é a necessidade de avançar em matérias de satisfação dos direitos políticos, sociais e econômicos da população, não apenas na Bolívia, Equador ou Peru, mas também em outros lugares como é o caso do Chile, que no próximo mês e meio enfrenta um enorme desafio desde o ponto de vista da mudança constitucional, a eleição de autoridades locais e governadores. O norte não pode seguir sendo a mudança, modificação ou retoques dos modelos políticos e econômicos que nos submetem, mas sim uma mudança de sistema, nevrálgica, na essência, e que permita, efetivamente, que conceitos como o de democracia, participação, distribuição da riqueza, equidade, justiça, entre outros, sejam uma realidade”, escreve Pablo Jofre Leal, em artigo publicado por Segundo Paso e enviado pelo autor ao IHU. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A América do Sul, em três de seus países, teve jornadas eleitorais. Eleições presidenciais no Peru e Equador, unido a sufrágios para eleger governadores na Bolívia; especificamente em quatro dos nove departamentos onde a eleição não havia sido decidida ainda.
São eleições que se caracterizam pela alta radicalização de posições, o uso de enormes recursos econômicos, financeiros, políticos e midiáticos por parte dos setores ligados a oligarquias criollas e que ainda costumam ser analisadas por olhares europeístas, do tipo “busca do ideal democrático representativo” que nem sequer nessas democracias em crise são capazes de aprofundar o valor da participação social e as necessidades de resguardo dos direitos de grande parte de sua população. E falo deste tipo de visão, que impõe análises midiáticas no âmbito global, empurrando a própria análise local para tomar como suas as ideias nascidas em outras geografias, outras realidades e outros enfoques, em analistas do tipo yanakunas e inclusive de políticos que levam a marca da maldição de Malinche, como é o caso de Yaku Pérez, capaz de trair toda origem e princípio moral a fim de satisfazer seus patrões ocasionais ou sonhar que algum dia terá a oportunidade de chegar à presidência.
O analista político e pesquisador da Universidade Nacional San Martín, de Buenos Aires, Enzo Girardi, consultado pelo Segundo Paso sobre esta linha de análise, aponta que “predomina na Academia e entre os comunicadores (convertidos em porta-vozes de visões estereotipadas) um olhar eurocêntrico, preconceituoso, que no momento de julgar nossas experiências democráticas ignora os particularismos culturais e de trajetórias históricas de nossas sociedades. Por isso, e para além dos ‘poréns’, o tão desprezado populismo vem expressar entre nós, os latino-americanos, genuínas e necessárias experiências de expansão das fronteiras da representação e da participação política”.
No caso boliviano, o Movimento ao Socialismo – MAS já havia alcançado a vitória em três departamentos (Cochabamba, Oruro e Potosí) e em 240 das 336 prefeituras do país. O movimento autonomista Creemos, do ultradireitista Luis Fernando Camacho, conseguiu a vitória em Santa Cruz de la Sierra, enquanto o Movimento Terceiro Sistema – MTS, presidido por Alejandro Unzueta, venceu em Bení. Isso demonstra a divisão clássica deste país entre os interesses políticos da chamada meia-lua oriental e do altiplano. No domingo, 11 de abril, a Bolívia deu início ao segundo turno das eleições regionais nos departamentos de La Paz, Chuquisaca, Pando e Tarija. Essa jornada, embora com todos os resguardos sanitários pela pandemia, sendo o voto obrigatório, teve um alto nível de abstenção.
Os resultados definitivos, segundo a lei eleitoral boliviana devem ser notificados no prazo de uma semana, pois os novos governos regionais preveem iniciar em 03 de maio. Os competidores da jornada do último domingo foram:
No que fora apurado até quarta-feira, a vantagem era dos candidatos da oposição.
O governo Luis Arce incentivou a participação eleitoral, e também declarou a preferência pelos candidatos que representam a linha política do MAS, mas sem sucesso. Durante o processo eleitoral, o mandatário boliviano emitiu duras críticas à presença de observadores da Organização dos Estados Americanos – OEA presidida pelo uruguaio Luis Almagro e que se caracterizou pelo apego à linha anti-governos progressistas, em concordância com o chamado Grupo de Lima, que recebe as orientações desde a Casa Branca.
