“Parece ser indisputável, no seio da Economia de Francisco e Clara, a constatação do estado calamitoso de coisas em que se encontram as sociedades humanas, sobretudo em virtude de suas dinâmicas e estruturas produtivas – ou, melhor dizendo, destrutivas. Mais controversas parecem ser as suas alternativas, e sobretudo as maneiras pelas quais seria possível fazer com que ações realizadas em escala local ou regional frutifiquem e espalhem sementes ao seu redor. Sejam quais forem, porém, os caminhos escolhidos e suas estratégias, é inegável que todos eles passam necessariamente pela política, entendida não apenas nos limites estreitos em que a democracia formal a engaiolou – instituições, tribunais, partidos, eleições periódicas –, nem mesmo em seu conhecido sentido etimológico, mas sim em um sentido que engloba a ambos e os transcende: o do cuidado e do exercício daquilo que é comum à convivência social e humana. Nesse sentido, aliás, do cuidado do que é comum, podemos aproximar a política da economia – esta sim, tomada em seu sentido etimológico, de oikos, que a une àquela esfera da qual nosso modelo econômico, num paradoxo filológico, teimosamente se aparta: a ecologia”, escreve Pedro Augusto Pinto, em artigo para a coluna “Rumo a Assis: na direção da Economia de Francisco”.
Pedro Augusto Pinto é jovem inscrito no evento Economia de Francisco, doutorando em Letras Estrangeiras e Tradução pela Universidade de São Paulo - USP e colaborador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo. É mestre em Cultura e Literatura Russa, com estágio de pesquisa no Instituto de Literatura Mundial Górki da Academia Russa de Ciências, pela FFLCH - USP, e bacharel em História pela mesma instituição, com intercâmbio acadêmico na Universidade Estatal de Moscou e na St. Mary's University College.
Em determinadas visões econômicas fechadas e monocromáticas, parece que não têm lugar, por exemplo, os Movimentos Populares que reúnem desempregados, trabalhadores precários e informais e tantos outros que não entram facilmente nos canais já estabelecidos. Na realidade, criam variadas formas de economia popular e de produção comunitária. É necessário pensar a participação social, política e econômica segundo modalidades tais "que incluam os movimentos populares e animem as estruturas de governo locais, nacionais e internacionais com aquela torrente de energia moral que nasce da integração dos excluídos na construção do destino comum" e, por sua vez, se incentive a que "estes movimentos, estas experiências de solidariedade que crescem de baixo, do subsolo do planeta, confluam, sejam mais coordenados, se encontrem". Mas fazê-lo sem trair o seu estilo caraterístico, porque são "semeadores de mudanças, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo, como numa poesia".
Neste sentido, são "poetas sociais" que à sua maneira trabalham, propõem, promovem e libertam. Com eles, será possível um desenvolvimento humano integral, que implica superar "a ideia das políticas sociais concebidas como uma política para os pobres, mas nunca com os pobres, nunca dos pobres, e muito menos inserida num projeto que reúna os povos". Embora incomodem e mesmo se alguns "pensadores" não sabem como classificá-los, é preciso ter a coragem de reconhecer que, sem eles, "a democracia atrofia-se, torna-se um nominalismo, uma formalidade, perde representatividade, vai-se desencarnando porque deixa fora o povo na sua luta diária pela dignidade, na construção de seu destino" (Fratelli Tutti, 169).