“Nós mantemos nossa posição, defendeu Arce, depois de emitir seu voto e somos muito críticos ao papel que a OEA exerceu no golpe de Estado dado em novembro de 2019”. Igualmente criticou, desde a figura de Evo Morales que a justiça esteve muito “lenta”, permitindo que ex-integrantes do governo de facto de Jeanine Añez e opositores ao MAS, acusado de golpistas tenham sido eleitos em departamentos e prefeituras. “Se a Justiça em dezembro de 2020 tivesse prendido os golpistas, não haveria Camacho como governador. Não haveria Iván Arias nem Manfred Reyes Villa como prefeitos”, asseverou Morales, durante um evento das federações cocaleiras de Cochabamba. A meta levantada por Morales não se cumpriu, já que do total de nove governos o MAS conseguiu apenas três e não os oito que pretendia. Um panorama que tensionará as relações entre o oriente e o ocidente e sobretudo debilita a estrutura governamental para o desenvolvimento comum.
Em julho de 2020, o ex-presidente do Peru, Martín Vizcarrra convocou eleições gerais no país andino, endossadas pelo atual presidente Francisco Sagasti, destinadas a eleger presidente da república, dois vice-presidentes, 130 parlamentares (que devem assumir seus cargos em 27 de julho) e cinco legisladores, para o chamado Parlamento Andino. 25 milhões de peruanos convocados para votar na mais atomizada das eleições presidenciais que o Peru teve nos últimos anos. Um governante peruano, que deve exercer seu mandato entre julho de 2021 e julho de 2026. A realidade das eleições no país inca mostrou, em geral, um cenário com certa mudança de nomes e onde grupos e movimentos políticos – com alguma cara nova – foram os mesmos nas últimas duas eleições.
Para o analista Julio Roldán: “Uma característica central que une todos os grupos políticos e seus candidatos, no aspecto socioeconômico, é a defesa do sistema capitalista. Ninguém questiona a raiz disso, que é a causa de todos os problemas fundamentais do povo. Suas divergências giram, basicamente, em torno do ‘modelo’ econômico a seguir. Com mais ou menos diferenças, uns defendem o livre-mercado ou a livre-iniciativa e outros, também com diferenças, defendem a regulação do mercado por meio da participação estatal”. Não há visão, discurso e apelo por mudanças centrais no Peru, embora alguns dos candidatos verbalizem por uma necessidade dessas mudanças.
As eleições se desenvolveram em um cenário de enorme incerteza, o Peru em um quadro de multiplicidade de candidatos à presidência (com um recorde de 18 candidatos) que busca eleger um presidente que levará a alguma estabilidade a um país que nos últimos cinco anos, cinco dirigentes não conseguiram cumprir seu mandato, foram processados, se suicidaram ou fugiram e estão protegidos por regimes como o sionista, caso do ex-presidente Alejandro Toledo. Para Enzo Girardi: “a situação no Peru, levando em conta toda a crise presidencial, as acusações da corrupção, crise institucional, corrupção, entre outros elementos, adquire contornos sem precedentes. A crise partidária é tão grande que todas as eleições parecem ser diretas. Crise de representação e mediação política”.