Parece ser indisputável, no seio da Economia de Francisco e Clara, a constatação do estado calamitoso de coisas em que se encontram as sociedades humanas, sobretudo em virtude de suas dinâmicas e estruturas produtivas – ou, melhor dizendo, destrutivas. Mais controversas parecem ser as suas alternativas, e sobretudo as maneiras pelas quais seria possível fazer com que ações realizadas em escala local ou regional frutifiquem e espalhem sementes ao seu redor. Sejam quais forem, porém, os caminhos escolhidos e suas estratégias, é inegável que todos eles passam necessariamente pela política, entendida não apenas nos limites estreitos em que a democracia formal a engaiolou – instituições, tribunais, partidos, eleições periódicas –, nem mesmo em seu conhecido sentido etimológico, mas sim em um sentido que engloba a ambos e os transcende: o do cuidado e do exercício daquilo que é comum à convivência social e humana. Nesse sentido, aliás, do cuidado do que é comum, podemos aproximar a política da economia – esta sim, tomada em seu sentido etimológico, de oikos, que a une àquela esfera da qual nosso modelo econômico, num paradoxo filológico, teimosamente se aparta: a ecologia.
Não é preciso perder muito tempo mostrando o quão desastroso é o estado de coisas em que nos encontramos atualmente. Basta procurar os números dos mortos pela pandemia, ou ainda os dados sobre desemprego, extrema pobreza, fome, desmatamento. O próprio papa tem chamado a nossa atenção para estes processos com bastante frequência. Tendo, portanto, este cenário como pressuposto, a reflexão que se segue buscará iluminá-lo com algumas passagens bíblicas, fontes da Doutrina Social da Igreja, e algumas obras literárias e filosóficas. Esse conjunto de referências é útil na medida em que nos ajuda a enxergar os caminhos e desafios para se abandonar, coletivamente, um determinado estado de coisas, em busca de uma nova organização social ainda desconhecida, e por isso mesmo tão incerta quanto desejável.
É o próprio Evangelho quem nos apresenta as dificuldades e perigos de se abandonar uma antiga forma de vida, e também de sociedade, em nome da aceitação da mensagem de Cristo. Haveremos de recordar a cena que antecede a famosa comparação entre o rico e o camelo, do moço de posses que se entristece ao ser exortado por Jesus a vender todos os seus bens, entregar o dinheiro aos pobres e segui-lo, caso quisesse de fato cumprir a vontade de Deus. São Mateus Evangelista nos diz que “o moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso” (Mt 19:22), sendo que poderíamos igualmente traduzir o termo pesaroso, lypoumenos, por “dolorido”: é dolorosa a experiência da mudança, pois onde o ser humano põe o seu tesouro, põe também seu coração (Mt 6:21). Abrir mão de falsos tesouros implica um verdadeiro transplante, um retorno sofrido, mas recompensante, do coração ao que verdadeiramente importa.
Mais próximo do objeto que de fato nos interessa – a implementação de ideais e projetos humanizadores em nossa sociedade desumanizada –, encontramos um exemplo notável também em todo o livro do Êxodo, prefigurando a libertação futuramente operada por Cristo. Lá, os conflitos podem ser vistos não apenas na relutância do faraó e da sociedade egípcia em abrir mão do escravismo a que submeteu o povo hebreu, mas nas próprias dificuldades com que Moisés se deparou ao guiar seu povo para a liberdade, enfrentando, para além da travessia dura, a desconfiança e o desespero de seus próprios irmãos. O texto é exemplar ao explicitar não apenas a relutância dos exploradores em abrir mão de sua exploração, mas também a relutância de muitos explorados em arriscar as migalhas que têm em troca da estrada árdua que leva à autonomia e à libertação.
O caráter dramático das escolhas implicadas pelo seguimento de Cristo é enfatizado com mais força em uma outra passagem do Evangelho, igualmente conhecida, onde Cristo adverte seus apóstolos com as palavras de Miqueias : “Não penseis que vim trazer paz à terra. Não vim trazer paz, mas espada. Com efeito, vim contrapor o homem ao seu pai, a filha à sua mãe e a nora à sua sogra” (Mt 10: 34-35). Tendo sido fonte de inúmeras deturpações e manipulações, tal passagem encontrou um excelente comentário nas palavras do papa Francisco em sua última carta encíclica. Nela, lemos que: […] É importante situá-lo [este excerto] no contexto do capítulo onde está inserido. Aqui vê-se claramente que o tema em questão é o da fidelidade à própria opção, sem ter vergonha, ainda que isso traga contrariedades e mesmo que os entes queridos se oponham a tal opção. Portanto, não convida a procurar conflitos, mas simplesmente a suportar o conflito inevitável, para que o respeito humano não leve a faltar à fidelidade em nome duma suposta paz familiar ou social. João Paulo II disse que a Igreja "não pretende condenar toda e qualquer forma de conflitualidade social. A Igreja sabe bem que, ao longo da história, os conflitos de interesse entre diversos grupos sociais surgem inevitavelmente e que, perante eles, o cristão deve muitas vezes tomar posição decidida e coerentemente".