O Peru, de forma clara e evidente, é dominado política, econômica e ideologicamente pelo que se denomina “as frações tradicionais” vinculadas à velha oligarquia e que no plano das comunicações tem nos conglomerados midiáticos La República e El Comercio a expressão desse poder. Os estilos La Nación e Clarín na Argentina ou El Mercurio e La Tercera no Chile. Johnny Lezcano, George Forsyth, Keiko Fujimori, Rafael López Aliaga são a expressão nominal dessa oligarquia. E, nesse cenário, foi uma surpresa (catalisada pela atomização do voto) que Pedro Castillo, do Peru Libre, professor e sindicalista ligado à esquerda peruana, entre de pleno direito para disputar a próxima votação contra Keiko Fujimori. Uma filha do ex-ditador peruano que, segundo 85% dos registros processados nos dados do ONPE (Escritório Nacional de Processos Eleitorais), alcançou o segundo lugar com 13,19% dos votos, que representa 1.645.000 eleitores. Em terceiro lugar ficou o extrema-direita Hernando Soto Polar com 12,57%, e o militante do Opus Dei, praticante do celibato e da mortificação como sinais de virtude, e considerado o mais conservador dos candidatos que concorreram nestas eleições, Rafael López Aliaga com 12,01%
Após conhecer os resultados eleitorais no último domingo, Pedro Castillo Terrone, candidato do Partido Político Nacional Peru Libre que obteve 18,57% dos votos (pouco mais de 2.315.000 eleitores) – que se define como um partido socialista de esquerda, marxista e mariateguista, que deixou para trás figuras mais conhecidas como Marco Arana e Verónica Mendoza, declarou: “Caro povo peruano, queridos compatriotas, queridos professores do Peru, antes de mais nada gostaria de saudar os povos mais esquecidos de meu país, saudar os homens e mulheres que estão no último canto do país, saúdam quem está nos cantos do país onde não há presença do Estado”
“Hoje o povo peruano acabar de tirar a venda dos olhos”, afirmou Castillo, que terá uma dura batalha e que já começou a ser atacado com toda a artilharia da direita e do centro político peruano, sendo acusado de ser um líder radical, submetido às exigências dos sindicatos dos professores (o maior do país, com 500 mil associados) e inclusive pela aproximação que tem com movimentos que buscam a liberdade para Abimael Guzmán, líder do Sendero Luminoso, e pró-chavismo. A demonização de Castillo não demorou, antes que terminasse a sua celebração, diversos setores defendiam que, se ele for eleito, modificará a constituição peruana dando protagonismo a um Estado reestruturado, onde se planeja a nacionalização das empresas de mineração e outras da indústria estratégica, como de hidrocarbonetos, indústria de gás, hidrelétricas e de comunicações.
Consultado por Segundo Paso, o analista político chileno e profundo conhecedor da política doméstica peruana, Esteban Silva destacou que: “o alto voto obtido por Pedro Castillo expressa a vontade popular de acabar com o modelo neoliberal e assim enfrentar a crise que vive o Peru. Castillo tem uma longa história de luta antineoliberal, desde o interior é apoiado por movimentos sociais e populares regionais e forças de esquerda emergentes. Suas críticas às elites político-empresariais e ao modelo neoliberal vigente, junto com suas propostas para enfrentar a crise que abala o Peru, articulam-se em torno da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte que permite a recuperação da soberania popular, a elaboração de uma nova constituição e assim permite aos peruanos lançar as novas bases para a recuperação de sua soberania econômica, produtiva, territorial, alimentar e cultural”.
Resta saber se a dicotomia política no Peru continuará a ser entre fujimorismo e anti-fujimorismo, o que representa um fardo pesado, se ou definitivamente a possível união entre Castillo, Mendoza, Yohnny Lezcano e Arana, junto com outras forças de esquerda, é capaz de contestar o poder de uma direita que tem governado sem contrapeso nas últimas décadas.
No segundo turno das eleições presidenciais no Equador venceu Guillermo Lasso, o candidato da coalizão de direita CREO (Movimento Político Criando Oportunidades) e o Partido Social Cristão com 52,48%. O candidato progressista da Coalizão União pela Esperança (UNES) Andrés Arauz obteve 47,52% dos votos. Uma derrota para a chapa Arauz-Rabascal que impressionou profundamente. “Não é um fim, é um começo”, disse o candidato derrotado Andrés Arauz, “obrigado a todos pelo apoio”. Por outro lado, o ex-presidente Rafael Correa confessou: “acreditávamos honestamente que venceríamos, mas nossas projeções estavam erradas. Boa sorte a Guillermo Lasso, seu sucesso será o do Equador. Eu só peço que você pare com o lawfare que destrói vidas e famílias”.
Pela minha análise, acredito que Arauz está errado ao sustentar que “a derrota foi um revés eleitoral, mas de forma alguma é uma derrota política e moral. Convido Lasso a respeitar o Estado de Direito, pois o ódio não constrói onde não é possível aceitar que uma forma de pensar diferente se transforme num estigma”. Foi, sem dúvida, uma grave derrota política, que especifica não só um clima de divisão, mas também a necessidade de uma revisão profunda do que tem sido a política de oposição do correísmo até agora... A questão moral é questionável, porque a batalha foi travada com força e convicção, e o importante é não se desmoralizar. Embora seja verdade que as forças políticas ligadas ao ex-presidente Correa terão um grande número de parlamentares (48 no total) contra 12 do CREO e 19 do Partido Social Cristão, a divisão política equatoriana forçará a busca de certos mecanismos de consenso, sob pena de ver, poucos meses depois, uma crise política e econômica que pode significar a ruptura democrática.