Vemos, assim, como a mudança, do ponto de vista cristão, é sempre difícil, e não teria por que não o ser também em nosso contexto e para os nossos propósitos. Acreditar que bastem boas intenções para que os faraós libertem o povo, e para que o povo rume à terra prometida, é o mesmo que acreditar em Cristo sem lembrar de Pilatos e Caifás, ou das três negações de Pedro antes mesmo que o galo cantasse. Mas quais seriam, hoje, os faraós e os sumo sacerdotes a serem enfrentados para levar a cabo a libertação econômica, capaz de eliminar a escravidão do lucro, do consumismo, do descarte, da exclusão e da destruição? E, antes, quais seriam os caminhos nos quais se deve insistir apesar de tais obstáculos?
A própria menção à espada que citamos se encontra no contexto do discurso apostólico, onde Cristo envia os seus discípulos para espalhar sua palavra. Estando convencidos de que uma economia centrada no ser humano, e não na sua escravização, é um decorrência inadiável do compromisso evangélico, podemos também estar certos de que o caminho para a sua realização é o mesmo da pregação do Reino dos Céus: o anúncio da justiça e a denúncia da injustiça entre os pobres e marginalizados, entre as vítimas deste mesmo sistema econômico, e entre todas as mulheres e homens de boa vontade. Em outras palavras, a ida às periferias existenciais e o envolvimento com o cheiro das ovelhas, o mesmo caminho apontado pelo pontífice em sua exortação Evangelii Gaudium. Para tanto, evidentemente, não basta a vontade: é preciso saber onde estão estas pessoas, fazer-se próximo delas, ouvi-las e partilhar de sua experiência. Assim, na partilha, poderemos também levar o que temos a oferecer, o conhecimento e as ideias que elaboramos e discutimos ao longo dos encontros da Economia de Francisco, e que certamente continuaremos a discutir e elaborar.
Aqui, porém, como de resto em toda a nossa sociedade, havemos de nos deparar com um dos principais problemas de nosso tempo: o individualismo. Não é de hoje que o papa vem o denunciando. Se retomarmos as ideias do filósofo alemão Friedrich Schelling, em suas “Investigações filosóficas sobre a essência da liberdade humana”, veremos que o seu princípio, de sobreposição da parte – indivíduo – ao todo – coletividade humana, da qual ele mesmo faz parte –, está na essência do conceito de mal. Diante de seu profundo enraizamento, superá-lo será decerto uma das tarefas mais árduas para o projeto de transformação sistêmica convocado por Francisco, pois exclui por definição qualquer ideia de bem comum, a ser buscado e partilhado por toda a coletividade humana. Ademais, para além de sua promoção escancaradamente interessada e ideológica, é de se supor que também exerça em larga medida algumas funções compensatórias pelas misérias e frustrações cotidianamente impostas pelo sistema econômico: amargando fracassos, humilhações, esperas, e sendo permanentemente responsabilizados pelo nosso próprio sofrimento, vemo-nos recompensados ao nos parabenizarmos por nossos próprios sucessos – ou ao nos consolarmos com a esperança de que um dia eles venham, responsabilizando-nos de qualquer modo por tudo o que nos acontece.