As palavras de Arauz refletem em toda a sua magnitude a derrota nas mãos dos setores de direita e indígenas, que se inclinavam para o bilionário de direita, para impedir o triunfo de quem deveria representar as aspirações mais próximas dos setores mais carentes da população. Equatoriano, Arauz pediu consenso e construção de pontes. Uma linha de trabalho complexa e até utópica no marco de uma sociedade equatoriana profundamente polarizada “mas também é hora de se organizar, disse Arauz e continuar trabalhando para prevenir qualquer política que ataca os interesses do povo equatoriano e beneficia as elites econômicas”, uma mensagem clara contra quem simboliza a realidade e presença das elites do país sul-americano, como o banqueiro Guillermo Lasso.
Com 97,5% das atas apuradas, o candidato da Aliança CREO, banqueiro bilionário e pela terceira vez aspirante à presidência, Guillermo Lasso liderou os resultados e tomará posse no dia 24 de maio, dando um duro golpe para o candidato do União pela Esperança, Andrés Arauz, que se apresentava em um cenário de crítica ao governo Lenin Moreno, em uma situação pandêmica, de dificuldades e que poderia supor o descrédito de Lasso como representante dos maiores males que já teve o Equador. Arauz tinha grandes possibilidades de triunfo em um segundo turno, mas foi demonstrado em todas suas dimensões o poder econômico, financeiro e midiático da direita equatoriana, que com lideranças indígenas aliadas à direita e um governo que colocou inteiramente seu apoio a Lasso, derrotou o que se considerava herança do correísmo e que desde o início de sua campanha teve um cenário de freios e ataques.
O poder oligárquico no Equador voltou a vencer sobre as expressões de representação popular, o que obriga essas forças populares, incluindo vastos setores do indigenismo a um olhar crítico e profundo do por que Carondelet se vestiu com as cores do empresariado equatoriano. Cores que vinham acompanhadas de palavras fáceis e promessas que não se poderão cumprir: como é a promessa de Lasso de criar dois milhões de empregos, expandir o setor agrícola através da outorga de empréstimos de juros baixos, reduzir progressivamente os impostos sem sair do processo de dolarização que vive o Equador, talvez veja parte destas promessas facilitadas com dinheiro fresco que os aliados de Lasso colocarão à disposição mediante organismos financeiros internacionais. É evidente que o aprofundamento do modelo neoliberal no Equador, as relações estreitas com Washington, ser parte do eixo opositor a Venezuela serão diretrizes do novo governo de Lasso.
Prova disso é a primeira troca de expressões de “afeto” entre o fantoche venezuelano, autoproclamado político, Juan Guaidó e o eleito Guillermo Lasso. Um Guaidó que convocou o banqueiro equatoriano a dar apoio político em sua cruzada anti-chavista, que Lasso apontou em um tuíte de sua autoria: “Muito obrigado, Juan Guaidó pelos seus bons votos. Hoje é um grande dia para a liberdade em toda a região. Os venezuelanos contam com nosso total apoio para reconquistar a democracia e nosso compromisso de aliviar a crise humanitária que enfrentam no mundo”, tamanha generosidade de Lasso, que em vez de oferecer soluções alternativas nas quais não só não estão, mas também não são está qualificado, mas deve se concentrar e se preocupar com a melhoria das condições de vida da população equatoriana, sujeita a cinco anos de uma gestão desastrosa como a de Lenin Moreno.
A derrota de Arauz representa, com todas os males que se pode ter, um duro golpe. Pensou-se que trabalharam arduamente para a vitória e a análise deve aprofundar os motivos da grande diferença entre Lasso e Arauz. Para Ricardo Patiño, ex-chanceler equatoriano na presidência de Rafael Correa: “agora não vencemos. O poder da imprensa em aliança com os grupos de poder nos derrotou desta vez. Não desmaiaremos na luta pelos direitos dos cidadãos”. Às palavras de Patiño acrescentemos um correísmo que precisou lutar, desde o início, contra o poder midiático, representado pela Teleamazonas, a estratégia eleitoral de Lasso, de se distanciar do questionado Lenín Moreno (apesar de seu apoio ter sido importante).
Como aponta a analista Silvia Araña: “Dado que o governo Moreno devido à catástrofe sanitária da pandemia, o desemprego, a destruição do Estado é considerado o pior governo da história do Equador, o distanciamento criou a percepção de que Lasso é o oposto de Moreno – foi crucial. Ao criar essa percepção em um setor da população, eles conseguiram os votos de que precisavam para superar o candidato Arauz”. Mas nada disto é desculpa, simplesmente não se conseguiu um triunfo que se acreditava certo devido a uma visão de tensões de direita – correísmo e onde creio que o fator indígena que votou majoritariamente a favor o banqueiro ao pedir por votos nulos.
Ademais, não podemos esquecer fatos evidentes e objetivos, com o fato de que o binômio da UNES saiu em desvantagem, foi questionado pelo Conselho Nacional Eleitoral e depois de várias tentativas conseguiram a aprovação final para sua candidatura, em clara provocação e retardando o início da campanha. Soma-se a isso as campanhas sujas, como os vídeos falsos em que supostos integrantes do Exército de Libertação Nacional da Colômbia deram dinheiro para a campanha de Arauz e parte da política regional levada a cabo pelo governo de Iván Duque contra tudo que cheira a progressismo. Esses vídeos, apesar de sua óbvia falsidade, da óbvia montagem da crueza de sua edição, foram amplamente divulgados pela imprensa equatoriana e colombiana.
Um longo dia eleitoral terminou no Equador, uma votação com menos reclamações do que no primeiro turno, temperada pela ideia de construir pontes entre UNES e Lasso. Mas, é uma aparente calma, já que o Equador é uma sociedade abalada por necessidades profundas. Uma crise econômica, social e de saúde, que apesar dessa realidade preferiu votar, 53,7% para aquela que representa justamente a desigualdade, a iniquidade e as diferenças sociais. Uma sociedade, além disso, que em 17% votou nula por conselho expresso de seus líderes indígenas agrupados na chamada confederação de nacionalidades indígenas do Equador (CONAIE) o Movimento Pachakutik e outras organizações que em 20% se abstiveram de participar (apesar da votação obrigatória). Lasso e Arauz falam em implantar plataformas de união, que deverão ser fortes, longas e com enorme capacidade para atender às necessidades de 17 milhões e 500 mil equatorianos.
Um país que, segundo as próprias palavras do presidente eleito: “está em situação complexa, sem liquidez – apenas um saldo de 400 milhões de dólares, que representa 20% do gasto mensal do governo. Um Estado cujo governo gerou uma dívida que chega a 63% do PIB. Atraso no pagamento aos municípios, sistema de seguridade social e com o próprio Banco Central”. Segundo Lasso: “Equador tem uma dívida imensurável”, que deve superar os 80 bilhões de dólares. Um barril de pólvora sobre o qual Lasso sentará nos próximos anos. Não foi uma disputa tradicional que vimos no Equador, um cenário onde o Estado de Direito não operou e menos ainda deu as garantias mínimas para considerar que estávamos frente a uma disputa em igualdade de condições, em matéria de dinheiro, uso abusivo dos meio de comunicação, a intervenção crônica e vil da OEA, de Washington e de todos aqueles poderes que se negaram, permanentemente, a aceitar um caminho que não seja designado por Washington para o nosso continente.
O mês de abril foi de enormes surpresas no plano eleitoral, mas, o que fica evidente é a necessidade de avançar em matérias de satisfação dos direitos políticos, sociais e econômicos da população, não apenas na Bolívia, Equador ou Peru, mas também em outros lugares como é o caso do Chile, que no próximo mês e meio enfrenta um enorme desafio desde o ponto de vista da mudança constitucional, a eleição de autoridades locais e governadores. O norte não pode seguir sendo a mudança, modificação ou retoques dos modelos políticos e econômicos que nos submetem, mas sim uma mudança de sistema, nevrálgica, na essência, e que permita, efetivamente, que conceitos como o de democracia, participação, distribuição da riqueza, equidade, justiça, entre outros, sejam uma realidade.
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Sobre votos, desejos, esperança e realidades. Análise das eleições de 11 de abril na América do Sul - Instituto Humanitas Unisinos - IHU