Também podemos pensar nos lugares e organizações onde já há uma predisposição para a mudança e o engajamento: pensemos nos sindicatos, partidos, movimentos sociais, pastorais, coletivos, organizações não governamentais, etc. Atuando a partir deles, os desafios parecem ser outros: por um lado, urge o rejuvenescimento de estruturas às vezes esclerosadas, e por outro, pelo contrário, impõe-se a solidificação de agrupamentos excessivamente instáveis, sendo que diante de ambos se encontra a tarefa de falar para fora de si mesmos, de dialogar com quem a princípio não pensa de maneira igual. Este último aspecto diz respeito diretamente às reflexões da Evangelii Gaudium que já apontamos, enquanto os dois primeiros muitas vezes se remetem ao mesmo problema do individualismo que acabamos de mencionar, assumindo a forma de disputas de ego e de poder que se colocam à frente dos ideais de justiça a que supostamente deveriam servir. Não raro, estas disputas surgem da incompreensão de velhas lideranças diante do conhecimento renovado que hoje temos sobre as estruturas de pecado, sobretudo sobre suas feições raciais, sexuais e de gênero; às vezes, todavia, estas se tornam pretextos para escaramuças mesquinhas, travestidas de grandes gestos morais, rifando a solidariedade em nome da competição pelo posto de mais humilhado, com o único fim de se tornar o mais exaltado.
Embora, por razões óbvias, tais ambientes mereçam destaque, é importante sublinhar que tal destaque se justifica apenas pelo papel histórico que tais agrupamentos tiveram e ainda têm nas transformações e disputas políticas. Considerando a grande imprevisibilidade da história, e a absolutamente total incapacidade de um observador ter diante de si todas as variáveis em jogo nas dinâmicas sociais, certamente há muitos outros tipos de grupos e organizações que, hoje, trazem o germe do efetivo florescimento de uma Economia verdadeiramente humana. Penso, de passagem, nos centros culturais periféricos, cursinhos populares e cooperativas que vêm pululando pelo Brasil afora nos últimos anos, e que certamente trazem um imenso potencial de transformação, bem como seus desafios e dilemas próprios. Há pessoas muito mais capacitadas para falar a seu respeito, e deixo a cargo de quem possa fazê-lo com conhecimento de causa. Para terminar, gostaria apenas de comentar acerca de dois espaços que conheço um pouco melhor, e que também se mostraram em nossa história como potenciais geradores de mudança, ainda que esta não seja, como nos espaços mencionados mais acima, a sua principal razão de ser. Me refiro à universidade e à paróquia, que dizem diretamente respeito ao evento que dá azo a esta coluna.
A primeira, a meu ver, pode ser brilhantemente descrita com as palavras ditas pelo líder do movimento “Entregadores antifascistas”, Paulo Galo, quando se referia à esquerda brasileira como uma cabeça brilhante com um corpo doente. Excetuando as franjas lunáticas de nossa sociedade, não se pode questionar o talento e a capacidade das mentes que hoje ocupam as principais universidades de nosso país. Tanto brilho, porém, andou por tempo demais restrito em um esplêndido isolamento, como a lâmpada acesa sob o alqueire. Um período razoável de vacas gordas gerou uma academia tão conformista na prática quanto crítica na teoria, dedicada a seus objetos de pesquisa mas descuidada da extensão e do contato com a maior parte da população. Uma tarefa imediata para a Economia de Francisco, dada a forte presença de acadêmicos entre os seus participantes, é não só transpor esse fosso como fazer com que ele seja transposto por todo o Brasil, o que pode ser feito com a criação de grupos de atuação internos às universidades, e também através das redes formadas ao longo deste ano.
Por fim, quanto à paróquia – dado se tratar de um evento convocado pelo Vaticano –, seu histórico potencial de transformação social é hoje equiparável à quantidade de desafios que enfrenta para poder voltar a ser um espaço significativo de atuação social. É importante notar, em primeiro lugar, que já não tem mais entre nós o peso e a penetração que teve antes, de modo que o diálogo ecumênico, sobretudo com os cristãos de denominações evangélicas, é cada vez mais uma necessidade. Em seu contexto específico, porém, para nem ao menos mencionar a quantidade enorme de católicos indiferentes, contentes em não fazer o mal que não querem, mas descuidados do bem que querem, há que se mencionar dois problemas já listados por Francisco em sua exortação Gaudete et Exsultate, o neognosticismo e o neopelagianismo, para além de um outrora enfrentado por Bento XV, o integrismo.
Por neopelagianismo, temos uma versão cristianizada do individualismo, que já comentamos: cada um se salva a si mesmo, sem a graça de Deus, de modo que nos cremos senhores de nossas vidas – e não parte de um todo maior, como tanto tem insistido Francisco. Já por neognosticismo, Bergoglio entende a separação absoluta entre alma e corpo, de modo que o evangelho se restringiria apenas à primeira. Disso decorreria um total descompromisso do cristão com o mundo em que vive, cabendo apenas cuidar da salvação da alma, e não da integralidade da vida humana. Curiosamente, tal equívoco hoje se presta à crítica daquilo que tanta preocupação causou a Pio XI, nos tempos sombrios da Alemanha nazista: o direito da Igreja, e da comunidade católica, à uma participação efetiva na vida social, direito hoje atacado, pasmem, por amplos setores católicos. Por fim, no integrismo, temos a crença aparentemente razoável, porém falsa, de que todos os ensinamentos e documentos da Igreja, da Bíblia ao mais ínfimo papelote, teriam um peso doutrinário idêntico, de modo que o catolicismo seria um imenso bloco de granito, avesso a qualquer divergência interna ou a transformações ao longo da história. Se é desnecessário refutar semelhante posição – de resto, uma versão católica do fundamentalismo –, é importante frisar seu uso retórico e manipulador: destacam-se os ensinamentos que interessam aos seus defensores, que os alçam à condição inquestionável de dogma, e por fim se acusa quem deles discordar de não ser católico, de heresia, de apostasia ou do que quer que seja. É digo de nota que, apesar de tal intransigência, tais grupos não deem a mínima atenção ao já bem estabelecido corpo da doutrina social da Igreja, com o que o integrismo parece se confundir com o já mencionado neognosticismo.
Se considerarmos este como uma separação entre a vida individual e a coletividade humana, em que interagimos e, a rigor, somos, podemos concluir dizendo que o individualismo é o principal desafio a ser superado para a efetiva transformação de nossa sociedade e estrutura econômica em moldes mais justos, solidários e cristãos. Não seria exagero: é igualmente possível dizer que o individualismo se encontra na raiz da destruição e da morte que nossa economia produz. Isolados em nossas escolhas, e cegos para tudo o que transcende a nossa própria existência, não enxergamos os impactos que nossas ações geram sobre outras pessoas, sejam coisas simples, como a reciclagem de lixo, ou o investimento de bilhões em uma mineradora que não cuida de suas barragens, ou a pequena economia gerada com a ausência de inspeção de sua segurança. Afinal, que diferença faz? Não fôssemos nós, seria outro em nosso lugar, ou então estamos apenas a cumprir ordens, ou então ou mundo sempre foi assim, ou então não podemos fazer nada. E assim, milhares de soldados e funcionários anônimos levaram ao extermínio milhões de judeus, ciganos, homossexuais, padres, comunistas, sem assumir sobre si a mais ínfima responsabilidade sobre seus gestos, pois eram apenas indivíduos, sem controle sobre o sistema que os governava.
Paradoxalmente, um dos mais perversos aspectos do individualismo é a capacidade de nos tirar toda e qualquer responsabilidade sobre o mundo a nossa volta, como, ainda antes de Hannah Arendt, Dostoiévski já alertava em seus romances Os demônios e Os irmãos Karamázov.